Na mesma sessão do Tribunal Superior Eleitoral, hoje, reconheceu-se que a divulgação de mentiras (palavra já há muito existente e mais forte de a tal “fake news” e a recente “narrativa” para designar a mesma coisa) às vésperas da eleição pode ser motivo para cassar um deputado estadual, mas não uma chapa de presidente e vice-presidente da República.
Foi o que aconteceu com a perda de mandato decretada para o deputado estadual Fernando Franceschini por ter disseminado um vídeo sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas, em tudo semelhante aos que, dois meses atrás, o próprio Jair Bolsonaro apresentava ao país.
É óbvio que o fato de estarmos já nos aproximando do quarto final do mandato presidencial é algo que, sob todos os aspectos, desestimula uma decisão traumática como a da cassação por fraudes de campanha, até porque elas são muito maiores e graves no governo e nem por isso abriu-se um processo de impedimento político, legal e legítimo.
Mas a leniência do Tribunal com os delitos que ele próprio reconhece terem sido praticados, ainda que ameaçando que “na próxima, não vai ter perdão”, tem resultado zero para seu papel de coibir o comportamento dos facínoras político-digitais que montaram – como indicam todos os inquéritos deste e de outros casos – uma rede profissional de mentiras e difamações que tem o centro de comando na própria família presidencial.
Bolsonaro, presidente, mereceu uma “atenuante de tamanho” a que o deputado paranaense não teve direito, perdendo seu mandato, ou quase, porque haverá recurso, certamente, ao STF.
Talvez a maior razão seja mesmo o fato de que o Judiciário sabe de uma verdade que não pode ser dita: que foi ele, em todas as suas estruturas, quem patrocinou a maior das “fake news” de 2018, ao dar validade, em todas as instâncias, à montem originada na Lava Jato, que impediu a participação de quem era o favorito para as eleições e teve de assisti-las da cadeia, isolado e silenciado.
Perto do efeito que isso teve, tem de ser reconhecido que as outras mentiras, nas redes, foram café pequeno.
A culpa no cartório da Justiça ajudou a inocentar Bolsonaro no tribunal.