Tucanos fizeram SP regredir 50 anos em abastecimento de água

Não tenho números de hoje, ou de ontem, porque a Sabesp tirou do seu site as medições diárias do nível dos reservatórios do Sistema Cantareira (não é um problema do site, os outros reservatórios continuam sendo atualizados). Mas, com cálculos bem simples e muito aproximados, é possível mostrar que nem com sorte os problemas de água de São Paulo, ao contrário do que diz seu governador, vão acabar com um verão chuvoso.

Numa hipótese muito  otimista, o Sistema que abastece a nossa maior metrópole chegará à estação seca de 2015 com um  armazenamento de 200 bilhões de litros menor do que chegou ao dia 1° de maio deste ano, quando não era utilizada ainda a água do volume morto.

Segunda-feira, provavelmente, os números aparecerão maquiados por uma “segunda cota” do volume morto, um espécie de “rapa do tacho” que falta para transformar o imenso sistema de reservatórios num Saara.

Mas trabalhemos com o número que se tem (ou tinha) oficialmente.

São Paulo tem, hoje, cerca de 34 bilhões de litros de água ainda em condições de serem bombeados. Ou 28 bilhões, se a Sabesp “devolver” os seis bilhões de litros que acrescentou com a fraude descoberta na medição. À razão atual de consumo, chega-se ao fim do mês.

Teremos então, em tese, o período chuvoso.

Neste período, de 2013 para 2014, o sistema teve uma entrada de água média de 15m³ por segundo, ou 38,8 bilhões de litros por mês. No semestre, 200 bilhões de litros, em números redondos.

São Paulo chegou ao início de abril  do ano passado com 127 bilhões de litros acumulados.

Como no dia 1° de novembro terá menos 182 bilhões de litros (nível zero menos os 182 bilhões do volume morto), se entrar o dobro de água que entrou em 2013/2014, receberá 400 bilhões de litros de água através dos rios.

Se, mesmo durante o verão e o calor, o consumo for mantido tal como está, caótico, vão se gastar em seis meses, 52 bilhões de litros mensais (com a mesma retirada atual, de 20 m³/s, muito menos do que os 32 m²/s que se tirava no verão passado), ou 310 bilhões de litros.

Não é preciso ser um gênio matemático para ver que, entrando 400 bilhões e saindo 310 bilhões, fica um saldo de 90 bilhões, ou seja, apenas metade do volume morto de 182 bilhões de litros.

Ou seja,  de 127 bilhões que tinha, terá menos 90 bilhões de litros, considerado o nível normal como zero.

Você pode simular situações mais otimistas. Digamos que chova o triplo e os rios levem o triplo de água do que levaram: seriam 600 bilhões de litros. Menos os 310 consumidos – repito, neste regime caótico  de falta de água que o paulistano tem hoje – e os 182 bilhões que é necessário repor ao “volume morto”, sobram 110 bilhões de litros, menos do que havia este ano.

Isso, insisto, com o triplo de afluência.

A região metropolitana de São Paulo terá, depois de chuva generosas , a mesma capacidade de água que tinha há 50 anos, quando se fizeram as obras do Sistema Cantareira. Ou ainda menos.

A mesma água e uma população três vezes maior, quase.

Esta é a situação de São Paulo, sem proselitismo, sem fabulação, apenas com os dados numéricos disponíveis a qualquer um.

Nem mesmo com “torcida” política, porque até o dia das eleições a água dá, mal e mal, faltando para muita gente, inclusive para meu filho que vive em Sampa.

Ninguém está escondendo que a seca, ente ano, foi grave, gravíssima. Do início do ano até agora, na maioria das áreas do Sudeste, choveu 700 milímetros, pouco menos da metade do que choveu no ano passado. A média anual costuma ficar, nestes dez meses, perto de 1500 milímetros.

Mas o governo de São Paulo tem de responder porque não se amplia este sistema desde o final dos anos 70, porque há 20 anos, pelo menos, sabe-se que é insuficiente. Nem mesmo pequenas obras de reservação ao longo dos afluentes, que poderiam acumular água nos momentos de grandes chuvas, foram feitas.

Os tucanos, em matéria de água, foram responsáveis por fazer São Paulo regredir 50 anos.

Ps. Hoje à tarde deve chover na região que abastece o Cantareira, finalmente. Mas segundo os meteorologistas, serão chuvas fracas, que não devem aumentar significativamente o fluxo dos rios. Nada muda, com elas.

 

Fernando Brito:

View Comments (16)

  • A situação será ainda pior que o seu relato, Fernando. Quanto mais baixo o nível dos reservatórios menor a afluência. Ou seja, para entrar no sistema o triplo de água que entrou em 13/14, sua previsão super otimista, terá de chover umas 5 a6 vezesmais que em 2013/2014. No inverno de 2015 teremos uma tragédia da água, muito provavelmente.

  • Vamos ser pessimista vamos supor que chova os mesmos 200 bolhões ou menos 150 bilhões, e aí, o que será de São Paulo? Um bom governador tem de trabalhar com a pior das hipóteses, com o pior dos cenários para proteger a população. O PSDB já fez merda em não investir nisso ao longo de duas décadas e fez mais merda ainda em não admitir a gravaidade do problema a população e não ter feito um racionamento ainda maior. São Paulo corre rsco de ficar sem água nenhuma caso chova pouco, será o colapso do grande Estado, Sampa está de joelhos diante de São Pedro, rezando para que chova, eu acredito que não vai chover (vai chover pouco) por causa da lei do retorno, tantas irresponsabilidades so se paga dessa forma, o governador vindo a público e dizendo a água acobou, fujam.

  • Hoje tem debate na record, é bom a presidenta está preparada para dar uma resposta sucinta no final do debate e lembrar que está ao vivo, espero que seus acesssores não a deixem sozinha. Vamos debater proposta mas procurar irritar o Aécio, que tal perguntar sobre suas propostas no combate ao uso e tráfico de drogas, sobre como deve ser tratado os usuário, ele ficaria puto da vida.

  • Viva as águas São Pedro
    Que chova quando você quiser
    Viva a vida São Pedro
    Que odeia privatistas
    Viva a vida São Pedro
    Que e' aquele a quem deus confiou...

    • Sempre deus amou Pedro, porque ?
      Porque deus e' deus e estará com aqueles
      que amou os pobres o resto.......

        • Teve um tempo em que acreditar em Cristo,não era moda........... significava correr risco de vida, aqueles que esperavam o messias não o reconheceram como um príncipe da paz , porquê ? Esperavam um robocop...
          Que diferença faz hoje ? 2000 mil anos apos,quem está com deus ?
          Em minha modesta opinião está com deus,quem ama o seu próximo....

  • forma tucana de planejamento. olha o resultado,e não vem culpar a natureza

  • E o aquífero guarani secou também? O aquífero guarani passa por baixo do estado de São Paulo também. Não seria viável perfurar o solo para retirar água?

    • Em quantidade não se faz em alguns meses.
      Não basta tirar tem que transportar para tratamento.
      Obra de pelo menos três anos.

    • Além disso o Guarani nas cercanias de São Paulo não é tão abundante.
      E mesmo o Guarani para ser explorado precisa de estudos de viabilidade para que não se esgote também.

  • Estamos falando da água para este final de ano.
    E no ano que vem, como vai ser?
    No início do período de seca, o Sistema Cantareira contava com 38% da capacidade e o volume morto estava intocado; ou seja eram os 38% de reserva útil mais o volume morto que esta abaixo do ponto de captação.
    A irresponsabilidade deste governador pela sua ambição para se reeleger, provavelmente sair candidato a presidente nas eleições daqui a quatro anos não tem paralelo na história dos nossos governos, federal ou estaduais.
    No início do período de seca as previsões já eram de um período chuvoso com precipitação menor do que a média.
    Nada fez, nenhuma medida nem o racionamento proposto foi adotado.
    E agora Geraldo?
    As primeiras águas não ficarão na superfície, serão absorvidas pelo solo esturricado exposto ao sol por meses.
    Para chegarmos ao final do próximo ano na mesma situação que estamos hoje deveríamos ter 38% da capacidade no final de março próximo.
    Para atingir os 38% deveria chover o equivalente a mais 18,5% que é o volume morto utilizado mais a água necessária para saturar o solo permitindo que fique na superfície para que possa ser captada.

    Geraldo, codinome Barão de Pindamonhagaba passa ter mais uma alcunha.
    Sai o Geraldo Gerente Incompetente, também pode ser Geraldo Irresponsável.

    E dessa vez estará no Palácio, será alvo de críticas e vai ter que responder por elas.
    Crime de Responsabilidade é o primeiro.
    E não vai poder imputar culpa a governos anteriores.
    Em janeiro começa seu quarto mandato como governador deste infeliz estado, majoritariamente composto por eleotários.

  • Moro na zona norte, próximo ao horto florestal e, até agora não caiu um pingo de chuva. Vamos esperar que a previsão se confirme e que chova muuuuuuuuito, para o nosso bem, porque esperar algo desse (des)governo, estamos perdidos.

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