Tucanos perdem o jogo mesmo sem Dilma ainda em campo

Quem fizer uma leitura objetiva dos jornais e trabalhar com os fatos em lugar de  impressionar-se apenas com o clima criado pela mídia verá que, desde o dia da eleição, os tucanos colecionaram  um invejável rosário de derrotas políticas, apenas toscamente amenizadas pela mídia.

Porque vencer, na política, é possuir mais do que se possuía antes.

Aos fatos, pela ordem.

A esdrúxula tentativa de questionamento da apuração das eleições – embora a mídia tente amenizar, dizendo que o TSE “liberou” ao PSDB os dados que já eram públicos – virou um rotundo e ridículo fracasso, que não apenas serviu para, discretamente, Geraldo Alckmin, sinalizar que está disposto a liderar uma ala própria do tucanato, mas para marcar como antidemocrática e golpista o próprio núcleo do comando aecista.

Marca que ficou mais acentuada com a histérica manifestação pró-ditadura promovida em São Paulo, que colou aos tucanos uma face radical e autoritária que, para além da histeria e do ressentimento de uns poucos, também reduz à insânia a argumentação que se usa contra o PT, de “bolivarianista” e “pretendente à ditadura”.

Houve também a tal “PEC da Bengala” e o bolivarianismo de Gilmar Mendes, tão escandaloso que Elio Gaspari, insuspeito de qualquer simpatia ao Governo, o desanca hoje em seu artigo. O clima no Supremo, hoje, é daqueles que, se não ficasse impróprio para ministros de toga, seria propício a bengaladas em Mendes.

E a transformação de Eduardo Cunha em símbolo da mais truculenta oposição parlamentar ao novo governo, acaso não é uma vitória?

Será? Recordem-se que o PMDB tem sete governadores e dezenas de novos deputados que dificilmente estarão dispostos a iniciar seus mandatos querendo cortar todas as pontes com o Planalto, do qual dependem – e muito – para corresponder minimamente à expectativa de seus eleitores.

E que Dilma e sua base têm três meses para um paciente trabalho de mapeamento das fraquezas do “exército de oposição” ( aquele do qual Aécio proclamou-se ontem “general”) e erodi-lo. Aliás, conhecendo como conheço um pouco a natureza dos parlamentares brasileiros, três meses para que muitos deles se apresentem dispostos a desertar.

E, ainda, para a articulação e empoderamento de alianças parlamentares como a sugerida ontem à Presidente pelo Governador Cid Gomes, do Ceará, e que já se tem reflexos no parlamento, um deles a formação de um bloco entre o PROS e o PDT, talvez com a presença do PCdoB,  que “segure” as defecções destes partidos no varejo das votações.

Resta, então, objetivamente, um terreno particularmente difícil, exatamente aquele que faz os fatos serem percebidos sem objetividade, seja na política, seja na economia, seja na própria ação de governo.

A comunicação, da qual depende a percepção do mundo real, embora este seja sua fonte primária.

É claríssimo que o projeto nacional, desenvolvimentista e popular  não sobreviverá sem ela, seja porque o tempo progressivamente reduz a força da memória do que foi o neoliberalismo aqui, seja porque a falta crônica de combate político foi permitindo que uma parcela da sociedade (especialmente a mais jovem) passassem a ter referencial único numa “moral”  político-administrativa seletivamente apontada e dimensionada pela mídia.

É que, desde séculos, “moral” tem a ver com o que se exibe publicamente e com quem exibe e quem é exibido. E quando e com que intenções, claro.

Vejam como a demissão deste Paulo Roberto Costa poderia ter sido colocada na conta da tal “faxina” que Dilma promoveu sob aplausos da mídia – porque esta sabia da corrosão parlamentar que isso provocava – e foi, no momento eleitoral, transformada – até criminosamente, como fez a Veja –  em “culpa”  da Presidente que o demitiu.

Esta é a área do governo que precisa somar ousadia e um projeto que leve em conta, essencialmente, dois fatores:

A incapacidade de setores da mídia empresarial para um convívio democrático gerido pela ética e pela pluralidade político-ideológica e, cada vez mais, o advento da comunicação via rede, que já nem pode ser chamada de internet, apenas, porque se expressa de forma cada vez mais múltipla e ingovernável.

O projeto que este governo representa, repito, não sobreviveria se não estivesse disposto a enfrentar  o patíbulo da mídia.

Mas está.

E com uma vantagem que o comportamento da imprensa lhe dá.

Há tão pouco a perder nesta área que, como disse ao início, ter mais do que se tem, hoje, conduz à vitória política.

Fernando Brito:

View Comments (42)

  • Mesmo porque a mídia entrou numa arapuca. Se o governo fizer alterações em publicidade alegando economia ou outra destinação, a imprensa não fara outra coisa como a unica que sabe, falar mal.

  • Eu acredito, e muitos outros também, que Aécio não teve votos que possa chamar de seus. E se os teve, foram poucos. O grosso da votação nesse candidato veio dos insatisfeitos com o PT, principalmente dos mais radicais. Aécio não pode entrar no parlamento dando uma de machão, como acaba de fazê-lo, dizendo que possui um exército. Exército, nada! Só uma pequena legião completamente desnorteada depois da derrota.

    • Ele tem o exercito dos excluídos pelo povo, que quanto mais prejudicar os projetos do governo que beneficie o povo, mais excluídos serão nas próximas eleições.

    • pOh! Ter Aécio Neves como líder, comandante, chefe supremo? Sei não, deve ser falta de miolo!

  • Oieee a todos!Fernando, já mandei minha contribuição, mesmo sem ter participado do blog. Não foram as eleições que me deixaram doente, mas agravaram, em muito, a situação. Cada vez que acesso um blog ou simplesmente abro meu e-mail, a imunidade cai. Estou terminantemente proibida de entrar em blogs.Passo mal e choro feito criança, mas é resultado da doença. Preciso me fortalecer, primeiro, pra depois voltar. Enquanto isso, O QUE FAREMOS? Pra onde foram as denúncias contra aécio, psdb? Quando vamos mandar fora este Mendes? Quando pararemos esse pig, essa mídia nojenta? QUANDO?
    Abraços a todos.

  • Não tenho nenhuma simpatia pelo jeito Alckmin de governar, mas creio que ele será o chefe do tucanato depois das aparições e movimentos desastrados de Aécio e seus aliados desvairados como Aloysio, Fhc e José Aníbal.

    O Aécio parece estar enlouquecido, furioso e com uma agitação estranha para um parlamentar experiente (?). Fúria e política geralmente não terminam em bons resultados para quem se atreve a esta mistura.

    O coronelzinho das Minas vai secar como o cantareira e não podemos esquecer do Serra que não engoliu e não engolirá seu desafeto. Quem tiver estômago, pode rever o fúnebre pronunciamento após a derrota em BH, quando cercado de gente "qualificada" como ACM Neto et caterva, Aécio se negou a receber o abraço de Serra quando se retirava do púlpito armado após uma das mais patéticas declarações de candidatos derrotados da história.

    Em breve , plumas tucanas iniciarão a selvagem autofagia e aécio, sabendo do destino que o espera , pateticamente busca conte-lo !

  • Eu quero fim do dinheiro para a Midia, que paguem seus impostos, e larguem mão de ficar fazendo minha criança minha vida, para lavar dinheio do imposto.
    Falei certo?
    Senão, digam que não..
    E não podemos esquecer de nada.
    Aeroporto, helicoptero, policial, 7,6 milhoes da saude de Minas, e outros, não quero ser da direita que é enganada pelos seus...
    Quero todo mundo preso, não quero pedra sobre pedra, quero o fim da VEJA.
    Eu não esqueço, e não tenho porque fazer amizadinha..
    Ninguem rouba meu BRASIL..e fica solto..
    No Mais DILMA sempre..

  • E a tal da auditoria das urnas concedida ao PSDB? Alguém tem notícia?
    Um companheiro me passou, inbox, que o PSDB já a teria feito e se deu por contente e que, inclusive, a totalização aumentou a vantagem da Dilma em cerca de 1000000 de votos.
    Alguém aí me informa?

  • Meus amigos, que país é esse, um jogador de futebol é indiciado por dar de presente uma moto a um traficante, e ao mesmo tempo um helicóptero com 450 kg de cocaína é esquecido pelo MP e pela mídia. Absurdo!

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