Um juiz precisa comprar ternos em Miami, Excelência?


O texto abaixo foi escrito no dia 11 de outubro.

Não o publiquei porque, pensando bem, não quis fazer da atitude – que supus isolada –  de um juiz algo genérico e desmerecedor de uma categoria profissional essencial para a sociedade.

Mas hoje, diante do vídeo publicado no Diário do Centro do Mundo, onde o presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, defende o “auxílio-moradia” como uma burla “legítima” para aumentar os vencimentos dos magistrados (e, de quebra, um aumento imune a imposto, porque verba de natureza indenizatória), resolvi fazê-lo.

É inadmissível que um juiz, um desembargador, defenda um expediente ilegal, um arranjo obscuro, uma maracutaia para beneficiar a si mesmo.

E que use um “não dá para ir toda hora a Miami comprar terno” como explicação para a “penúria” em que vivem Suas Excelências.

É demais.

O “escravo” de R$ 30 mil por mês e a pobreza mental de nossa elite

É direito de cada uma e de qualquer pessoa desejar ganhar muito dinheiro, por meios lícitos e sem que isso prejudique a coletividade.

Mas é também dever de qualquer um que se dedique ao serviço público entender que sua remuneração provêm do povo e que, portanto, recai sobre ele o dever de comedimento em suas ambições, por mais que as considere justas.

A reportagem de hoje, no jornal O Dia, do Rio de Janeiro, porém, retrata a insensibilidade que tomou conta da parcela menos sacrificada do funcionalismo: o Poder Judiciário.

Não falo de seus servidores, a maioria remunerada modestamente.

Mas dos juízes que recebem hoje, segundo a tabela do Conselho Nacional de Justiça, mais de R$ 25 mil, além dos R$ 4,3 mil de “auxílio-moradia”.

Quase R$ 30 mil por mês, portanto.

Pois um deles, despachou, em um processo, que estava sustando sua tramitação por falta de um juiz-substituto que dele cuidasse e que se o analisasse estaria fazendo “trabalho escravo”, tudo porque não foi estendida aos magistrados uma gratificação que o Ministério Público paga aos seus integrantes que acumulam varas: mais R$ 5 mil.

Não discuto mérito nem valores pagos aos magistrados – mas a necessária ponderação de seus atos.

Mesmo tratando dos juízes federais – que não estão nas farras remuneratórias que marcam muitos judiciários estaduais e que a gente volta e meia vê nos jornais – uma remuneração total na faixa de 12 mil dólares mensais, ou US$ 150 mil anuais, sem contar 13° salário – está na mesma faixa dos juízes de Nova York, segundo matéria do NYTimes.

Para que não fiquem palavras ao vento, no final do post coloco o resultado de uma pesquisa de remuneração de magistrados norte-americanos e uma das páginas, sem os nomes, com os vencimentos recebidos por desembargadores e juízes do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Quando um juiz coloca sua reivindicação salarial nos autos de um processo e por elas decide sua sustação está desmerecendo a isenção de seu proceder, onde nada deve haver que não seja o próprio mérito da causa que julga.

Um  juiz federal ganha aproximadamente o mesmo de um parlamentar, de um Ministro de Estado ou do Presidente da República.

Por mais capacidade que todos reconheçamos nos juízes, é preciso que eles se entendam como servidores públicos e que, no serviço público, não é compatível ganhar o que se ganha nos pomposos escritórios de advocacia e consultoria empresarial.

A elite do funcionalismo público procura na elite capitalista e não no povo a que serve seus padrões de referência e, então, pratica estes desatinos.

Agir desta forma é se expor, perante a população, à pecha de indiferentes à realidade social, onde um professor muitas vezes não ganha sequer R$ 1,5 mil.

A elite do funcionalismo público, que tem suas posições conquistadas por saber do qual não se duvida, tem que ser mais lúcida que a elite econômica à qual tantas vezes se alinha em opinião e entender que este é um país carente, arrochado por um brutal garrote financeiro e  que os recursos que faltam ao Judiciário mais ainda faltam à saúde, à educação, à assistência social…

Decoro não é uma palavra vazia ou comportamento formal.

É uma atitude moral, a que todos na vida pública e, ainda que fora dela, mas na política, estamos obrigados.

Aliás, decoro é, pela Lei Orgânica da Magistratura, dever legal para o exercício do cargos.

Mas talvez tenham se esquecido.

Fernando Brito:

View Comments (50)

  • É uma casta que quanto mais aparece mais se desmoraliza.
    Quanto ao "Por mais capacidade que todos reconheçamos nos juízes", como figura de retórica é aceitável, como ironia, é fina.

  • Quem não corre o risco de ficar pobre não tem o direito de ficar rico. Essa é a diferença fundamental entre advogados e Juízes.

  • Vocês acham mesmo, que pessoas com esse pensamento, ficarão ao lado de quem? da elite ou do povo?

  • Este senhor deveria deixar seu cargo, coberto de vergonha.
    Vergonha que ele não tem.
    Um juiz, a pessoa que a sociedade pelos meios que dispõe, define como aquele que deve zelar a aplicar a lei se presta a propor ilegalidades.
    Uma vergonha!

    • Mas você acha que ele ao menos se cor ao falar disso? Vergonha? Ele não conece essa palavra.

    • Não demora muito e estarão propondo auxílio IPTU, auxílio IPVA, auxílio-cobertura para IRRF e outros que Vossas Excelências possam usurpar da viúva.

    • Viajar a Miami para comprar terno ahahahaha
      Coxinha consumado.
      Não devemos nos surpreender quando encontramos no meio um joaquim, um gilmar e cia ltda.

      • O juiz é o único servidor público, que quando comete um crime absurdo no exercício da função, é "promovido". Ele sai com salário integral, podendo advogar, assessorar e outras cocitas mais...
        Um aviso a esses srs: é melhor uma reforma nos termos democráticos, do que aquelas temperada com o a ira do povo.
        Aqui No meu Estado, o comentário é que juiz e promotores que respondem por mais de uma comarca, estão recebendo na faixa de 44 mil, sem pagar imposto de renda pelo excedente, E a semana trabalhada é conhecida como t,q,q.ou seja, trabalha-se terça, quarta e quinta.
        Do ponto de vista ético, um grande "exemplo"!!!

  • Ridículo o argumento desse magistrado uma tremenda falta de proporção...

  • Cinismo em estado puro. Cara de pau. E nem sabe pronunciar a palavra subsído corretamente. No começo a gente acha que ele está brincando. Mas está falando sério!

  • PSDB tramou golpe contra Dilma pelo WhatsApp, revela Estadão
    O jornal Estado de S. Paulo, edição desta sexta-feira (31), revela que o PSDB nacional tramou o golpe contra a reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT) através de bate-papo via WhatsApp, aplicativo de mensagens instantâneas.

    Segundo o Estadão, a trama foi capitaneada pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), coordenador jurídico da campanha derrotada de Aécio Neves (PSDB-MG), que coletou “contribuições” à representação protocolada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

    Ao pedir “auditoria especial” na votação de domingo (26), o documento tucano questiona a legitimidade da reeleição de Dilma e do próprio TSE que proclamou o resultado após Aécio reconhecer de público a derrota.

    A tentativa de o PSDB realizar um 3º turno da eleição presidencial arrancou uma declaração irônica do presidente nacional do PT, Rui Falcão: “O PSDB está parecendo time que perde e, depois, põe a culpa no juiz”, afirma Falcão.

    De acordo com o Estadão, o próprio Aécio deu aval para a deflagração do plano golpista.

    O modus operandi do PSDB é o mesmo da direita venezuelana, que mesmo perdendo a eleição sempre investe contra o resultado das urnas.

  • Corregedor do TSE afirma: “Não vamos deixar jogar por terra a imagem da Justiça Eleitoral”
    O corregedor-geral eleitoral, João Otávio de Noronha, disse nesta sexta-feira (31) considerar “muito negativo” para o processo eleitoral e a imagem do Brasil o pedido do PSDB para que seja realizada uma auditoria no resultado da eleição presidencial.

    Responsável por fiscalizar a regularidade dos serviços eleitorais em todo o país, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) defendeu o sistema de apuração dos votos e destacou que os candidatos precisam “saber ganhar e perder”.

    “Isso é muito negativo para a imagem do processo eleitoral do Brasil. As pessoas têm que saber ganhar e perder. O sistema é seguro, é verificado, checado, auditado. Esse pedido causa uma imagem muito ruim para o país. Acredito que a cúpula do partido não foi consultada”, afirmou.

    O pedido de auditoria foi apresentado pelo deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP), coordenador jurídico da campanha do candidato derrotado à Presidência Aécio Neves. Na peça jurídica, o partido sugere a criação de uma comissão com representantes do tribunal e de partidos para verificar o sistema que apura e faz a contagem dos votos. O tucano argumenta que a confiabilidade da apuração e a infalibilidade da urna eletrônica têm sido questionadas nas redes sociais.

    Para viabilizar os trabalhos da comissão que pretende ver criada, o partido requer acesso às cópias dos boletins de urna de todas as sessões eleitorais do país, dos arquivos eletrônicos que compõem a memória de resultados, de cópia eletrônica dos logs originais e completos das urnas eletrônicas, dos arquivos eletrônicos contendo logs detalhados, originais e completos, correspondentes à transmissão e ao recebimento de todos os dados de apuração.

    Além disso, o PSDB solicita acesso a todos os registros técnicos sobre a atualização do sistema de operacionalização do segundo turno da eleição presidencial; acesso aos programas de totalização de voto utilizado pelos tribunais regionais eleitorais e o TSE; e acesso aos programas e arquivos de algumas urnas eletrônicas utilizadas na eleição.

    De acordo com Noronha, as informações e documentos solicitados pelo PSDB já são disponibilizados aos partidos ou estão acessíveis pela internet. “A maioria dos dados que ele pede está disponibilizado no site. Vamos fornecer tudo”, disse o ministro do TSE.

    Ele destacou, porém, que o pedido de criação de uma comissão formada por especialistas e funcionários do TSE precisa ser deliberado pelo tribunal.

    “Isso acho que não vamos permitir. Não vejo necessidade. Não vamos deixar jogar por terra a imagem da Justiça Eleitoral. Eu sou corregedor. Você me aponta uma irregularidade e eu irei apurar. Você não pode fazer uma suspeita geral”, declarou.

  • Eu fico pensando....??
    Meia duzia de traficantes, daqueles porreta.
    falando dos JUIZES com isto e aquilo, demorando
    para julgar, muitos comprados, uns de direita,
    outros ricos de sempre, reclamando sempre...
    Dando carteirada em todo mundo, os senhores da
    vida e da morte.
    Mesclando-se a honestidade de uns, que muito
    pouco resistirão..
    Outros que são mortos, por resistirem...
    Vivem em espaços clamurosos, com exceçao do local
    de seu trabalho, onde tem que bater o martelo.
    E nem olham nos olhos do réu ou da vitima.
    Não gostaria que um filho meu fosse uma pessoa
    desta JUSTIÇA..
    A muito devendo ao Brasil.

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