Um país em dissolução

Se nos deixarmos envolver na rotina dos escândalos -não raro mais de um por dia – que se sucedem no país é possivel que deixemos de ver o essencial do que está ocorrendo.

E o fato é que somos um país em dissolução, em todos os campos da vida coletiva.

A epidemia é, sem dúvidas, o mais dramático e terrível, pelas vidas que nos rouba, mas não é o único.

A projeção do FMI de uma queda de 9,1% de queda do PIB brasileiro é ainda um cálculo modesto, quando se confirmar que não faltam muitos dias para que tudo tenha de retroceder, em matéria de reinício das atividades econômicas, pelo agravamento dos números que não param de crescer.

Diante disso, não temos, mais de três meses depois de iniciada esta catástrofe, qualquer diretriz séria para recuperar o já fraco desempenho pré-pandemia, os programas de financiamento às pequenas empresas não chegaram a elas. A sua capacidade de manter empregos já se esgotou e, mesmo com esta reabertura improvisada, quem voltou a funcionar está fazendo com uma força de trabalho reduzida e, frequentemente, em escala.

Mas há algo que é pior do que tudo isso – e é boa parte da causa de tudo isso.

É que perdemos o governo – e em todos os níveis – como um elemento capaz de aglutinar e dar direção à sociedade.

Justamente no momento em que – aqui e no mundo – os governos são as únicas ferramentas que podem oferecer algum rumo a uma economia que só não está quebrada nos setores voltados para a pura especulação financeira.

E não temos governo em quatro níveis: municipal, estadual, federal e nem no que se poderia chamar de inteiração internacional, pois viramos párias no mundo, até mesmo no mundo do dinheiro, bem pouco preocupado com ética.

A obra iniciada para destruir um governo de centro-esquerda cresceu tanto que está, também, destruindo um governo de extrema-direita. E, pior, destruindo o país que sonhava, não faz muito, em finalmente ocupar o espaço que tem direito como gigante. Adormecido, desperto, depois histérico e, agora, esfarelando-se.

 

 

Fernando Brito:

View Comments (16)

  • O otimista. - Podia ser pior: um gafanhoto como presidente e uma nuvem de bolsonaros devorando o país. O pessimista: - O Ministro da Educação mente quando diz ter doutorado (que tem retribuição por titularidade, por lei do Haddad) - e logo, nem pós-doutorado (que não tem nenhuma retribuição pecuniária, somente prestígio acadêmico). Como se não bastasse, o CV Lattes dele está errado, coloca Administração como Ciências Exatas e da Terra (???). O realista: - Não precisa uma nuvem, basta um bolsonaro, 3.000 milicos ignorantes e entreguistas recebendo DAS federal, e 32% de apoio popular. Cai o pano - diria Millôr.

  • Brito, o Gigante Adormecido foi inexoravelmente abatido quando começava a se levantar.
    Tínhamos dois caminhos, sermos uma nação para todos ocupando seu espaço no mundo ou uma republiqueta feudal cujo regime seria a canalhocracia.
    Escolhemos o segundo.
    Não há volta!

  • https://refazenda2010.blogspot.com/ Cada dia piora mais. Acho que nem na ditadura passamos por tempos tão horrorosos! É com você falou: "
    A obra iniciada para destruir um governo de centro-esquerda cresceu
    tanto que está, também, destruindo um governo de extrema-direita.". Perfeito!

  • Meu caro Brito,
    Que tal você mostrar para todos que não faz parte do piguinho-vermelho e do telecatch?
    O relatório da CPI do Banestado, após 30 anos escondido por um acordão, foi finalmente revelado no Duplo Expresso.
    Você pode fazer jornalismo de verdade revelando os peixes grandes que estão lá.

  • A pandemia não é nada. Proporcionalmente à população em cada época, ainda está longe da gripe espanhola em termos de vítimas. O Brasil está se esfarelando como país porque, estamos descobrindo agora, tem um povo que une ignorância, preconceito, racismo, estupidez e falta de nacionalismo. Não pode haver esperança num país que ainda dá 32% de aprovação a uma aberração que está na presidência. Não pode haver esperança num país que tem gente como Lya Luft. Não pode haver esperança num país onde as forças armadas participam da entrega do país e de suas riquezas. E por aí vai.....

    • Concordo com as aberrações mas quero dizer que a pandemia significa muita coisa. A espanhola, há um século, ocorreu em um país semiurbano, agrícola, sem saneamento, sem saúde, sem instrução das classes populares. Um século depois essas são as mesmas condições dos que morrem de sars-covid 2. O país, em um século, nada avançou, diríamos. Não, avançou muito de 30 a 80 e no governo Lula. Desde o golpe de Temer/ judiciário/militares, tudo foi anulado e regredido.

  • Quantos anos serão necessários para que a classe média brasileira desça das nuvens dos seus sonhos elitistas e acorde para a sua realidade de classe trabalhadora? Embriagados pela droga sintética do liberalismo mofado distribuída diariamente pelo Cartel da Mídia, milhões de assalariados, precarizados e microempresários enfrentarão a ressaca mortal da miséria.
    A burrice mata!

    • Qualquer um que, tenha uma Carteira de Trabalho ou contribua com a Previdência ou paga MEI ou contribua para uma Previdência Privada é identificado como trabalhador. Não aceitar essa possibilidade revela uma pessoa desequilibrada mentalmente, estúpida ou sofre de delírio de grandeza, portanto, precisa de um bom tratamento psicológico.

  • Os setores que ainda prosperam, desgraçadamente o fazem à custa da desgraça geral. E não é apenas o setor financeiro, empanturrado de lucros sugados da terra arrasada em que virou o país. Também afugentam o Estado da gerência da água, por exemplo, porque a necessidade dela é ainda uma das poucas fontes de lucro certo que restaram. A fabricação de bilionários parasitas no país não pode parar, enquanto o povo vê quem devia defendê-lo render-se prazeirosamente à sanha de lucros a todo custo.

  • O Brito foi preciso quando disse que "A obra iniciada para destruir um governo de centro-esquerda cresceu tanto que está, também, destruindo um governo de extrema-direita". É verdade. Esta obra cresceu a ponto de envolver todas as forças conservadoras, até as tidas como mais sensatas, porque as mentiras desestabilizadoras os envolveram a todos. Qualquer tarefa de reconstrução democrática do país passa obrigatoriamente, necessariamente, urgentemente, pela destruição pública das mentiras que a direita usou para enfiar um governo de extrema direita goela abaixo dos brasileiros. E a mãe de todas as mentiras foi aquela que a Lavajato inventou sobre o Lula. Enquanto essa mentira não morrer, o país vai sofrer sem solução política.

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