Um país que se apequenou

A notícia da Folha – com todos os foros de verdade, dados pelo quase imediato anúncio de que a Standard & Poors manteria a nota de crédito do Brasil – de que Henrique Meirelles foi beijar a mão das agências de classificação de risco e ” pediu que esperassem um trimestre antes de rever as notas brasileiras”evoca, para quem já viveu o Brasil da virada do século, episódios hoje muito próximos.

Era o “waiver”, o perdão perseguido como fonte de água no deserto, no Brasil quebrado de Fernando Henrique Cardoso buscava repetidamente no Fundo Monetário Internacional.

Hoje, claro, a fonte de nossos problemas não é o FMI, mas continua a ser o capital estrangeiro, tanto pelo fluxo de investimentos quanto pela sua participação – e aceitação – da nossa dívida pública que passou a crescer de forma vertiginosa desde o final de 2014.

E a percepção geral é a de que, embora seja possível alguma recuperação no nível de uma atividade econômica já deprimida até o rés do chão, o Brasil não tem outro rumo senão permanecer em crise.

As medidas de austeridade (mais!) propostas beiram o ridículo.

Primeiro porque – e logo se verá isso na propositura da Lei de Diretrizes Orçamentárias, porque supõem um investimento virtualmente zero, anulando qualquer possibilidade de que o Estado seja o indutor de crescimento econômico.

Segundo, porque nem de perto tocam na capacidade de arrecadação fiscal. A taxação contínua dos fundos privados de investimento é, apenas, uma antecipação de receita que, claro, adiante será ausente. O aumento de alíquota previdenciária dos servidores de maior renda, conjugado com o adiamento de seus reajustes, só piora o ambiente nas categorias-chave para a administração da máquina.

Como o próprio Henrique Meirelles mostrou ontem, em sua exposição, o setor industrial está com sua capacidade contributiva esgotada, mas não se cogitou taxar quem vai bem: o setor financeiro e o agronegócio,

Some-se a isso o fato de que o Governo acena com aquilo que não pode entregar mais: a maioria no Congresso que lhe permita aprovar mais “reformas” .

A meta de R$ 159 bilhões de déficit não é impossível de cumprir, claro. Mas depende de um elemento dificílimo quando se olha a realidade política, institucional e econômica do país: “tudo correr bem”.

Ao contrário do que fez ano passado, o Governo reviu a meta “no talo”.

Nenhum critério que possa ser chamado de sério, apenas o de não mostrar que, desde que o golpismo assumiu, o rombo aumentou, pelo que não se fez para recuperar a ponta da receita pública.

O Brasil virou um pato, que se encolhe , paralisado, à espera da ira de ir pra panela ou de um milagre  pelo qual não consegue nem mesmo rezar. Agora que lhe cortaram as asas.

 

 

Fernando Brito:

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  • Ah, se fossemos a Islândia, que deu uma banana aos fomentadores de crises financeiras e voltou a ser uma nação de fato. Pequena, com muita honra e brio. Mas aqui, restou-nos os justiceiros e vingativos que não conseguem o voto legítimo, tribunais comprados e fashionizados por uma mírdia fajuta (celebridades de marca falsificada), governo de usurpadores e uma conspiração de lesa pátria sem fim.

  • Cada vez mais fica evidente o que os Golpistas querem evitar a qualquer custo. Eleições direta para presidente da república, em 2018, com a participação do Lula. Só assim teremos legitimidade para reconstruir um processo democrático que restabeleça a confiança, e haja o que houver, Lula vencedor ou derrotado, ele tem que participar, pois é uma figura central na vida pública do Brasil a mais de 40 anos, caso contrario só vai piorar e prolongar a agonia do Brasil.

  • Um conhecido meu, já idoso e servidor público, odeia Lula, odeia PT, odeia Dilma. E acho que só vai parar de odiar quando começar a vender bala nos sinais para completar a renda e eu... Morrendo de rir de tudo isso. kkkkkkkkkkkkkkk

  • O receituário para a catástrofe ude um país apequenado! Como diziam os paneleiros: o gigante acordou! Pelo visto acordou, deu preguiça e voltou a dormir em berço esplêndido.

    • Estava o gigante acordando... quando recebeu um belo golpe pra desacordar!

  • Mas isto estava previsto de maneira muito clara. Só não viram os magoados pelo que os fez considerarem-se derrotados e buscarem uma desforra ainda que de maneira desleal e prepotente. Imagina-se o despertar de um gigante sonambulo cujo pesadelo começou e permaneceu.

  • Depois do golpe, o caos. Golpe horrendo.
    É isso aí. Golpistas, pensem em como pagarão está impagável dívida ao país.
    Vou dizer um palavrão obsceno e terrível: R$ 503. 928, 79 !
    Desculpem a grosseria, mas não aguentei.

  • Há pouquíssimos motivos para sorrir, mas há um grande motivo para rir: a Maga Patalógica (ou seria patológica?) da Miriam Leitão cada vez mais tendo que dar nó em pingo d'água para defender o indefensável.

    O Brasil não iria virar uma Disneyworld depois da queda da Dilma?

  • Na época de Dilma com números da economia muito melhores que os atuais, o FMI so projetava o PIB pra baixo e as agências de Rating dos EUA( as mesmas que deram nota de rating AA a títulos do subprime da bolha inflacionária americana) so faziam baixar as notas de crédito do Brasil. Agora no governo temer, a pedido de Meirelles pra garantir o filão da divida publica, tão todos quietos...

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