Uma aula “preciso desenhar?” de um Nobel para economistas e jornalistas

Poucas leituras sobre a situação da economia brasileira e sobre a crise mundial são tão claras e límpidas quanto a da entrevista – apesar do entrevistador “teimar” com o discurso “mercadista” – do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz ao Estadão. O Nassif a publica, e lá pode ser lida na íntegra.

O que diz ele, tentando resumir ainda mais o que está resumido e claro em suas declarações:

A crise brasileira é feita da derrubada vertiginosa do preço das commodities (minério de ferro e soja, especialmente) e do ambiente político criado pela Lava Jato.

Nossa inflação é de custos, não de demanda e, neste caso, juros altos não são solução, mas problema.

” Nesse caso, a forma pela qual a alta dos juros reduz a inflação é matando a economia. Se você conseguir desemprego o suficiente, os salários são deprimidos, e você segura a inflação. Mas isso é matar a economia.

A crise mundial, diz Stiglitz, tem quatro fundamentos:

1) a desigualdade, que restringe consumo, porque um pequeno grupo, por mais consumista que possa ser, não iguala em volume a massa de excluídos que não consomem ou cortam seu consumo;

2) As duas maiores economias do mundo, EUA e China, estão mudando de modelo. O primeiro, sai da indústria para os serviços; a segunda, da exportação para o mercado interno. Metamorfoses levam tempo e reduzem o metabolismo;

3) As políticas econômicas de austeridade fiscal levaram o terceiro bloco econômico, depois dos dois acima, a Zona do Euro, a uma situação de “bagunça” econômica, que deixou a Europa estagnada e lá, como nos EUA, os cortes orçamentários se refletiram na não-recuperação do emprego, especialmente do setor público;

4) A queda nos preços das commodities e de determinados produtos, como o aço, não extingue seus resultados entre vendedor e comprador. Reduz gastos, reduz ganhos mas isso também reduz a circulação da riqueza no comércio e, claro, a riqueza vai – cada vez mais – para o setor financeiro.

Leia o texto, é uma oportunidade espetacular de ver que economistas de verdade não são os que falam empolado, nem jornalistas que repetem as bobagens do mercado para que você não entenda o mundo.

PS. Antes que alguém diga, é obvio que Stiglitz faz uma redução didática do tema. É uma entrevista, e para um jornal de grande circulação, não um tratado ou uma tese acadêmica.

Fernando Brito:

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  • A entrevista é muito boa mesmo, e ajuda a explicar parte do momento que vivemos. O problema é o que fazer para controlar a inflação que se apresenta fora de controle e como adotar medidas anti cíclicas, fazendo o Estado gastar mais, num momento em que prefeituras, estados e governo federal têm dificuldades em fechar suas contas. Até agora, não li nada que desatasse esses nós.

    • Não creio em fórmulas perfeitas, até porque economia nunca foi ciência exata.

      Mas, é quase unânime que o efeito inflacionário acumulado (contando com o início do ano de 2015) tem um peso tremendo da grande desvalorização cambial recente e do reajuste dos preços administrados.

      Acho sinceramente, que temos sim que retomar a redução dos juros básicos, pois nem mesmo o rebaixamento do rating evitamos com a ortodoxia monetária.
      Só mais desestimulo ao investimento.

      Claro que temos de compreender o quanto de efeito será arrastado para esse ano, dada a indexação de nossa economia (setor elétrico via IGP-M, que o diga).

      Mas, com o cenário de recessão, certamente não haverá uma pressão sobre os preços tão cedo. Reativar o motor do crédito de longo-prazo e da redução do spread bancário, são por isso, fundamentais !

      Por outro lado, como vc bem colocou, a situação fiscal não dá margem à ampliação dos investimentos e repasses diretos de Uniao. Onde acho, que faltava uma reforma tributária mais progressiva, é uma discussão séria sobre a proporção de dívida no orçamento (que foi boicotada pelo governo, diga-se).

      • Prezado Leo, no primeiro governo de Dilma, houve uma tentativa de redução do spread bancário via bancos públicos, mas que a princípio, não foi sustentável no longo prazo, nem impediu o aumento dos juros mais à frente. Vc advoga uma redução do spread bancário, o que realmente seria bom, mas como fazer isso perdurar por mais tempo? Já conversei com profissionais de Financeiras, e eles argumentam que o spread é alto pelo risco dos tomadores de empréstimo e devido ao volume de recursos compulsórios que ficam no BC. Qual a sua visão sobre esses pontos?

        • Tudo isso são mecanismos de consequência, e o que importa mesmo é a geratriz para as consequências. Havia uma quimérica vontade no país, desde os governos Lula, de transformar o dinheiro de pagamento de juros em dinheiro para investimentos. Quando o BC sob Dilma passou a baixar sistematicamente os juros do Selic, o país vibrou como nunca. Mas a festa durou pouco, porque a reação do poder financeiro global foi terrível. Ao que parece o sangue dos juros brasileiros passa por sanguedutos invisíveis ao hemisfério norte e alimenta algumas legiões dos mais bem posicionados vampiros bancários do mundo. Teve até jornal inglês que exigiu a mudança completa da política econômica do Brasil, como se fosse uma parte grandemente comprometida e interessada. Pediram a demissão do Mantega, o que veio mesmo ocorrer ao fim do primeiro governo Dilma. O mundo financeiro, quando viu a torrente da grana brasileira transformar-se em escasso fio de água, mobilizou-se para derrubar o governo do Brasil. Até o Cristo do Corcovado esborrachou-se no chão, depois de ter decolado nas capas de revistas da direita internacional. Este povo conta com a mídia e os tucanos internos. Vai ser difícil enganá-los, ou acabar com suas pretensões locais.

          • Oi Tomás, respeito sua visão geopolítica, mas vale ressaltar que a capa do Cristo decolando foi em 2009, num dos momentos em que os juros estavam mais baixos e éramos incensados pela mídia internacional, ainda em Lula II. Particularmente, acredito que alguns desarranjos da nossa economia se devem muito mais a escolhas nossas do que ao ambiente externo. Caso seu diagnóstico seja mais correto e essa seja a visão dominante do nosso Governo, a minha preocupação é que sigamos medidas mais heterodoxas como as que me parece foram adotadas na Venezuela e percamos de vez a luta contra a inflação, com sérios prejuízos à população. Ressalto que não sou favorável a juros altos, mas que me preocupo com a falta de propostas à esquerda para o ataque às altas da inflação e do desemprego em nosso país.

          • Robson, acredito que o Tomás fez um bom apanhado por trás das motivações políticas que possivelmente possam ter havido.

            A trajetória de reduções do spread não se tornou sustentável por dois fatores interligados: O problema fiscal e a saída do Estado como indutor do crescimento.

            Explico. O sistema bancário financeiro, passou nos anos de 2010 a 2013 por um cenário de taxas médias de inadimplência baixa, em relação à observada globalmente, e com liberação considerável de parte do compulsório por medida de estímulo monetário do BACEN.
            Então, estruturalmente não havia a situação de estrangulamento no momento em que os bancos públicos induziram à redução no spread.

            A diferença fundamental daquele período, para o que se estende de fins de 2014 até o momento, foi o início do "desinvestimento" por parte do setor público nacional, dado o novo cenário de restrição global das commodities e de déficit fiscal nacional. Com todas as medidas monetárias consequentes: Retomada das anteriores práticas de spread, elevação do compulsório, aumento dos juros subsidiados tendendo à TJLP praticada no mercado e etc.

            O que fez entrarmos mais dramaticamente nessa mudança de cenário, em minha opinião, foram os investimentos privados não terem vindo da forma que o governo esperava após as ondas de desonerações tributárias e renovação de concessões (especialmente, em serviços de infraestrutura). E muito, por parte da incerteza política que o empresariado teve com a radicalização de baixa nas expectativas que as manifestações de 2013 e aquele ano eleitoral de 2014 trouxe.

            Basicamente, Dilma também foi incapaz de fazer com que o Executivo tivesse liderança e força de comando, indo para a linha de frente na percepção da crise e dando sinais de mudança para a população. Passando uma mensagem clara de alinhamento de medidas políticas que iam ser tomadas, ao empresariado.

            Abs.

  • Joseph Stiglitz
    A queda nos preços das commodities e de determinados produtos, como o aço, não extingue seus resultados entre vendedor e comprador. Reduz gastos, reduz ganhos mas isso também reduz a circulação da riqueza no comércio e, claro, a riqueza vai – cada vez mais – para o setor financeiro.
    A queda nos precos das commodities e revertida quando se reduz a producao e extracao
    quer ver como os precos sobem rapidinho. so o boato de reducao sera suficiente para um aumento no preco...igualmente o preco do petroleo caiu porque a roubalheira na siria no iraque e outros produtores competem com o EI (criacao de quem) e simples assim...o espolio vai para o vencedor da guerra Ate quando estaremos nesse sistema que so previlegia aos contrutores do sistema? somente enquanto formos os tolos dessa jogada..

    • Somos mais do que os tolos da jogada, somos é o país rico da jogada que enche o bolso alheio com burras de dinheiro, isso sim..
      O nosso orçamento é grande porque o país é um dos maiores, somos a naçao mais rica em recursos naturais, nem preciso falar de sermos a mior reserva de nióbio do mundo senao dá vergonha, a 3° maior reserva de petróleo, a maior reserva de água doce do planeta, a 3° maior reserva de uanio e por aí vai...
      Agora, a petrobras, uma das maiores e mais lucrativas do mundo e a maior fabricante de plataformas, está vendendo na bacia das almas parte grande dos seus ativos para cobrir dívida porque todo o lucro dela[da petrobras] é confiscado para pagar juros da dívida pública que na cpi de 2009/10 ficou provado que nem 20 % dessa dívida é suportada legalmente por documentos, ou seja, a dívida que nós pagamos, aliás só os juros dela, é na sua maioria fruto de ilegalidades, fraudes e juros compostas[anatocismo] considerado pela nossa constituiçao ilegal conforme sumula 121.
      E ainda vamos ter que suportar o governo reformando novamente a previdencia, que é superavitária mas eles mentem dizendo que nao, forçando a barra para desvincular a receita constitucional da seguridade social só para confiscarem mais esse dinheiro para pagar juros aos credores.
      E agor, josé???

      • Voce esta certa..e tanta coisa que revolta! Gostaria que mais pessoas entendessem do que voce fala, mais ficam discutindo estupidezes como os bancos e economistas e bla bla bla quando as coisas mais importantes nao sao mencionadas..

        • Voce percebeu, Titus, os economistas mais ilustres ou respeitados do mundo nao tocam no endividamento dos países quando analisam a econmia desses países, como o Brasil por exemplo? Questoe sobre imposto progressivo, taxaçao de grandes fortunas e etcs mais estao na esfera política, nao economica. Por que? Porque quem financia a matéria-prima celulose e a industrializaçao dela, a fábrica do papel, e o fabricante da tinta para impressao, a gráfica que produziu o livro faz parte da cadeia de um seguimento produtivo que também está nas maos dos bancos privados que, por sua vez, sao os mesmos que estao por trás do endividamento das naçoes, ou seja, há um conglomerado pequeno de bancos internacionais que estao por trás de todas as atividades produtivas do planeta. Eles nao tem votos mas fazem política e leis, sao invisíveis para a sociedade mas controlam tudo. A imprensa mundial trabalha prá eles.
          PHA tem um blog, talvez o mais acessado no BR, mas o Bradesco publica lá, entao dívida pública nao entra no debate, percebeu isso? Ninguém escapa porque todos precisam se financiar para sobreviver. Entendo isso, claro. É justo, mas ter consciencia disso é um fardo porque a maioria nao se dá conta da ciranda, do verdadeiro inimigo, e assim nao haverá soluçao viável porque a raíz do problema nao é a existencia desses bancos, precisamos deles, só que esses desgraçados estao tomando toda a renda dos países ilegalmente à custa de fraudes e coclocando-os na rota da escravidao eterna aonde o povo terá de trabalhar até a morte sem nenhum direito à aposentadoria para garantir a sua subsistencia.
          A gravidade é essa - quem controla a politica e a economia dos países, todo o dinheiro produto direto do trabalho humano sao esses caras. O problema é que o brasil sempre esteve no radar deles, mas agora eles querem a prostaçao completa, a dominaçao total que é a entrega do cofre - o banco central. Se entregarmos o BC prá eles, acabou prá nos, entendeu?
          Quem vai explicar isso para os brasileiros? Discutir política, lava jato, eleiçao é nada perto da entrega do BC, do cofre da naçao com o dinheiro de todos os seus habitantes.
          Já está ocorrendo negociatas no congresso para tornar o BC independente. Quem vai tratar desse assunto e falar abertamente da gravidade disso para nós? Só mesmo a Fattorelli e uns poucos ligados à ela, mas a repercussao e publicidade é muito pequena porque os internautas tem preguiça de ler e falta cultura para entender. Negar educaçao de qualidade para um povo dá nisso - ignorancia, ao mesmo tempo em que foi exatamente isso - negar a educaçao - o pulo do gato para possibilitar a dominaçao geopolítica que está engolindo todos os povos do planeta, sacou? E como os brasileiros sao ignorantes, até sem culpa por isso. Acho que nós somos um dos mais alienados e incultos do mundo, nao atoa, claro. Somos a naçao mais rica, entao o povo tinha que ser o mais alienado e vira lata possível.Faz todo sentido, nao é?

          • Tudo bem explicado luiza, mas realmente nao precisamos dos bancos privados nem do BC alienado, A caixa, o BNDS e quem sabe bancos publicos...e quanto a alienacao, e o mundo inteiro nao so Brasil..veja o coitado povo americano, o pobre povo europeu os arabes os chineses ..todos escravos...
            Os bancos centrais foram criados por acordos obscenos
            onde congregam os (dolares como moeda mundial de troca)cobrando um fee, assim que guardam papel que nao vale nada (real) moeda sem lastro.. que printam a bel prazer...

  • esse Horta fumou tochico? Imbecil é ainda analfabeto, ser Coxinha e uma doença grave, vai se curar seu Asno e pare de escrever merda

  • esse Horta fumou tochico? Imbecil é ainda analfabeto, ser Coxinha e uma doença grave, vai se curar seu Asno e pare de escrever porcaria

  • Fernando,
    Peço licença para divulgar um serviço de utilidade pública:
    AEROPORTO DE GUARULHOS É O TERCEIRO NO RANKING MUNDIAL DE PONTUALIDADE DAS AERONAVES, ATRÁS APENAS DO JAPÃO E DA ALEMANHA. Assim em letras garrafais deveria ter sido a chamada para essa matéria que foi veiculada no Jornal da Band, pois à época do "apagão" aéreo muito barulho a mídia nativa fez, na tentativa de mitigar o Governo Federal. E agora querem esconder o belíssimo feito do Governo Federal? Não podemos aceitar, temos o dever de dar transparência às notícias.

    Não tem preço ver a cara de B...da do Borys Casoi ao ter que anunciar essa notícia. Os coxinhas entrevistados no aeroporto engoliam a seco ter que dizer a verdade, mas tomaram o cuidado de não mencionar o Governo Federal, afinal foi o atual governo que teve a coragem de modernizar os aeroportos do Brasil.

    PS: O aeroporto de Brasília, além da pontualidade, temos cordialidade, conforto e, por que não dizer: luxo.

    Chupa essa coxinhas...

    PS: no site da Band a chamada fala apenas no contigente de pessoas que passam pelo aeroporto, ou seja, esconderam que o aeroporto de Guarulhos é o 3º aeroporto melhor no ranking mundial de pontualidade.

    Eis o link da matéria: http://videohd6.mais.uol.com.br/15741674.mp4?ver=2&r=http://mais.uol.com.br

  • :

    : * * * * 19:13 * * * * Ouvindo A Voz do Bra**S**il e postando:

    * * * * * * * * * * * * *
    * * * *

    Por uma verdadeira e justa Ley de Medios Já ! ! ! ! Lula 2018 neles ! ! ! !

    * * * *
    * * * * * * * * * * * * *

  • O preço da desigualdade

    Novo livro do economista Joseph Stigliz promove uma análise crítica das causas e consequências das desigualdades nos Estados Unidos.

    O crescente fosso entre os 1% mais ricos e os restantes 99% da população norte-americana é a evidência empírica de base a partir da qual Joseph Stiglitz desenvolve uma análise integrada dos fatores que explicam esse fenómeno e as suas consequências. O principal objectivo da obra é o de promover uma cartografia dos processos econômicos, mas sobretudo políticos, que fizeram dos Estados Unidos da América (EUA) uma sociedade na qual a riqueza e o bem-estar se concentram cada vez mais numa minoria da população.

    VÍDEO – entrevista com Joseph Stigliz, economista, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2001 e ex-chefe do Conselho de Assessores Econômicos no primeiro período do governo Bill Clinton

    https://www.youtube.com/watch?v=w8OYlOCb0IM

    • Alo Messias, que interessante essa pergunta por que 1% detêm a riqueza de 99%. As pessoas necessariamente não tem que nascer pobres e miseráveis, não é o destino quem determina, isto não ocorre no mundo selvagem, de onde nos originamos. O que determina essa condição é a cobiça, o preconceito e a exclusão da educação. Será que isso tem alguma relação com a Midia brasileira e o que os coxinhas ?

      • Prezado e consciente Renato Arthur,
        e não faltam incautos na defesa do [criminoso] capitalismo!

        Hasta la Victoria Siempre!

        Felicidades!

        Messias Macedo

  • Bom dia,

    não precisa de Nobel para falar isso, eu já falo!! Falo que vender soja, milho carne e manter a economia na mão de meia dúzia de consumidores deu nisso. Por isso repito, enquanto vendemos 200 mil navio de soja, Japão E.U e demais vende meio navio de computador ganha muito mais que nós. Precisamos de universidade qualificada, pois as que temos não tão boas assim quanto imaginamos! A universidade mais antiga do Brasil não consegue gerar um prêmio Nobel ao pais, pois os professores só querem o emprego, isso é resquício de um política do governo e o medo de perda do emprego ( caso não tivesse estabilidade). Os professores universitário ganha muito e não produz nada de volta para o Brasil, nem massa pensante ou desenvolvimento científico.

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