Uma operação que nem de longe é “Formosa”

A triste escolha de algo parecido com a trilha da velha série de TV – e depois franquia cinematográfica – Missão Impossível para “dar emoção” a uma modestíssima (sejamos gentis) exibição de força militar da tal Operação Formosa, com direito a Jair Bolsonaro e a um desajeitado Ciro Nogueira disparando canhões foi uma espécie de “Parte 2” da patética “tanqueciata” da semana passada na Praça dos Três Poderes.

Nem se fale do fato de que, como exercício militar basicamente de Fuzileiros Navais – cujo emprego é bem diferente do desempenho de missões em campo aberto de áreas de cerrado, muito mais propício a ações de blindados e de aviação de ataque ao solo – já seja uma exibição da carência e da inadequação do material e do treinamento das Forças Armadas brasileiras.

Uma visita presidencial a operação de treinamento militar deveria ser, é claro, ao posto de comando, para observar a precisão e alcance dos disparos de artilharia, em lugar de disparar cenográfica e desajeitadamente uns poucos canhões de calibre mediano, absolutamente inservíveis para o “fogo de saturação” que o locutor dizia estar sendo treinado.

O único “alvo” exibido, uma casinha de bonecas, feita de madeirite, explodida com uns “traques” de São João, francamente, não contribui em nada para que se dê relevância a um exercício bélico com explosivos.

O que nossos chefes militares querem fazer da imagem de nossas Forças, tão obsoleta nas armas quanto na política de sustentar golpes antidemocráticos?

Nos governos tão odiados por parte das cúpulas militares é que se retomou a modernização de nossa estrutura militar: mísseis para o Exército, ainda que maietados por acordos da era FHC que limitam seu alcança em 300 km – o que é um “cuspe” considerando as dimensões brasileiras -, submarinos (inclusive o primeiro nuclear, o que empresta valor estratégico, pela “invisibilidade” dada pelo tempo de submersão contínua) e caças de 4ª geração com capacidade de construção nacional, única forma de tê-los em quantidades “não decorativas”, porque duas dezenas de aeronaves não existe em matéria de proteção a 8,4 milhões de quilômetros quadrados.

Esta geração de oficiais superiores não absorveu que a requalificação e nacionalização do material bélico brasileiro esteve completamente ligada ao fim do “alinhamento automático” do Brasil e de suas Forças Armadas dos Estados Unidos, o que nos permitiu avançar na capacidade de vender ao mundo a escala do que era necessário pra nós mesmos.

Muitos de nossos generais parece que não se importam com isso e parecem focados na função de nosso poderio militar expressado em soldos vitalícios e tropas para funções repressivas, com base num delírio sobre o “poder moderador” que lhes daria o tal artigo 142 da Constituiçao, que nem perto disso passa.

E, para isso, é mais imortante dar ao presidente da República o poder de “puxar a cordinha” do canhão que talvez valesse algo em Tobruk ou nas Ardenas, não no século 21.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fernando Brito:
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