Uma vez ao menos, um tucano tem razão. Aliás, dois

Não posso deixar de dar razão ao que disse o neoliberalíssimo Armírio Fraga, ex-Banco Central de Fernando Henrique Cardoso.

Veja o que ele disse ontem, num seminário sobre economia:

Arminio abriu sua palestra dizendo-se “preocupado” com a mudança na política econômica a partir do segundo mandato do presidente Lula. “O Brasil vive, de uns seis ou sete anos para cá, um modelo diferente do que prevaleceu nos 12 anos anteriores”.

Armínio tem toda a razão: trocamos o modelo “arrochista” pelo desenvolvimentista,  onde o Estado assumiu seu papel de indutor do desenvolvimento e a, direta e indiretamente, implantar ações de expansão da economia e de provimento das necessidades sociais: logística, petróleo, habitação, mobilidade urbana, sobretudo.

Deixou de ser simplesmente – embora não tenha deixado de ser – apenas o amealhador de dinheiro da população, seja cortando serviços,  seja vendendo o que é patrimônio do povo, para assumir a função que lhe cabe, em países carentes como o nosso, de usar sua capacidade de investimento para fazer o que a iniciativa privada não pode ou não quer.

A função do Governo não foi mais – repito, embora não tenha deixado de ser – a de sacerdote zelador da santíssima trindade da chamada macro economia – o tripé meta inflacionária – câmbio livre – superavits monstro. Ou, traduzindo, arrocho fiscal, imobilidade da maquina pública e juros estratosféricos.

Armírio também não diz que, destes “seis ou sete anos” nos quais abandonamos a ortodoxia econômica que ele advoga como a oitava maravilha, o mundo viveu e vive – aliás com as mesmas receitas ortodoxas – sua maior crise desde os anos 30 – sem que nós aqui mergulhássemos no desastre social que afundou a Europa e no qual os EUA patinam.

Mas, também em favor da verdade, Armírio não foi o único tucano a dizer coisas reais naquele seminário.

Seu antecessor no BC  e queridinho de FHC, disse outra verdade.

“Gustavo Franco comemorou o fato de Marina Silva demonstrar preocupação com o tripé. “É sinal de que alguma coisa mudou”.

Sim, mudou.

Ela mudou de lado.