Em relação ao Deputado Cunha, coisa alguma vale, nem mesmo o que ele diz.
Mas não deixa de ser escandaloso o vídeo que vejo, por meio do blog do amigo Rodrigo Vianna, O Escrevinhador, o vídeo da sessão da Câmara onde o próprio Cunha diz que o texto do relator, do qual se valeu a “gambiarra” urdida por ele com um grupo de deputados, para recolocar em votação o financiamento privado de campanhas.
Para ficar claro, o que foi votado e não alcançou quorum era a permissão de empresas privadas aos candidatos e aos partidos, bem como o de pessoas físicas.
E o que foi votado e aprovado, no dia seguinte – com métodos que nem é bom pensar era a permissão de empresas privadas aos candidatos e aos partidos, bem como o de pessoas físicas.
Ou seja, o mesmo.
Assista, no final do post, o vídeo da confissão de Cunha.
Um confronto explícito com o previsto na Constituição que diz que (art. § 5º”) “A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa”.
E ainda que não fosse assim, há mais, no art. 67, igualmente no § 5º : A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa”.
Honem no site jurídico Jota, o secretário-geral da OAB, Cláudio Pereira de Souza Neto, dá sustentação jurídica detalhada daquilo que, há dois dias, os parcos conhecimentos jurídicos do Tijolaço já permitiam afirmar: é inconstitucional.
Em linguagem clara, foi um golpe.
Os vícios da “emenda aglutinativa”
do financiamento empresarial
Cláudio Pereira de Souza Neto, secretário-geral da OAB
A Câmara dos Deputados aprovou “emenda aglutinativa” à PEC da Reforma Política que constitucionaliza o financiamento empresarial a partidos políticos. A dita “emenda aglutinativa” incorre em dupla inconstitucionalidade: formal e material.Sob o ponto de vista formal, a inconstitucionalidade resulta do que estabelece o artigo 60, § 5º, da Constituição da República: “a matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa”. A matéria havia sido objeto de deliberação no dia anterior – 3ª feira. Submetida ao Plenário da Câmara, não se formou maioria suficiente para se aprovar alteração no texto constitucional. A deliberação de ontem – 4ª feira – se deu a propósito de “emenda aglutinativa” apresentada às pressas, no próprio dia, pelo Deputado Russomano, dispondo igualmente sobre o financiamento empresarial.O Presidente da Câmara, Deputado Eduardo Cunha, sustentou, para submeter a matéria a nova apreciação, que, no dia anterior – na 3ª feira, dia 26.05 –, o Plenário teria se manifestado exclusivamente sobre o financiamento de candidatos: estes não mais poderiam receber doações empresariais. Na votação de ontem – 4ª feira, dia 27.05 –, a Casa se manifestaria sobre o financiamento empresarial concedido através de partidos: recebidas as doações pelos partidos, eles poderiam financiar campanhas e candidaturas.
O argumento, com as devidas vênias, é totalmente improcedente, como fartamente ressaltado em sucessivas manifestações de parlamentares ocorridas durante a sessão. Na votação ocorrida na 3ª feira, dia 26.05, não se fez qualquer distinção entre doações feitas diretamente a candidatos e doações realizadas através de partidos. O financiamento empresarial foi rejeitado em suas diversas modalidades. Na reunião de líderes do dia 20.05.2015, chegou-se a um “acordo para a votação de temas” que previa, no tocante ao financiamento de campanhas, a deliberação sucessiva do Plenário sobre 3 alternativas, nos seguintes termos:
“(…)
2. Financiamento da Campanha:
2.1. Público
2.2. Privado – restrito a pessoa física
2.3. Privado – extensivo a pessoa jurídica”
Nenhuma das três alternativas obteve a maioria suficiente para se converter em emenda à Constituição. Nada obstante, no dia seguinte, o Presidente da Câmara surpreendeu a todos pautando a referida “emenda aglutinativa”, que permitia o financiamento empresarial por intermédio de doações para partidos. A matéria submetida à apreciação do Plenário foi a mesma: financiamento eleitoral por empresas. No sistema atual, esse financiamento pode ocorrer por meio de doações a partidos ou de doações diretas a candidatos. A emenda de Russomano procura artificialmente se apresentar como diferente: só permite que a doação seja feita por meio dos partidos, não diretamente a candidatos. Mas cuida, igualmente, do financiamento empresarial de eleições, o qual foi rejeitado no dia anterior.
A hipótese é de típica violação do “devido processo legislativo”. Matéria já apreciada foi novamente submetida ao Plenário na mesma sessão legislativa, em contradição com o que determina o artigo 60, § 5º, da Constituição Federal. A violação ao “devido processo legislativo” é uma das hipóteses em que o Supremo Tribunal Federal tem realizado controle preventivo de constitucionalidade. Deputados e senadores podem impetrar mandado de segurança requerendo a interrupção do processamento de Projeto de Lei ou de Proposta de Emenda à Constituição. Quando a norma procedimental violada encontra-se no regimento interno da casa legislativa, o STF tem deixado de intervir, entendendo que a sua interpretação é questão interna corporis ao Parlamento. Porém, quando a norma insere-se na própria Constituição Federal, o STF garante a sua proteção. O processamento da referida emenda aglutinativa pode, portanto, ser a qualquer momento interrompido por decisão do Supremo Tribunal Federal.
Além de formalmente inconstitucional, a PEC padece também de gravíssimas inconstitucionalidades materiais.
Na ADI n. 4650, a OAB impugnou o financiamento empresarial das campanhas eleitorais por entender que violava, dentre outras normas constitucionais, o princípio democrático e o princípio da igualdade. As duas normas são cláusulas pétreas, não podendo ser violadas tampouco por meio de emendas constitucionais. As referidas normas limitam o constituinte derivado no exercício de seu poder de emendar a Constituição. No Supremo Tribunal Federal, já se formou maioria de 6 ministros para declarar a inconstitucionalidade das normas legais que instituem o financiamento empresarial. Os mesmos parâmetros constitucionais – em especial, o princípio democrático e o direito à igualdade – devem ser aplicados pela Corte para declarar a inconstitucionalidade de eventual emenda.
No tocante ao aspecto material, também há a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal realizar controle preventivo de constitucionalidade. De acordo com o artigo 60, § 4º, da Constituição Federal não será “objeto de deliberação” a Proposta de Emenda (PEC) tendente a abolir cláusulas pétreas. O Supremo Tribunal Federal tem determinado a interrupção do processamento de PECs ao conceder a ordem em mandados de segurança impetrados por parlamentares com o objetivo garantir o direito de não participar de deliberações que impliquem violação de cláusulas pétreas. Às razões anteriormente mencionadas, de cunho formal, agregam-se estas outras, de cunho material, para reforçar a plausibilidade de provimento do Supremo Tribunal Federal que, de imediato, interrompa o processamento da PEC.
Os sucessivos escândalos de corrupção que envergonham o Brasil demonstram que o financiamento empresarial das campanhas eleitorais deve ser urgentemente interrompido. Para além da grave condenação moral que devemos dirigir aos políticos, gestores públicos e empresários envolvidos nesses casos, as causas sistêmicas da corrupção que assola o país devem ser igualmente perquiridas. E uma das causas principais da corrupção sistêmica é o financiamento empresarial das campanhas eleitorais. Empreiteiras não fazem doações, fazem investimentos, como tem demonstrado as investigações reunidas no que se convencionou chamar de “operação lava-jato”.
Espera-se que o Senado Federal não cooneste a grave violação ao devido processo legislativo ocorrida na tarde de ontem. Mas se o processamento da PEC não for interrompido e ela vier a ser aprovada, certamente a cidadania novamente buscará amparo no Supremo Tribunal Federal. Não cabe ao Judiciário agir de modo ativista, substituindo as opções substantivas feitas pelo Legislador. Mas lhe cabe cuidar, com todo o rigor, para que sejam observadas as normas constitucionais que regulam a participação na vida democrática. Com isso, não estará usurpando atribuições das maiorias, mas permitindo que a vontade majoritária efetivamente prevaleça sobre as pretensões escusas das minorias que controlam as empresas doadoras.
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Eu postei um comentário tratando exatamente da questão, ou seja, indagava e pedia que a resposta fosse dada por um jurista constitucionalista, como ficaria a ação (ADIN) apresentada pela OAB ao STF. Perguntava se ela poderia ser arquivada, frente à decisão da Câmara, ou se ela teria prosseguimento após o Ministro Gilmar devolvê-la. Meu comentário não foi enviado, aparecendo a indicação de que não o fora por se tratar de SPAM. Como isto pode ocorrer?
Tudo é possível neste mundo obscuro.
Muito bem, estamos acompanhando..
pouca vergonha esta coisa...
o meu deputado esta do lado certo
não ao financiamento empresarial.
... BAN-DI-DO! BANDIDO!
A $oldo de tantos outros!
A "elite" brasileira é podre!
E, absolutamente, BANDIDA!
*André Rocha: Até que ponto pode chegar o “espírito das artimanhas” quando desafia o “espírito das leis”?
*André Rocha é doutor em filosofia pela USP e pós-doutor em filosofia pela USP e pela Université Paris I –Pantheon Sorbonne.
publicado em 28 de maio de 2015 às 10:43
(...)
FONTE: http://www.viomundo.com.br/denuncias/andre-rocha-cunha-manobra-e-pode-produzir-uma-aberracao-constitucional-ate-que-ponto-irao-as-artimanhas-dele.html#comment-909976
Aristóteles Cardona: Reviravolta — e mais um golpe de Cunha contra a democracia
publicado em 27 de maio de 2015 às 23:56
(...)
Lista dos votantes do Congresso em Foco:
(...)
FONTE [LÍMPIDA!]: http://www.viomundo.com.br/denuncias/aristoteles-cardona-mais-um-golpe-de-cunha-contra-a-democracia.html
Desculpem-me, mas desde quando calhordas mantém a palavra?
Claríssimo o excelente texto do Secretário Geral da OAB. É só os deputados democratas (pouquíssimos) pedirem para assinar embaixo.
Uma offtopic... http://www.bandab.com.br/jornalismo/richa-diz-que-proposta-e-irrecusavel-e-culpa-pt-pela-continuidade-da-greve/
Para o PSDB, TUDO é culpa do PT.
Há quanto tempo os deputados comandados por edu CUnha separam-se da democracia, do povo que os colocou lá, naquela sodomia?
A democracia que edu Cunha pratica é quase toda ela voltada contra a sociedade.
A camarazinha do edu Cunha só se preocupa com o progresso particular - a sociedade brasileira é só um detalhezinho.
Quantos descumprimentos de palavra ainda teremos em detrimento do povo brasileiro?
Os políticos brasileiros estão conseguindo desconstruir a democracia.
E hoje os nossos parlamentares estão conseguindo se desvincular da sociedade brasileira.
O elo democrático "congresso nacional/câmaras estaduais e municipais + sociedade" acabou.
A impunidade que os políticos chamam de "imunidade parlamentar" os tornam onipotentes, onipresentes e outros 'onideuses', agindo somente em nome deles, sem respeito à sociedade que os colocou lá naquela sodomia política de Brasília, na farra das câmaras estaduais e na festa das câmaras municipais.