A revista Veja revela novos trechos da gravação da conversa que teve com Fábio Wajngarten e que gerou a entrevista que ele próprio tentou desmentir na audiência na CPI do Senado.
Neles, ao contrário do que afirmou peremptoriamente, sob juramento, fica claro que participou direta e intensamente da negociação – inclusive de preços – para a venda da vacina da Pfizer ao governo brasileiro.
Textualmente:
‘Eu tenho que dizer que era uma negociação dura, quadrada, mas eles encontraram em mim também um negociador preparado. E tudo que eu pedi eles enviaram esforços e disseram que fariam, anteciparam entregas, com quantidade e preço. Eles foram impecáveis comigo, impecáveis’ (…)‘Queria mais vacina no menor tempo possível, a maior quantidade no menor tempo possível. E dinheiro nunca faltou. E perto dos valores que foram ofertados aí, dez dólares a dose, que numa conversa rápida virou 9,60, 9,80, 9,60, 9,30, 9 e não sei quanto e até mesmo os dez.”
Setenta centavos de dólares por dose em 70 milhões de de doses… “Só” 49 milhões de dólares, “tacada” para ninguém botar defeito.
Mas como “convencer” o vendedor que sem esta baixa sensacional de preços – quem quiser acreditar que era em benefício dos cofres públicos, que acredite – iria mesmo para os fins que se dizia e para as pessoas a que se queria sugerir que iriam?
Será que um ocupante de cargo de 2° escalão, teria cacife próprio para isso, apesar daquela “demonstração de força” de levar um telefone para o gabinete presidencial e colocá-lo na orelha de Paulo Guedes?
Nada melhor para provar prestígio que receber em sua sala alguém sobre o qual nem um marciano poderia ter dúvidas sobre a proximidade e a influência sobre o Presidente, afetar intimidade, ouvir um pouquinho do assunto e sair dizendo: “eu tenho que ir, espero que dê tudo certo, isso vai ser muito bom para o país e para o governo, tenho certeza que vai haver um bom acordo”. Uma “social”, nada comprometedora.
Mas o “aval” está dado, para quem souber entender.
Claro que as duas diretoras da Pfizer entenderam o recado e informariam ao presidente da empresa, que providencialmente não estava lá, da “entrada casual” de uma figura tão importante quanto aquela, que o Brasil inteiro conhece. Elas, afinal, não são marcianas. Óbvio que também o presidente da empresa dourou a pílula à CPI, porque é evidente que não iria dizer, com US$ 2 bilhões em contratos recém-assinados com o governo brasileiro, que alguém deste governo lhe pediu vantagens indevidas.
Só admitiu o que disse desconhecer porque alguém soprou a Renan Calheiros os detalhes, de tal forma que poderia haver testemunhas ou provas de presenças heterodoxas naquele encontro. E Renan não ficou sabendo destes detalhes porque alguém passava no corredor e provavelmente já tem todo o esqueleto da história, porque nada tem de bobo.
O negócio, porém, “melou”, sabe Deus como. Eduardo Pazuello ao se ver bypassado pela empresa e por Wajngarten ou quem mais estivesse se associado a ele e por entender, como oficial de intendência, de todas as manhas de “compras vantajosas” para os almoxarifados possivelmente o brecou.
Afinal, que carta era aquela que ninguém recebeu? Que um tivesse “papado mosca” e deixado passar, vá lá. Mas o Planalto, a vice-presidência, três ministérios e um embaixador não darem atenção a uma carta de uma das maiores farmacêuticas do mundo, maior fabricante de vacinas contra a Covid, em plena pandemia, oferecendo imunizante em plena pandemia ia “passar batido” por tanta gente?
E porque Wajngarten, já com a CPI instalada, não veria naquilo uma oportunidade de não ficar “ao relento” depois de perder o comando das milionárias verbas de publicidade do Planalto?
Esta história inteira fede e pode crer que não é mero “sorvete na testa” de um bando de idiotas governamentais.