2ª dose: irresponsabilidade que vai virar bagunça

Está explicado porque o Ministério da Saúde, mesmo admitindo que havia quase 2 milhões de pessoas com a data de vacinação de reforço atrasadas, não fez uma campanha de comunicação para chamar esta gente a completar a imunização.

Não há vacinas, e o próprio ministro Marcelo Queiroga o admitiu hoje.

Não era difícil a quem tivesse um lápis e um papel de pão para fazer contas de somar que isso iria acontecer, quando se liberaram as reservas técnicas da Coronavac para serem aplicadas como primeira dose.

Foi o que fez este blog, há 15 dias, para escrever que estávamos perdendo a batalha da vacina também na segunda dose.

Praticamente todas as segundas doses a aplicar são de Coronavac e praticamente todas as poucas vacinas que se tem a entregar são Astrazêneca.

E qual foi a razão disso? Não deixe de lado o lápis e o papel e anote: no dia 21 de março, enquanto Marcelo Queiroga e Eduardo Pazuello andavam em par, o Ministério da Saúde autorizou a utilização de todas as vacinas contra a covid-19, entregues para Estados e municípios, para aplicação da primeira dose, invertendo a orientação de manter reservadas as doses necessárias para completar a imunização.

Foi a maneira de, artificialmente, acelerarem a vacinação, aplicando o dobro do número de doses, durante um mês.

Só que agora não tem com que aplicarem a segunda dose, nem quando o Butantan completar a entrega dos menos de 5 milhões de doses do seu primeiro contrato, o de 46 milhões, o que deve acontecer a partir da próxima segunda-feira.

Mais, só se os chineses implantarem imediatamente o segundo contrato, de 54 milhões de doses o que, se acontecer, tem forte chance de atrasar-se, pelo recrudescimento da epidemia na Índia e pelo fato de que a China, também no último mês, acelerou fortemente seu processo interno de vacinação, com a aplicação, em média, de 5 milhões de doses por dia, parte delas de Coronavac.

E daqui a três meses, poderemos ter o mesmo problema com a Astrazêneca, pois a Fiocruz admite que terá um hiato em sua produção se – e quando – passar a usar o insumo nacional, depois de esgotadas as ainda incertas encomendas do importado.

Mesmo as “amostras nada grátis” que a Pfizer promete entregar em breve (1 milhão de doses) não suprirão, por razões óbvias, esta lacuna.

Fernando Brito:
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