Lula e a Internet, por Paulo Nogueira

Agora à noite,Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, postou um texto que precisava ser escrito, depois que Lula falou ontem na “nossa mídia”, os blog e redes socais, ao discursar no Foro de São Paulo.

Embora seja difícil falar em “nossa mídia”, quando o governo brasileiro trata os sites extra-corporações na mídia internet como um diletantismo, para falar o menos, é importante que ele o afirme.

Representa um momento de lucidez dos líderes políticos, aquele em que se tornam capazes de compreender que a mídia como se entendia até há pouco – rádio, jornal e TV – está sendo sorvida pela internet, que é plataforma para as três e, ao mesmo tempo, é diferente das três.

Lula foi salvo pela mídia digital

Nem Getúlio e nem João Goulart tiveram um contraponto ao ataque selvagem da imprensa.

Paulo Nogueira 

Lula, com razão, deu ontem graças a Deus pelo aparecimento da internet, “nossa mídia”.

Não que a internet seja dele, ou do PT. Mas o fato de que a mídia digital não é controlada pelos suspeitos de sempre – Marinhos, Frias, Civitas, Mesquitas – é de fato alentador não apenas para Lula mas para a democracia.

No Brasil, os interesses privados da mídia desestabilizaram, ao longo da história, mais de um governo que não fizesse o que o chamado 1% queria que fizesse.

Jango, em 1964, foi derrubado. Antes dele, em 1954, Getúlio foi levado ao suicídio.

Não havia o contraponto que a internet oferece. A sociedade era manipulada sem a menor cerimônia.

Lacerda falava no “Mar de Lama” de Getúlio, e todos reproduziam. A maneira mais canalha e mais barata de atacar governos de esquerda é pelo lado da “corrupção”.

Os cidadãos mais influenciados pelo noticiário são levados a crer que o que existe na política é uma roubalheira, e que tirando o partido do poder o problema estará resolvido.

Quem mais fala em corrupção à luz do sol em geral é quem mais à pratica na sombra. Nos últimos anos, as empresas de mídia, por exemplo, levaram a sonegação de impostos ao estado da arte enquanto bradavam em manchetes sermões moralistas e mentirosos.

Mas o que você pode fazer quando todos os microfones estão com os outros?

Getúlio Vargas, num gesto inteligente e ao mesmo tempo desesperado, tentou criar uma alternativa à voz ultraconservadora dos barões da imprensa.

Ajudou o jornalista Samuel Wainer a lançar a Última Hora, jornal voltado para os interesses populares. Mas foi uma voz solitária contra a de uma matilha.

Carlos Lacerda, o Corvo, o desestabilizador mais estridente, começou a atacar Wainer por não ter nascido no Brasil, o que contrariaria a lei que rege a propriedade de mídia no Brasil.

(Ninguém, mais tarde, reclamaria do fato de a família Civita não ser originária do Brasil, excetuados os Mesquitas aristocráticos, porque ali estava mais uma voz da turma.)

Sob as condições em que foram caçados Getúlio e Jango, é presumível que Lula não tivesse resistido ao assédio.

Imagine o circo do mensalão sem o contrapeso da mídia digital. Provavelmente teríamos hoje um presidente chamado Joaquim Barbosa, a serviço do 1% e comprometido com a Globo e tudo que de maléfico ela representa.

Por isso Lula deve ser mesmo grato à internet. E não apenas ele, mas todos aqueles – petistas ou não – que anseiam por um país menor desigual e injusto do que aquele que a elite representada pelas famílias da mídia impuseram aos brasileiros.

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