Dinheiro do FGTS não vai para consumo; vai para os bancos, e dobrado

 

fgts3

Análise econômica, no Brasil é, em primeiro lugar, propaganda política e, logo a seguir, defesa dos  interesses do setor hegemônico de nossa economia: os bancos.

Por isso, não foi difícil dizer, mesmo dia de seu anúncio e na contramão dos que a apontavam como uma importante medida anti-recessiva, que a liberação do FGTS era a transferência de uma imensa massa de recursos sobre o controle do poder público para o campo das finanças: Grandes beneficiários da liberação do FGTS serão os bancos.

A pesquisa da Fundação Getúlio Vargas que O Globo publica hoje é apenas a confirmação, portanto, do que já era óbvio: dois terços dos R$ 40 bilhões que serão subtraídos da capacidade estatal de financiar investimentos públicos (e privados, de natureza estruturante)  serão transferidos para a banca, em condições imensamente vantajosas.

Um décimo, apenas, vai para atividades de consumo de bens, de serviços e outros destinos que gerem atividade econômica imediata, o que seria, em tese, o seu objetivo.

Quase a metade do total – e mais gravemente entre os mais pobres, no destaque – é dinheiro injetado na veia dos bancos e, acredite se quiser, um pagamento em dobro das supostas perdas que tiveram com a inadimplência de tomadores de crédito.

Para se ter uma ideia, a quitação de débitos é a prioridade de 60% dos que têm renda familiar até R$ 2.100, enquanto só 10% dizem que vão poupar. No outro extremo, entre os que ganham mais de R$ 9.600, 43,6% vão guardar o dinheiro, e só 24,5% pagarão contas em atraso.

Por que isso não seria positivo, ao menos como medida saneadora do crédito, se recursos eram dívidas e, portanto, dinheiro que pertenceria mesmo aos bancos?

Simples: porque esse dinheiro “perdido” já havia sido pago a eles, por toda a multidão de tomadores de crédito que honraram suas dívidas e as dívidas dos que não pagaram. No cálculo do “spread” bancário, que é o quanto o banco cobre nos empréstimos para além do quanto “pagou” aos que investiram o dinheiro, aproximadamente 30% se referem ao custo da inadimplência. Quem paga tudo, portanto, paga também por aqueles que deixaram de pagar.

Lógico que, quando se absorve quase R$ 20 bilhões em dívidas que, de outra forma, estariam perdidas – e que foram pagas pelos demais tomadores de empréstimo – está se recebendo em dobro aqueles valores, na prática.

Da mesma forma atuam os recursos colocados em investimentos ou poupança. Pequenos poupadores são imensamente lucrativos, quando já estão “bancarizados” e, com isso, geram baixo custo administrativo. Recebem taxas de juros mais baixas e seu dinheiro gira no mercado a taxas muito maiores. E esses pequenos recursos serão, como é óbvio, consumidos na complementação da renda continuamente em queda.

A renúncia a recursos públicos ou sob controle público – e  o fracasso das desonerações provou isso – só funciona como estímulo à atividade econômica quando direta e irrevogavelmente vinculados aos atos de consumo e, portanto, à necessidade de  produzir.

Quase tudo o que é diferente disso acaba sendo, numa economia como a nossa, sendo apropriado como lucro privado.

 

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

4 respostas

  1. Fernando, mais de 50%(pode ser 55% ou até 60%) receberão até 500 reais; talvez uns 300 reais em média; 24% receberão entre 500 e 1500 reais( talvez um salário mínimo em média); e o resto, entre 1500 e 3500 reais(talvez uns 3 salários mínimos em média). São aproximadamente 30 milhões de brasileiros. A Mídia vil mostrava, casos especiais, selecionava as poucas exceções, como se fossem a regra. Pessoas com roupas novas indo buscar o dinheiro. É claro que neste universo de 30 milhões, existem aqueles que ganharam 10 mil ou mais; mas são pouquíssimos. A grande massa ganhará menos de 500 reais. Lamentável esta propaganda enganosa. Até quando?

  2. imagine se os lacaios dos piores assaltantes da face da terra legalizados como banqueiros iria fazer coisa difernetes

  3. Essa foi uma das piores análises que já li por aqui. Como assim o dinheiro já havia sido perdido? Você acha que os trabalhadores que não conseguiram honrar suas dívidas estão com o nome limpo? Que foram perdoados porque o banco cobrou isso de outros clientes? Pelo amor de Deus! Esse dinheiro é bem vindo sim. Quem está endividado pode negociar suas pendências de forma mais vantajosa, quem não precisa pagar dívidas pode aplicar em condições muito mais vantajosas que no FGTS ou gastar com qualquer coisa que queira. Ideologia cega mesmo, pqp! Não quer o seu, não saca…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *