Embora numericamente expresse apenas uma variação estatística, a pesquisa Ipec divulgada na noite de ontem tem uma imensa significação política.
Dissipou-se, até aonde a vista alcança, a formação de um movimento pró-Bolsonaro em reação à liderança de Lula nas pesquisas, seja com o voto no atual presidente da República, seja numa derivação de eleitores em direção a candidatos alternativos, como rejeição ao ex-presidente.
Nem em um, nem em outro avançaram, ao contrário. E isso era o esperado, com a grande manifestação de Sete de Setembro e com a mudança para um tom de agressividade contra Lula e o PT na propaganda bolsonarista.
No UOL, o jornalista José Roberto de Toledo – a quem várias vezes já referi como um dos mais capazes em análises de pesquisas eleitorais – reflete este quadro num gráfico que elabora com “piso” e “teto” da votação possível para cada candidato, sendo o primeiro a declaração de voto espontânea, que revela o eleitor absolutamente decidido, e o “teto” a votação alcançada no 2° turno.
O resultado, que você vê no painel interativo abaixo mostra que a distância favorável a Lula, que é resumido no título de sua coluna: “Piso de votos de Lula cresce e fica oito pontos acima do teto de Bolsonaro”, ou seja: se só os que expressam espontaneamente o voto em Lula efetivamente votarem, ainda que todos os que admitem votar em Bolsonaro num segundo turno (isto é, sem outra opção de candidato), ainda assim a distância seria de oito pontos, ou pouco mais de 10 milhões de votos, considerada uma abstenção de 20%.
Toledo chama a pesquisa de “um soco no fígado da campanha de Bolsonaro” e diz que ele “não consegue avançar sobre eleitores de Lula nem sobre eleitores indecisos”, mesmo com as duas salvas de artilharia pesada: os auxílios sociais e a redução dos preços dos combustíveis e, depois, a mobilização de suas falanges idólatras.
E isso significa ânimo para a campanha – e no comportamento dos milhares de candidatos a outros cargos – de Lula e desânimo nas governistas, neste caso com um efeito ainda pior, à medida em que os candidatos do “Centrão” percebem que o eleitor bolsonarista tende a se fixar nos candidatos “raiz”, mais radicais e fanáticos.