Hoje cedo falei das contorções acacianas da Folha para não registrar que o povo brasileiro, majoritariamente, acredita na ação do Estado para trazer o progresso e o bem-estar social, embora a imprensa do seu país passe os dias reclamando e vociferando contra o intervencionismo estatal.
Outra pesquisa, do Ibope e da Confederação da Indústria, publicada pelo Estadão, apresenta um sentimento popular completamente diverso daquele que seria de esperar de um país que é mostrado como às vésperas de uma crise e à beira de uma voragem recessiva e inflacionária.
Quase dois terços (63%) dos brasileiros acham mais fácil avançar socialmente do que há dez anos, sentimento que é maior no Nordeste, onde 73% da população acha mais fácil melhorar de vida.
Diz ainda a matéria que “77% dos entrevistados consideram o padrão de vida melhor ou muito melhor do que o dos seus pais. Além disso, 84% dos entrevistados projetam que os filhos terão uma condição de vida melhor ou muito melhor”.
Lembro-me da frase de Brizola dizendo que “aquele que viu a face da esperança nunca mais dela se esquece”.
Pois é, o povo brasileiro, o imenso povo pobre deste país, como já não fazia há décadas, viu sua vida melhorar um pouco.
Pouco, mas o bastante para que voltasse a acreditar que era possível uma vida diferente.
É isso o que nossos jornais, nossas tevês, muitos de nossos intelectuais – tão voltados para seus umbigos pós-modernos – não conseguem mais captar, salvo raras exceções.
É, talvez, um de nossos maiores dramas, este divórcio.
Mas, felizmente, a realidade sempre se impõe e a força de um povo que deseja a felicidade, é capaz de abrir muitas mentes presas aos preconceitos e conceitos vazios de valor, em matéria de pensamento social, porque não tem valor algum aquilo que não é capaz de transformar o mundo.
Nem mesmo é uma crítica pessoal: por quanto tempo o próprio PT teve dificuldades em compreender o que representou Getúlio Vargas na formação do Brasil urbano e proletário? Quantas vezes ao ouvir a velha marchinha que dizia que “o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar” já ficavam prontos a discorrer sobre as manipulações populistas?
Pois não é que o Lula está bem de “velhinho”, servindo de símbolo do desejo de progresso, afirmação e felicidade do Brasil e de seu povo trabalhador?
A inteligência brasileira dos anos 60, classe média – em grande parte – filha da afirmação daquelas camadas populares, produziu um pensamento amigo e solidário a seu povo.
À medida em que o processo eleitoral avance, as ilusões de quem ainda não viveu muito e, por falta de passado, têm embaçada sua visão do presente vão se desvanecer.
Por mais pesadas que sejam as cortinas da mídia, elas não podem encobrir uma luz mais forte do que qualquer outra.
A face da esperança, que milhões de brasileiros viram e que, agora, trazem refletidas em seus rostos sofridos.
E essa face vai brilhar mais forte que todas as sombras que, todos os dias e por todos os meios, cuidam de lançar sobre ela.
Nossa luta não é feita de ódios ou rancores, mas também não se acovarda em apontar no outro lado a escuridão do passado.
Como nos versos de Pablo Milanés e Chico Buarque, “a História é um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropela indiferente, todo aquele que a negue”.
PS. Atrasada, a homenagem do Tijolaço ao aniversário, dia 5, da morte de Oscar Niemeyer, um intelectual que amou, compreendeu e serviu a vida inteira a seu povo.
8 respostas
Muito bem Fernando Brito. É essa força e essa compreensão que nos move!.. Viva a esperança calcada na luta e na firmeza do caminhar!
Em homenagem a Fernando Brito, que sempre tem uma palavra de esperança, e sabemos o quão difícil é manter-se nesta berlinda. Só por paixão.
Vou contar uma história.
Todo ano como tomados por uma compaixão, sem nos prender a dogmas, reunimos um dinheiro e vamos comprar uns presentes para meninos e meninas.
Entregamos tudo nas mãos de um vizinho nosso, que vai até uma “favela”, uma rua sem fim que acaba num buraco atras de uma fábrica.
Pois bem, neste ano não sabemos o que fazer….
Porque as pessoas não estão mais lá, estão morando ao lado de nossa vila, numa vila de MINHA CASA MINHA VIDA.
E nosso vizinho, que sabia identificar por nome cada uma das mães e crianças,esta pensando no que fazer…
No ano que vem, conto como conseguimos distribuir presentes..
Por que nós vamos distribuir…nem que as crianças não precisem mais.
Fiquei feliz demais em saber disto, e quando digo que as coisas estão melhorando é por que vemos ” a olhos vistos”, como dizia minha vó.
Eles passam em frente a nossas casas…é maravilhoso, os grandes Supermercados daqui, aos Domingos está cheio de pessoas fazendo o ” fornecimento”, e como não nascemos ontem, vemos que são pessoas humildes, coisa que a dez anos não víamos, eles só iam na venda e ficavam devendo sempre…
Eu tenho o meu olhar, e fico feliz a cada dia que passa, já tenho o meu quinhão.
Espero que minha história agrade as pessoas..
… a olhos vistos, Renato. Estou sempre a comentar isso com alguns amigos, colegas e parentes que insistem em negar a transformação social pelo que passou o Brasil nestes anos de Lula e Dilma. Além de não verem, negam a melhoria de vida deles próprios. Dizem que Lula prejudicou muita a classe média. Como assim???!! Estão viajando para o exterior uma, duas vezes por ano. Detalhe com a familia. A cada ano um automovel novo. Casas reformas ou trocadas e por ai vai. Ah!! Mais importante: NINGUEM DESEMPREGADO. Curiosamente são pessoas que se dizem cristãs e até catequistas, mas, no entanto, são contra o aumento de salário das empregadas domésticas, contra as cotas raciais…Veja a contradição.
Será que os trotskistas-cristãos-udenistas do PSOL viram essa pesquisa?
Sempre que leio, escuto ou vejo algo sobre o Brizola, sinto um tanto de saudade. Tenho orgulho de que meu primeiro voto foi para o Homem que desafiou o todo poderoso RM. Quanta falta fazes ao país, grande Brizola.
Fernando Brito, tenho 64 anos e amo Brizola, Darcy Ribeiro, Jango, Getúlio, Paulo Freire, desde “que me entendi por gente”, amo você tb. Senti muito a falta do TIJOLACO. Todo dia passo pelo seu blog que sempre alimenta minha esperança de um Brasil melhor. VIVA LULA e DILMAIS!
Outro dia, minha irmã e eu falávamos dessa esperança. Revoltadas com o outro espetáculo da justiça barbosiana, ela me disse que não sabia por que, mas que as coisas ainda iam melhorar mais. Até a diarista que trabalha para mim, avisou que vai voltar em Dilma. Não aceitava andar para trás.
Que belo texto! Não foi dito, mas claro que é sabido e sentido por muitos algumas questões envolvendo o trabalhismo no Brasil. No meu caso, por exemplo, sempre fui de tendência trabalhista, estive comunista por longo tempo, e via o PT e Lula, embora aliados, com muitas reservas, porque sabia que surgiram, muitos dizem, por necessidade da própria ditadura a que se opunham, no sentido de afastar os trabalhadores das linhas comunistas e trabalhistas, onde pontificava o inesquecível Leonel de Moura Brizola, todos pejorativamente atacados como demagogos populistas. Enfrentados como inimigos não como adversários. Se o PT e Lula foram frutos da ditadura, dez anos depois de terem chegado ao poder, pode-se dizer que foi um grande erro que a face mais retrograda de nosso capitalismo cometeu ou não pode impedir, seguindo as linhas internacionais às quais se subordinavam que então se utilizavam dos militares para fazerem o papel sujo em vários países. A verdade é que o capitalismo, seguindo sua tendência declinante, já deixou mais do que claro que é ilusória a promessa de garantir bem estar para toda população, atendendo a todos através do mercado, quando na verdade ficou evidente que o mercado na realidade concentra a renda na mão de poucos, sendo sua grande eficiência criar ricos e muito, poucos no total da população, ficando o restante preso e dependente do emprego e das necessidades de mão de obra do sistema, numa imensidão de pobreza sem direitos inclusive de sobrevivência, que os próprios capitalista controlam e manipulam, deixando a maioria, quando já velhos e não mais de todo úteis, largados ou sem aposentadoria ou recebendo rendas ridículas quando comparadas às que chegaram a ganhar. Mais ou menos como fizeram com os escravos deixados à própria sorte após a abolição, afrouxaram o controle que exerciam, e passaram a aceitar as linhas trabalhistas no poder de muitos países, onde tem sido possível figuras como Lula, Dilma, Chaves, Morales, e alguns outros, cuja atuação tem contraditado muitas das diretivas que vinham sendo seguidas para atender às diretrizes do neoliberalismo, que estava implantando o horror econômico, afastando o Estado desses países pobres no atendimento de suas populações mais carentes, obrigando seus governos a vender patrimônio público para pagar dívidas, beneficiando o capital financeiro. É evidente, entretanto que estão no aguardo que ocorram melhoras no capitalismo, e para isso funciona a mídia controlada internacionalmente e internamente em cada país, componente do sistema seu arauto e divulgador. Já vai para mais de três décadas, e mais agudamente quase uma década os problemas do sistema capitalista. Não consegue empregar suas populações nos países mais ricos, não há somente desemprego, mas grandes massas populacionais estão fora da economia formal vivendo de favores quase sem renda monetária. O sofrimento das massas é maior onde inexistem sistemas de proteção, caso do líder os EUA. Não sabemos claro, mas para países tão belicosos ao longo de História, o entendimento a que se chega é que uma guerra de grandes proporções mostra-se inviável para resolver os problemas do sistema como sempre foi feito. Não haverá controles e ninguém sairá ileso. Não deve existir clareza de qual será o resultado, quem serão os beneficiados. Por isso estou também entre os que sonham. O capitalismo mostra sua verdadeira face: não garante nem o bem estar nem a liberdade. Desde 2002, tendo votado no Lula e Dilma, pela primeira vez em seis décadas vejo-me diante de governos que apoio, mesmo dentro do sistema capitalista, e sendo peça importante do mesmo. Vejo que mesmo nas franjas, foi possível com pouco melhorar muitos. Só a burrice e o ódio ideológico não permite ver que o mundo está aos poucos mudando, que aos poucos o capitalismo está saindo de cena, transformando-se. Ainda estamos na fase de que é melhor perder os dedos.