Perdoem os caros leitores e as caras leitoras se este blog está sendo insistente com a questão do abastecimento de água em São Paulo.
Muito menos, aliás, do que os jornalões com um hipotético “apagão” na energia elétrica, cujos reservatórios estão muito acima, quase o triplo, dos níveis desesperadores que alcançou o Sistema Cantareira.
Não pensem que é fácil descobrir os indicadores mais precisos, entender a mecânica dos sistemas hidráulicos, conhecer os estudos sobre o tema, obter fontes em outra cidade e fazer, durante dias, o papel que a grande imprensa não fez.
Embora tudo estivesse diante dos seus olhos.
Mas, felizmente, ainda de modo tímido, está começando a fazer.
Muito embora, ainda, sem a clareza necessária e sem que seus repórteres e editores enfrentem diretamente as questões.
É preciso “colar” pedaços de informação.
Não está em discussão, está claro, se é correto ou não transferir água do Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira.
É obvio que não há nenhum problema nisso, feito de forma e em quantidade adequadas.
O que tem que ser discutido é se é essa a solução de mais curto prazo possível e a mais viável política e economicamente.
Está mais do que claro que dois anos não é horizonte suficiente para uma solução num sistema de reservatórios que hoje tem apenas 14%de sua capacidade e cujo coração baixou de 8% as suas reservas (Jaguari-Jacareí, 7,95% hoje), mesmo tendo entrado o quádruplo de água da véspera.
Com todo o bombeamento possível, o Cantareira tem seis meses de água, mesmo sem novas secas monumentais como a de janeiro-fevereiro.
A obra do Paraíba do Sul não é resposta para a crise atual.
E é discutível se seria para outras semelhantes que viessem a ocorrer.
Nem mesmo daqui a dois anos a água do Paraíba são garantia de evitar a repetição do que está havendo.
A Folha mostra o que registramos ontem. A obra, se tivesse sido feita em 2004, teria preenchido a primeira das condições para ser posta em operação: que o Cantareira tivesse menos de 35% de reservação em apenas 15 dos 180 meses passados desde então.
Menos ainda, porque, para isso acontecer, o Paraíba do Sul teria de ter mais de 75% da vazão normal.
E lá no Estadão vê-se que, neste momento, por exemplo, o reservatório no Vale do Paraíba de onde se tiraria a água para o Cantareira está em 38% de sua capacidade, o índice mais baixo em 70 anos.
Como as duas bacias são próximas, com chuvas comuns a ambas, veja o que acontece:
Pelo levantamento, a última vez em que isso aconteceu foi em 2005, quando o Cantareira passou cerca de um mês e meio com menos de 35% de capacidade, enquanto os níveis dos reservatórios da bacia passavam dos 75%.
Não é sério imaginar que um investimento de R$ 500 milhões pudesse ser, num momento destes, um simples “Belo Antônio”, que vai funcionar uma vez por década.
No Governo Serra a Sabesp serviu para fazer publicidade.
No Governo Alckmin está servindo para “vender” à população um futuro conflito Rio x São Paulo que não existe e, com isso, encobrir a gravíssima realidade do presente.
E a do próprio Governador.
Resta saber se o Governo Federal, através de sua agência de águas, vai ser cúmplice desta empulhação.
E se a imprensa não é capaz de reunir as informações que ela própria publica e escrever um título como o que tem este post.
18 respostas
Se morasse em Sao Paulo ja estaria montando esquema de coleta de agua de chuva, ou cavando poco artesiano.. E o Governo pro diabo que o carregue.
Caro Maurício, moro em Campinas e fico impressionado com o desconhecimento do povo daqui para esse problema, que pode se tornar gravíssimo.
Sempre que toco no assunto com pessoas que eventualmente encontro, parece que estou falando de seca lá no nordeste…
Não sei o que vão fazer quando a torneira secar de vez.
Ficar sem agua nao da, meu amigo! Brincadeira desse Governador!
Alkimim anuncia construção de duas Represas em 2015 na região de Campinas,jaguari e camnducaia. Interligação por duto, bacia do Rio paraiba e Cantareira
http://correio.rac.com.br/_conteudo/2014/03/ig_paulista/161955-obras-de-duas-novas-represas-na-regiao-comecam-em-2015.html
Mera indicação para propaganda política: Vote em mim, que eu faço as represas para conter a seca (que eu mesmo dei causa, com minha omissão).
p.s.: o parêntesis não será proferido no debate.
Depois de 20 anos no governo de SP e só agora ele se lembrou de construir represas. É muita cara de pau do Sr. Geraldo Alston.
“Jeito tucano” de governar.
Esperam as coisas entrar em colapso para fazer obras, contratações e compras de emergência, dispensando licitações e estudos mais sérios de projetos.
É uma bomba-relógio que ele está fazendo de tudo para estourar só na próxima gestão.
Sabe um assunto em que os blogues podem ajudar o governo e muito, diante deste “tiro no pé” da Presidenta, é começar a criar matéria sobre os pré sal e a evolução da petrobrás.
Concordo que o caso da falta d’água em SP evidencia a má gestão tucana e que a ‘solução’ do Alkimin é uma piada de mau gosto. Os dados deste artigo mostram que essa proposta só tem um característica: eleitoreira.
Mas… a gente sempre reclama que PIG/oposição só bate e não propõe. Pergunto, cadê a bancada do PT na Alesp?? Eu votei na legenda. Não quero saber mais detalhes das causas deste problema e sim qual (is) a(s) propsota(s) para solucioná-lo dos deputados estaduais (e/ou lideranças) do PT?
Com certeza isso vai ser tema da campanha eleitoral e os candidatos terão que apresentar soluções para o futuro. E o PIG vai cobrar de Padilha, a partir de 1º de janeiro, a solução para os problemas que não cobraram em 20 anos.
Mas para resolver o problema imediato, é preciso primeiramente que Alckmin e a imprensa tucana ajam com transparência e honestidade, e informem à população a real gravidade da situação dos reservatórios, para que haja uma grande redução do consumo. E ao mesmo tempo, iniciar urgentemente o racionamento da água. Não há outras soluções no curto prazo, pois obras necessitam tempo, e deveriam ter sido feitas antes. 20 anos no governo do PSDB e nada fizeram, e nem mesmo agora que a situação chegou nesse ponto, não fazem o que tem que ser feito, para não ficarem com uma imagem ruim junto aos eleitores. São completamente irresponsáveis.
Seria muito importante conseguir os Planos Diretores de Abastecimento da RMSP que a Sabesp fez. Ali iria se descrever é a mais improvável. Há soluções, já estudadas há muitas décadas, que são mais favoráveis.
O governador escolheu a dedo o Paraíba porque se encaixou de maneira ideal para seu objetivo: transformar sua irresponsabilidade e aventureirismo político em um problema de disputa de água que pode envolver a Presidenta Dilma (como já vem acontecendo nos jornalões; e pouco importa que isso é um samba do criolo doido; a mídia faz o que quer nesse contexto).
(meu comentário anterior saiu errado)
Seria muito importante conseguir os Planos Diretores de Abastecimento da RMSP que a Sabesp fez. Ali iria se descrever que a opção de captar no Paraíba do Sul é a mais improvável. Há soluções, já estudadas há muitas décadas, que são mais favoráveis. O Sintaema poderia ajudar a desenterrar esses Planos.
O governador escolheu a dedo o Paraíba porque se encaixou de maneira ideal para seu objetivo: transformar sua irresponsabilidade e aventureirismo político em um problema de disputa de água que pode envolver a Presidenta Dilma (como já vem acontecendo nos jornalões; e pouco importa que isso é um samba do criolo doido; a mídia faz o que quer nesse contexto).
Fernando, de onde pode vir a necessária água para São Paulo? Existe alguma coisa que possa ser feita além do racionamento? Existe algum rio ou reserva que possa fornecer a água necessária? É possível fazer uma obra emergencial para evitar o esgotamento completo do atual sistema?
Não se pode inventar obras deste tipo a curtíssimo prazo. Pode haver algum alívio interligando redes de distribuição, para usar as outras reservas da Sabesp em nível bom ou ótimo. No curto prazo, é preciso ter a coragem de dizer que se fará manobras emergenciais, não soluções. Há vários projetos que o governo de Saõ Paulo vem adiando. Agora, assinou a obra de São Lourenço, em Ibiúna, que terá 5 mil metros cúbicos, parte para a área do cantareira. Foi lançado o projeto em 2012 – com direito a vídeo, assista em https://www.youtube.com/watch?v=N7L4eHIg9TA – e o licenciamento, licitação, etc, levou um ano. A ordem de serviço foi dada há menos de um mês e a obra leva três anos. A captação do Vale do Ribeira, que deveria funcionar a partir de 2016, ficou para 2018, com obras mal iniciadas (http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/agua-do-vale-do-ribeira-so-chega-a-capital-em-2018http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/agua-do-vale-do-ribeira-so-chega-a-capital-em-2018). A verdade é que, para o sistemficar seguro, já que não se fez antes, é preciso cortar o volume de água distribuido. Mas o governador terá coragem de assumir isso?
São Paulo, o POVO de São Paulo, não merece isto gente..
O Brasil não merece, que um Governador depois de enganado
pela assessoria do PSDB, coloque o BRASIL inteiro na Berlinda.
Tipo eu estou dando uma solução, mas vocês não querem usar…
Lamentável, tenho até pena do Governador, pois nestas horas ele
sabe quanto faz falta uma boa equipe..
Parabenizo novamente o brilhante trabalho do Fernando Brito. Mesmo que a nossa mídia não tivesse um enorme rabo preso não poderíamos dela esperar um trabalho da consistência desse apresentado pelo Fernando.
Gostaria de colocar duas informações para conhecimento dos colegas leitores. A primeira diz respeito ao sistema de distribuição de água potável da RMSP. Ele é praticamente integralmente interligado. Por isso é possível já, hoje, a Sabesp fazer manobras dirigindo o abastecimento de alguns setores para outros. É possível que medidas complementares devessem ser realizadas para setores de distribuição mais isolados, como no caso de alguns municípios da RMSP que compram água tratada por atacado, recebendo-a de uma ou algumas poucas adutoras.
Segundo, sobre a questão das fontes de água propriamente ditas. A exploração de mananciais de água fora da bacia hidrográfica do Alto Tietê já é prática bastante antiga. São as transposições que se fazem necessárias em grandes cidades e regiões metropolitanas. As soluções mais favoráveis consideradas em estudos de planejamento que remontam às últimas década do século passado, apontaram mananciais do vale do Ribeira do Iguape ao sul da RMSP.
Diversas regiões metropolitanas no mundo realizam captações em outras bacias. O caso mais tristemente famoso é o da cidade do México que traz água de mananciais situados a 250 km de distância.
Quero, no entanto, insistir em um ponto que não tem sido discutido até agora. O sistema de gestão dos recursos hídricos no Brasil é referência mundial, pois realiza o gerenciamento de forma integrada, com participação social e adota como área de gerenciamento o território da bacia hidrográfica, entre outros princípios, diretrizes e instrumentos originados da Constituição de 88. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tiete (a bacia está “dentro” do mapa político da RMSP) está constituído há mais de 10 anos . Em observância à lei paulista 7663/91 ele tem composição tripartite: 1/3 de órgãos do governo do estado de São Paulo, 1/3 de órgãos representantes dos governos municipais da bacia e 1/3 da sociedade por meio de entidades. Igualmente nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí há Comitê constituído (CPCJ) e, diga-se de passagem, pioneiro, pois foi lá, antes da aprovação da lei 7663 que teve início mobilização social através do Consórcio do PCJ. A lei federal 9433/97 veio aperfeiçoar o sistema de gestão de recursos hídricos de todo o Brasil. Assim, por meio, das leis estaduais (7663 SP) e da lei federal temos um belíssimo sistema de gestão. Um dos instrumentos mais importantes para realizar o gerenciamento das águas, previsto na 9433, é o Plano de Bacia que é aprovado pelo Comitê da respectiva bacia. É preciso destacar que o Comitê é soberano com relação aos planos da bacia.
Pois bem, tudo isso só para perguntar: onde estão os Comitês nesse momento de decisão crucial? Por que a prerrogativa de outorga pelo direito de uso da ANA e do DAEE-SP se sobrepuseram à manifestação dos respectivos Comitês de Bacia? Aliás o que dizem os Planos de Bacias das respectivas bacias hidrográficas sobre o Sistema Cantareira? Se não puderam abordar esse momento crítico, mais um motivo para que os Comitês interviessem. Tenho a impressão que houve um atropelamento de todo o sistema o que é péssimo, como estamos vendo.
Vou tentar buscar informações a respeito para tentar esclarecer essas questões.
As autoridades dos dos Estados são incompetentes, pois ambos Estados:
– não preservam nem revitalizam seus mananciais e suas matas ciliares, permitindo desmatamentos;
– as cidades jogam seus esgotos sem tratamento no rio (exemplo de Taubaté);
– até aterros sanitários sobre aquíferos de recarga hídrica são permitidos (exemplo de Soropédica).
– Urge que mudemos não só os políticos, como também os seus apaniguados técnicos;
– E quanto dinheiro foi gasto e ainda vai ser gasto para obras paliativas!?!?
Um abraço
Sergio da Costa Velho