Sem que tenha tido destaque nos jornais, o UOL noticia hoje que Luiz Fernando Alves, 22, desistiu de cursar a Faculdade de Medicina de Rio Preto por conta das ameaças que recebeu de veteranos do curso em razão de ter denunciado à polícia e à direção da instituição as agressões e torturas que recebeu numa “festa de trote”.
Note que serão, em pouco tempo, médicos.
Dias atrás, apareceu o caso das meninas da USP de São Carlos, submetidas a humilhações sexuais por veteranos.
O fenômeno dos trotes violentos – e não precisa nem ser assim para ser violento – tem uma ligação muito forte com o pensamento “coxista”que está se espalhando na nossa juventude de classe média.
Não sou purista e já recebi e passei trotes. mas nada que fosse além do que meu ex-calouro e bom colega de O Dia, Fernando Molica, descreveu em seu blog, num ótimo artigo sobre o fascismo nestes ritos.
Por isso, transcrevo aqui o que outro correto companheiro de profissão, Leandro Fortes, publicou em seu Facebook.
Um alerta sobre o que podem carregar, na alma e em sua formação, alguns profissionais cuja função, contraditoriamente, é cuidar da saúde e da dignidade de seres humanos.
Mais médicos, menos canalhas
Leandro Fortes
Quando é que as reitorias das universidades públicas vão enfrentar, de fato, essa tradição cretina do trote, sobretudo nos cursos de medicina?
É inaceitável que pessoas que pretendem se tornar médicas possam, ainda que de forma lateral, participar dessa estupidez, dessa insensatez infantiloide que, no fim das contas, explica muito sobre os profissionais de medicina do Brasil.
Eu fui aluno de escolas militares nos anos 1970 e 1980, quando os trotes eram violentos e humilhantes, como esses das faculdades de medicina. Era uma violência que, obviamente, refletia o país em que vivíamos, o Brasil da ditadura, da tortura e do arbítrio.
Ainda assim, os militares partiram para o enfrentamento do problema, ainda nos anos 1980, e passaram a expulsar sumariamente os psicopatas que aproveitavam da tradição para agredir, extorquir e roubar calouros.
E é isso que falta nas universidades brasileiras: o recurso de expulsão sumária de quem dá trote, qualquer trote, e consequente abertura de processo criminal.
Também tem que acabar com essa babaquice de “trote cidadão”, porque, se é trote, nada tem a ver com cidadania. Ninguém pode ser coagido a nada por ser calouro, nem mesmo a doar cestas básicas ou a fazer faxina em creche.
O “trote cidadão” serve como brecha para o trote violento e a humilhação.
Estudantes de medicina que dão trote, qualquer trote, se tornam esses marginais de jaleco que veem a profissão como uma atividade de caça níqueis e dispensam aos pacientes um tratamento frio, desumano e canalha.
Isso quando não viram esses coxinhas rebeldes que têm nojo de andar na periferia, mas vão para o desembarque dos aeroportos chamar os médicos cubanos de escravos.
18 respostas
Muito bem. Apoiado. Assino embaixo.
abraços
Regina
Apenas corrigindo… o caso da USP de São Carlos foi no início de 2013, e não “dias atrás”.
obrigado, posso ter olhado rápido demais a data
E a data altera a aberração da prática?
Não, mas é importante que um jornalista dê a informação correta.
Manifestação oportuna e corajosa. Não é por acaso a resistência dos profissionais da medicina ao programa mais médicos dirigido a assistir o mais necessitados.Estão faltando valores morais nas escolas de medicina brasileiras
Mas e daí, os caras vão ser presos?
O cara não vai ter proteção?
Os caras não vão ser expulsos?
Onde está o Ministério Publico?
Onde esta o Dapena?
É escola particular?
Queremos os nomes? Foi feito BO?
Saiu no Jornal Local?
Não esquecendo daquele japonezinho que morreu afogado na piscina!
Japonezinho não. Brasileiro!
Vá escrever bem assim… …todos os dias!!!
Imagine nesse quadro a maconha correndo solta, e liberada, qualquer irregularidade sera a ela atribuída e logo justificada. É tudo que os tucanos defendem – reduzir a maior idade, liberar a maconha e privatizar as detenções. É dinheiro que não vai caber em helicópterozinho não, vai precisar de muitos vagões de trens e metros. Paulista, onde vocês foram parar, subestimados, humilhados, xavecados e usados, e sem água.
Os donos da grande mídia não questionam porque tem seus descendentes
e assemelhados cursando medicina. Qualquer dia vem uma reação das vítimas dos trotes e aí quero ver como vão reagir os que se calaram
diante da violência dos queridinho de jaleco branco.
Luiz Fernando não desista cara. Vá em frente. reaja.
Infelizmente a tendência é só piorar. Sou médico e vejo as novas gerações de médicos se tornarem meros intermediários das indústrias farmaceutica e de equipamentos médico-hospitalares.
Como já vaticinava Fritjof Capra em “O ponto de Mutação”
Essa turma de COXINHAS,estuda medicina com o intuito de ficarem ricos que nem seus pais.Enquanto novos,passam quase todo o tempo,bêbedos.Após alguns anos,além de ódio ao que fazem e desprezo aos pobres,viram cidadãos taciturnos,que votam na direita.Raras exceções!Doença incurável!
O título deveria ser “Médicos e monstros” com Dr. Jekill e Mr Hyde.
Infelizmente ainda não surgiu nenhum parlamentar corajoso para apresentar um Projeto de Lei que venha a estirpar esse mal definitivamente que é o trote violento nas escolas.
Todo ano é a mesma coisa. Estudantes são maltratados só porque eles tiveram a felicidade de serem aprovados. Isso é um dos muitos absurdos que acontecem nesse país.
O trote violento fere a dignidade humana e o direito individual do cidadão.
Acho que está na hora de fazer algum movimento para exigir providências do governo e dos dignissimos parlamentares.
Na minha juventude,o Trote de Medicina da então Universidade do Recife, era uma passeata de protesto e crítica política nacional e internacional e muito deboche com certa figuras das elites. Saudade. Mas sabe como é: 25 anos de ditadura depois, avacamericanalhamos.