Um presente do sol

taiguara

Ontem, eu conversava com uma leitora deste blog, pelo Facebook, sobre como eu entendo este espaço aqui, dentro dos limites possíveis: um diálogo.

Nem tanto porque as conversas se desenvolvam, impossível fazer isso com as centenas de intervenções que o que digo recebem, mas pela vontade que tenho de partilhar com quem me lê aquilo que tenho para dizer: certo ou errado, ilusório ou real, arguto ou tolo.

Sempre, porém, apaixonadamente.

Hoje, assisti o dia clarear pela janela e, ao voltar para essa janelinha iluminada, porém frequentemente monótona, miúda e sem horizontes, me deparei com um texto e uma lembrança que me tocaram e que talvez toquem a mais alguém, o que já vale muito.

Há um blog, o qual recomendo vivamente, chamado Brasil, China e o Sul Global, da socióloga e professora de Oxford Rosana Pinheiro-Machado.

Não, não pense em temas áridos e linguagem empolada, porque lá você não vai achar isso.

Vai achar coisas como esta, que me deu vontade de partilhar com vocês já pela manhã, porque me trouxe tanta luz como a desta manhã de abril.

Um gran recuerdo do meu querido Taiguara, admirado na adolescência e mais ainda depois ,nos tempos de contra-mão, com Prestes e Brizola, nos anos 80, quando andamos juntos por comícios e campanhas e que continuou presente, durante muitos anos e todos os dias, em minha vida, ao passar diante do pequeno colégio que leva seu nome, na Rua Aarão Reis, em Santa Teresa, onde eu morava e ele morou.

E eu me perguntava, olhando o letreiro, quem saberia que aquele nome, Taiguara Chalar da Silva, era um sempre guri com a paixão, os sonhos e a vontade apesar de tudo o que lhe fizeram, cortando uma das mais promissoras carreiras da música brasileira.

Rosana traz a imagem e o texto  de um precioso manuscrito que em que Taiguara faz uma paródia de sua própria obra, uma das mais conhecidas de suas composições: Universo do Teu Corpo.

Nossos velho e bom motivo/São milhões de seres vivos/Num universo desumano e desigual/Pois lutar é o meu ofício/Diz a história desde o inicio/Que a maldade sempre chega ao seu final.

Talvez seja nisso que resida a melhor parte desta temporada de recordações do golpe militar, e que me valeu até algumas “patrulhadas” de leitores.

Mais do que lembrar o que fizeram à nossa juventude, o que creio que vale mais lembrar é o que nossa juventude foi capaz de fazer e que, tempo passando, foi capaz de continuar a fazer, desmentindo o que ele próprio, Taiguara, escreveu:

E o tempo passa/E nem o tecido/Da Casa Pernambucana fica

Fica sim, índio velho.

Leia aqui o post de Rosana Pinheiro-Machado, com um trechinho da paródia, em vídeo.

 

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10 respostas

  1. Sem dúvida, hoje é um dia de sol. Graças à memória de Rosana e Fernando. Graças à Taiguara.

  2. Caro Fernando, nesses últimos anos, o Tijolaço tem sido para mim, e acredito que para muito mais gente, um oásis de informação qualificada onde venho beber “água limpa” para não morrer sufocado pela sujeira de uma mídia canalha. E além de tudo, temos agora o prazer de rever coisas como essa amostra do Taiguara. Muito obrigado por se dedicar a nos manter informados e nos brindar com arte que vale a pena.

  3. Grande Taiguara ! Grande revolucionário ! foi uma pena ter partido tão cedo. Estamos precisando muito de Taiguaras. Lula está aí, esse grande Estadista, Dilma também, mas precisamos de mais Taiguaras para ajudar o Brasil juntamente com Lula afim de que possamos continuar nesse nosso ciclo de desenvolvimento social.

  4. ISTOÉ REVELA CONTA DE R$ 64 MILHÕES DO PSDB NA SUÍÇA
    :
    Ela se chama “Marília” e foi aberta no Leumi Private Bank, em Genebra; por ela transitaram cerca de R$ 64 milhões das propinas que azeitaram os negócios da Siemens e da Alstom no Brasil; a conta foi também movimentada por homens da cozinha dos governos de Mario Covas, em São Paulo, e até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; documentos já estão em poder do Ministério da Justiça e parte dos recursos foi bloqueada por autoridades suíças; e agora: será que tucanos serão denunciados pelo Ministério Público?
    23 DE AGOSTO DE 2013 ÀS 21:41

    247 – Uma conta bancária na Suíça, conhecida como “Marília”, foi usada para movimentar as propinas que azeitaram os negócios da Siemens e da Alstom com governos do PSDB, em São Paulo. Por ela, transitaram cerca de R$ 64 milhões em propinas e os recursos foram gerenciados por homens da cozinha dos governos de Mario Covas, em São Paulo, e até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Este é o tema de uma reportagem bombástica da revista Istoé, que acaba de chegar às bancas. Até agora, o procurador Rodrigo de Grandis reluta em denunciar tucanos indiciados pela Polícia Federal (leia aqui). Será que vai manter a conduta?

    Leia abaixo a reportagem de Istoé:

    A conta secreta do propinoduto

    Documentos vindos da Suíça revelam que conta conhecida como “Marília”, aberta no Multi Commercial Bank, em Genebra, movimentou somas milionárias para subornar homens públicos e conseguir vantagens para as empresas Siemens e Alstom nos governos do PSDB paulista

    Claudio Dantas Sequeira e Pedro Marcondes de Moura

    Na edição da semana passada, ISTOÉ revelou quem eram as autoridades e os servidores públicos que participaram do esquema de cartel do Metrô em São Paulo, distribuíram a propina e desviaram recursos para campanhas tucanas, como operavam e quais eram suas relações com os políticos do PSDB paulista.

    Agora, com base numa pilha de documentos que o Ministério da Justiça recebeu das autoridades suíças com informações financeiras e quebras de sigilo bancário, já é possível saber detalhes do que os investigadores avaliam ser uma das principais contas usadas para abastecer o propinoduto tucano. De acordo com a documentação obtida com exclusividade por ISTOÉ, a até agora desconhecida “conta Marília”, aberta no Multi Commercial Bank, hoje Leumi Private Bank AG, sob o número 18.626, movimentou apenas entre 1998 e 2002 mais de 20 milhões de euros, o equivalente a R$ 64 milhões. O dinheiro é originário de um complexo circuito financeiro que envolve offshores, gestores de investimento e lobistas.

    Uma análise preliminar da movimentação da “conta Marília” indica que Alstom e Siemens partilharam do mesmo esquema de suborno para conseguir contratos bilionários com sucessivos governos tucanos em São Paulo. Segundo fontes do Ministério Público, entre os beneficiários do dinheiro da conta secreta está Robson Marinho, o conselheiro do Tribunal de Contas que foi homem da estrita confiança e coordenador de campanha do ex-governador tucano Mário Covas. Da “Marília” também saíram recursos para contas das empresas de Arthur Teixeira e José Geraldo Villas Boas, lobistas que serviam de intermediários para a propina paga aos tucanos pelas multinacionais francesa e alemã.

    O lobista Arthur Teixeira personifica o elo entre os esquemas Alstom e Siemens. Como ISTOÉ já revelou numa série de reportagens recentes, com base nas investigações em curso, Teixeira e seu irmão Sérgio (já falecido) foram responsáveis por abrir as empresas Procint e Constech, além das offshores Leraway Consulting e Gantown Consulting, no Uruguai, com o único objetivo de servir de ponte ao pagamento de comissões a servidores públicos e a políticos do PSDB. Teixeira tinha acesso privilegiado ao secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, e ao diretor de Operação e Manutenção da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), José Luiz Lavorente, o encarregado da distribuição em mãos da propina.

    Até 2003 conhecido como Multi Commercial Bank, depois Safdié e, a partir de 2012, Leumi Private Bank AG, a instituição bancária tem um histórico de parcerias com governos tucanos. Em investigações anteriores, o MP já havia descoberto uma outra conta bancária nesse banco em nome de Villas Boas e de Jorge Fagali Neto, ex-secretário de Transportes Metropolitanos de SP (1994, gestão de Luiz Antônio Fleury Filho) e ex-diretor dos Correios (1997) e de projetos de ensino superior do Ministério da Educação (2000 a 2003) na gestão Fernando Henrique Cardoso. Apesar de estar fora da administração paulista numa das épocas do pagamento de propina, Fagali manteria, segundo a Polícia Federal, ascendência e contatos no governo paulista. Por isso, foi indiciado pela PF sob acusação de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Fagali Neto também é irmão de José Jorge Fagali, que presidiu o Metrô na gestão de José Serra. José Jorge é acusado pelo MP e pelo Tribunal de Contas Estadual de fraudar licitações e assinar contratos superfaturados à frente do Metrô.

    Para os investigadores, a “conta Marília” era usada para gerenciar recursos
    de outras contas destinadas a abastecer empresas e fundações de fachada

    Para os investigadores, a “conta Marília” funcionaria como uma espécie de “conta master”, usada para gerenciar recursos de outras que, por sua vez, abasteceram empresas e fundações de fachada, como Hexagon Technical Company, Woler Consultants, Andros Management, Janus, Taltos, Splendore Associados, além da já conhecida MCA Uruguay e das fundações Lenobrig, Nilton e Andros. O MP chegou a pedir, sem sucesso, às autoridades suíças e francesas o arresto de bens e o bloqueio das contas das pessoas físicas e jurídicas citadas. Os pedidos de bloqueio foram reiterados pelo DRCI, mas não foram atendidos. Os investigados recorreram ao STJ para evitar ações similares no Brasil.

    O MP já havia revelado a existência das contas Orange (Laranja) Internacional, operada pelo MTB Bank de Nova York, e Kisser (Beijoqueiro) Investment, no banco Audi de Luxemburgo. Ou seja, “Marília” é mais um nome próprio no dicionário da corrupção tucana. Sabe-se ainda que o cartel operado pelas empresas Siemens e Alstom, em companhia de empreiteiras e consultorias, usava e-mails cifrados (leia quadro).

    RELAÇÃO COM FHC
    Um dos beneficiários da propina oriunda da Suíça, Geraldo Villas Boas
    mantinha uma conta conjunta com Jorge Fagali Neto, ex-diretor de projetos do
    Ministério da Educação (2000 a 2003) na gestão de Fernando Henrique Cardoso

    Os novos dados obtidos pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça dão combustível para o aprofundamento das investigações no Brasil. Além do processo administrativo aberto pelo Cade sobre denúncia de formação de cartel nas licitações de São Paulo e do Distrito Federal, outras duas ações sigilosas, uma na 6ª Vara Federal Criminal e outra na 13ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, apuram crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa. Além de altos funcionários do Metrô, como os já citados Lavorente e Fagali, as investigações apuram a participação do ex-secretário de Energia e vereador Andrea Matarazzo, em razão de contratos celebrados entre a Companhia de Energia de São Paulo (CESPE) e a Empresa Paulista de Transmissão de Energia Elétrica S.A. (EPTE).

    Na documentação encaminhada pelo DRCI ao MP de São Paulo, a pedido do promotor Silvio Marques, também constam novos dados bancários de vários executivos franceses, alemães e brasileiros que tiveram algum tipo de participação no esquema de propinas. São eles os franceses Michel Louis Mignot, Yves Barbier de La Serre, André Raymond Louis Botto, Patrick Ernest Morancy, Jean Pierre Antoine Courtadon e Jean Marcel Jackie Lannelongue e os brasileiros José Amaro Pinto Ramos, Sabino Indelicato e Luci Lopes Indelicato, além do alemão Oskar Holenwger, que operou em toda a América Latina. Na Venezuela, Holenwger é citado junto a Mignot, La Serre, Morancy e Botto em investigação sobre lavagem de dinheiro, apropriação indébita qualificada, falsificação de documentos e suposta corrupção de funcionários públicos do setor de energia.

    O apoio das autoridades de França e Suíça às investigações brasileiras não tem sido tão fácil, e a cooperação é mais recente do que se pensava. O Ministério da Justiça chegou a pedir o compartilhamento de informações ainda em 2008 – auge da investigação da Siemens e da Alstom. Mas não foi atendido. Os franceses lembraram que, nos termos do acordo bilateral, a cooperação só pode se desenrolar por via judicial. Dessa forma, foi necessário notificar o Ministério Público Federal para que oficiasse junto à 6ª Vara Criminal Federal e à 13ª Vara da Fazenda Pública. O compartilhamento só foi efetivado em dezembro de 2010.

    A Suíça, ainda em março de 2010, solicitou a cooperação brasileira na apuração das denúncias lá, uma vez que parte do dinheiro envolvido nas transações criminosas teria sido depositada em bancos suíços. Os primeiros dados, relativos à empresa MCA e ao Banco Audi de Luxemburgo, chegaram ao Brasil em julho de 2011. Foram solicitadas ainda oitivas com determinadas testemunhas, o que foi encaminhado ao MPF em São Paulo e à Procuradoria Geral da República (PGR). Paralelamente, a Polícia Federal abriu o inquérito nº 0006881-06.2010.403.6181, mas só no último dia 25 de julho o procurador suíço enviou às autoridades os dados bancários solicitados, por meio de uma decisão denominada “conclusive decrees”, proferida em 14 e 24 de junho. Foi com base nisso que a Suíça já bloqueou cerca de 7,5 milhões de euros que estavam na conta conjunta de Fagali e Villas Boas, no Safdié. Tratou-se de uma decisão unilateral suíça e a cifra não é oficial – foi fornecida ao Ministério da Justiça por fonte informal. A Suíça só permite o uso dos dados enviados em procedimentos criminais.

  5. Fernando
    Sou leitora assídua do seu blog. Voce consegue esclarecer muita coisa e eu sempre o recomendo para os mais desavisados. Mas agora, voce se superou com a lembrança do Taiguara. Emocionante.
    abraço agradecido
    Regina

  6. Meu emocionado muito obrigado a Fernando, Rosana e ao grande e inesquecível Taiguara, por nesse belo domingo brilhante de sol de outono, lembrar-nos o quanto fomos, somos e sempre seremos melhores que eles, por nunca esquecermos que somos humanos.

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