Cantareira: desenhando, para ajudar a imprensa paulista a perguntar

doisgraficos

Ontem, fiz um apelo público para que os jornais paulistas se interessassem pela súbita mudança de padrão  na operação do Sistema Cantareira, coincidente com a posse de Mauro Arce no comando da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado.

Foi inútil, mas pacientemente insisto, agora “desenhando” na imagem aí de cima para ver se as chefias de reportagem entendem o que está acontecendo e procurem saber o que está havendo. (Clique para ampliar, na pagina do post)

Todos estes dados são públicos e podem ser consultados, para qualquer data, no site de divulgação detalhado do estado do Sistema Cantareira, se quiserem se dar ao trabalho de saber mais do que olhar o percentual no site da Sabesp que informa apenas a disponibilidade total de água no sistema, que aliás caiu para 12%.

Até o dia 9, a maior parte da água mandada a São Paulo vinha do primeiro e  maior reservatório do Sistema, o Jaguari-Jacareí.

Isso aconteceu mesmo quando temporais levaram grande quantidade de água(22 m³ por segundo) ao últimos dos reservatórios , o minúsculo Paiva Castro, no dia 8 de março.

Desde que Mauro Arce tomou posse, há três dias, a retirada de água do Jaguari-Jacareí foi reduzida de valores entre 18 e 21 m³/s para 5 e 3 m³ por segundo, anteontem e ontem.

Pode ser perda de pressão hidráulica na última das saídas de água da tomada d’água do túnel de saída da represa, que está descoberta até a metade. Pode, mas é difícil acreditar que essa perda seja de tal intensidade em um único dia, que representa uma “baixa” de cerca de 8 cm apenas no nível.

Pode, também, ser uma mudança na estratégia de operação, provocada por alguma razão que é do desconhecimento do grande público, porque a imprensa parece desinteressada de acompanhar com detalhes essa questão, embora publique qualquer mudança de 0,1% nas disponibilidades do sistema elétrico, que é federal.

O reservatório Atibainha – o “última esperança”, porque é o que será bombeado – caiu 6% em três dias.

Isso é explicável, por ser menor –  apenas 12% do sistema – mas contraria tudo o que vinha sendo feito nos últimos 30 dias, quando foi deliberadamente “elevado”, à custa da sangria exagerada do Jaguari-Jacareí.

Objetivamente, de 9 a 12 de abril o sistema perdeu 6 bilhões de litros de água e, se usar até a última gota, equivalentes a mais de 5% dos 113 bilhões que possui hoje armazenados.

Não é possível que a imprensa de São Paulo não pergunte o que está acontecendo.

Não é possível que não haja um engenheiro hidráulico independente que possa ser consultado.

As chuvas fortes previstas para este final de semana não vão resolver absolutamente nada, por maiores que sejam – e tomara que sejam. Mas podem criar a ilusão na população, se ela não estiver bem-informada, de que o problema estará menor.

E isso influi negativamente sobre o consumo, que precisa ser controlado para evitar uma catástrofe.

Será que, mastigadinho assim, algum jornal vai apurar o que se passa?

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15 respostas

  1. preocupante a situação. vai faltar água até para irrigar a plantação de chuchu. (“sechiun edule”):))

    “Será que, mastigadinho assim, algum jornal vai apurar o que se passa?”

    R, NÃO.

    1. Emerson, o que a imprensa quer evitar é a palavra “racionamento”.
      Inventaram “rodízio”, mas só se consegue fazer rodízio de algo (e não somente de água), quando há algo a rodiziar.
      Pelo “desenho” do Fernando, não haverá algo (ou água) para nada em muito pouco tempo.
      O que o (des)governo paulista está tentando é levar o problema para depois das eleições. Nada mais.

  2. …’Bom dia. Você ligou para a… Central Globo de Jornalismo. No momento, todos os nossos especialistas estão ocupados assassinando a credibilidade do Governo Petista. Volte a ligar… em novembro. A Central Globo de Jornalismo agradece a sua ligação.’ Tu-tu-tu-tu-tu…

  3. Fernando, o racionamento JÁ ESTÁ acontecendo, varios bairros de sp e cidades vizinhas estão ficando sem agua, não é só na periferia, o governador ainda vai posar de serio dizendo que não tem racionamento e que conseguiu evitar a crise, vai culpar os cidadãos pelo desperdicio, ou mais facil,a ANA (leia-se governo federal)que fica quieto mesmo e veste a carapuça…

  4. Eles sabem o que esta acontecendo são coniventes com este governo corrupto, imagine se eles perdem a eleiçao e quem ganhar fizer uma devassa nos contratos, eles quebraram então, vão maquear mentir e culpar quem nunca passou pela porta da SABESP, para que nunca passe pelo menos para os seus leitores que o culpado é o governo estadual vão tentar o final culpar a Dilma como todos sabiam do problema porque não agiram assim culparão ela

  5. Meu caro Fernando Brito, pois permita-me que lhe diga. Desde 2009 que venho pesquisando dados na internet e procurando saber como funciona o istema Guandú aqui do Rio. Me interessei por isso por um problema de vazamento que tive aqui em casa. Ao solicitar a revisão da cobrança conversei longamente com o administrador da CEDAE da minha região. O Sr M. foi muito gentil e me explicou em detalhes toda fragilidade desse sistema operando para megalópole. Me contou que o meu bairro, a Tijuca, no passado era abastecida pelo “pequeno” aquífero da serra da carioca. Aquífero este que, infelizmente, foi desativado. Creio que optaram por um sistema centralizado (como em tudo, infelizmente). Poderíamos ter um abastecimento diversificado com a ativação de pequenos aquíferos locais que operariam abastecimento de micro regiões. Dessa forma poupariamos os reservatórios maiores.
    É absolutamente necessário que os governos conscientizem a população para evitar o consumo perdulário, o desperdício irracional das fontes de água e energia. Os governos precisam fazer sua parte. Por um lado prover e gerenciar a oferta e agir na educação para um consumo consciente.

    Quero parabeniza-lo por estar sempre preocupado com esse tema de importância fundamental. eu diria de segurança nacional. É absurdo a desproporcionalidade da cobertura midiática e o descaso do povo por esses temas centrais.
    Se dá mais importãncia a pseudo-polêmicas do que a um tema como o do abastecimento de aguas de uma metrópole.

  6. O PT na Assembleia Legislativa do ESP se manifesta:
    “11/4/2014 – Má gestão
    Presidente da Sabesp demonstra desconhecimento sobre problema de água em SP
    Imprensa PT ALESP
    Presidente da Sabesp demonstra desconhecimento sobre problema de água em SP

    A presidente da Sabesp, Dilma Pena, demonstrou que não leu ou não estudou todos os documentos que recomendavam obras alternativas para garantir o abastecimento de água nas regiões metropolitanas de Campinas e São Paulo.

    A outorga de renovação do Sistema Cantareira (portaria DAEE, numero 1213, de 6 de agosto de 2004), já recomendava há 10 anos que a Sabesp deveria fazer estudos e projetos para reduzir a dependência do sistema Cantareira.

    No próprio Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos da Macro Metrópole Paulista, que foi encomendado pelo governo do Estado em 2008, já havia também indicação da realização de obras necessárias para evitar o desabastecimento.

    Estudo encomendado em 2009 pela Bacia Hidrográfica do Alto Tiete, feito pela USP, reforçou a necessidade de se fazer as duas barragens, Pedreira e Duas Pontes, para o PCJ (Região de Piracicaba, Capivari e Jundiaí), a implantação do Sistema São Lourenço e a captação de água do braço Rio Pequeno (anunciada somente esta semana pelo governador Geraldo Alckmin).

    O Sistema São Lourenço, visitado hoje pelo governador, deveria ter ficado pronto em 2012 e agora está programado somente para 2018. Vale ressaltar ainda que embora o estardalhaço do “início” das obras do São Lourenço, o governo não conta sequer com licença de instalação da Cetesb.

    A prepotência da presidência da Sabesp é assustadora e explica porque o governo não consegue sequer fazer os estudos recomendados, o que se dirá das obras.

    Emidio de Souza, presidente estadual do PT-SP”

  7. Realmente é necessário mais informações técnicas, sabemos que o sistema Cantareira esta nas ultimas, mas a RMSP é alimentada por 8 sistemas produtores de água, que pertencem ao sistema integrado de abastecimento de agua da grande SP, sendo o Cantareira apenas um, como estarão os reservatórios dos sistemas: Guarapiranga, Alto Tietê, Rio Claro, Rio Grande, Alto e Baixo Cotia, etc..

    1. Sim, é verdade que são oito sistemas. Mas não são integrados como deveriam ser. Tanto que só 20% dos usuários do Cantareira, que é o maior deles, puderam ser transferidos para outros sistemas. Não há possibilidade de atender 80% da área servida pelo Cantareira com outros sistemas e isso é um dos pontos fracos do planejamento hídrico de São Paulo.

  8. Fernando desista da mídia paulista, é a mesma que desinforma, a um ano, através da divulgação de não notícias, o escândalo do Trensalão. Insista no assunto nos informando que já está para lá de eficiente, pois espalhamos os fatos e uma hora a verdade aflora, mesmo que com o fundo dos reservatórios aparecendo. Esses incompetentes suportados pela mídia amiga e justiça parceira uma hora não mais conseguirão desastres como o apagão de 2001/2002 e o Secadão de agora, pois o povo não mais os elegerá.

  9. Governo federal “PT” culpa de gestão e investimento, governo estadual SP “PSDB” culpa exclusiva da natureza. Sendo que a água e a estiagem é fator comum nos dois casos.

  10. “Será que, mastigadinho assim, algum jornal vai apurar o que se passa?”
    Nem imprensa, nem Ministério Público farão nada, pois ambos são aliados do PSDB. Se os reservatórios secarem, quando já for tarde demais para se fazer alguma coisa, o que acontecerá com a população? Vai ter carro-pipa suficiente?

  11. Rodízio é eufemismo para racionamento de água, se fosse PT no poder em São Paulo era incompetência e falta de planejamento e só dava comentários de FORA PT nos portais G1, Estadão e Folha.

  12. Caro Fernando,
    O Governo de SP anunciou um investimento de R$ 80 milhões nas bombas do “volume morto” do Atibainha. Não ficou muito claro, pelo menos para mim, se este valor cobre todos os custos envolvidos ou somente as bombas. Explico: para bombear cerca de 30 mil litros por segundo estas bombas devem ser de grande potência e, portanto, vão consumir uma grande quantidade de energia elétrica para acionar seus motores. Acontece que o Atibainha é só um reservatório não uma usina hidrelétrica, assim sendo, imagino eu, a Sabesp deverá improvisar no local uma Central Térmica equipada com geradores a Diesel para alimentar as bombas. A dúvida que fica é se aquele valor cobre também o custo dessa Central Térmica e do combustível necessário durante todo o período funcionamento do sistema.
    De qualquer forma, se esta “gambiarra” do Alckmin vai custar quase US$ 40 milhões, como é possível que uma refinaria que processa 100 mil bpd e capacidade para estocar 6 milhões de barris de petróleo e derivados como Pasadena poderia valer somente US$ 42 milhões como alegam os tucanos e o PIG?

  13. Fernando, essa mudança pode ser por várias coisas:
    – controle do nível do Atibainha para viabilizar algumas das novas obras para o bombeamento do seu volume morto; ou
    – diminuir o volume do Paiva Castro para poder acumular o máximo de chuva nesse fim de semana, diminuindo o risco dele verter água desnecessariamente (se a chuva for muito intensa), já que ele está muito cheio e tem pouca capacidade volumétrica de retenção;
    Mas eu creio que, provavelmente, seja por questões operacionais mesmo, pois:
    – abaixo da cota 823 o túnel 7 do Jaguari/Jacareí começa a reduzir sua capacidade de vazão mais drasticamente. Por exemplo, com 822 de cota de NA a vazão só alcança 19,7m3/s, com 821 de cota a vazão cairá para 12,9m3/s, até zerar a vazão aos 818 de cota. Considerando os 4,65% de Vop, o NA do Jaguari/Jacareí deve estar em 822,70 (ou seja, tem uns 35hm3 de estoque até chegar na cota 821);
    – o tunel 6 do Cachoeira, com cota de NA a 810,50, tem vazão máxima de 19,65m3/s, aos 810 de NA a vazão cai para 14,70m3/s. Considerando os 39,05% de Vop, o NA do Cachoeira deve estar em 811,40 (ou seja, tem uns 9hm3 de estoque até chegar na cota de 810);
    – o tunel 5 do Atibainha, com cota de NA de 777,60 tem vazão máxima de 15m3/s. Considerando os 50,29% de Vop, o NA do Atibainha deve estar em 779 (ou seja, tem uns 20hm3 de estoque até chegar na cota 777,60);
    – o Paiva Castro é um reservatório de passagem, se não afluir água diariamente nele, ele baixa muito rápido. Com Vop de 56,46%, ele deve ter um estoque de água de 5hm3. Consumido esse estoque, sem reposição, o fornecimento de água do sistema fica totalmente comprometido.
    Concluindo, eles estão fazendo um malabarismo danado com os reservatórios, controlando os seus níveis, para viabilizar a produção contínua de 25 a 27m3/s.
    Só que seguindo nessa produção média de 25m3/s, creio que dentro de uns 35 dias, do ponto de vista hidráulico, o sistema só será capaz de produzir 15m3/s, o que já será catastrófico.
    Creio que é por isso que vi uma notícia que querem ativar as novas bombas do Atibainha em 15/05. Só assim terão como protelar, mais um pouco, essa tragédia anunciada.
    PS.: Para essas estimativas usei os dados que encontrei nesse documento http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sof/Renovacao_Outorga/DadosdeReferenciaAcercadaOutorgadoSistemaCantareira.pdf

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