Todo poder à mídia?

vendemais

Já uma vez citei por aqui um velho comercial de biscoitos que perguntava:  vende mais porque é mais fresquinho ou é mais fresquinho porque vende mais?

Essa é uma questão clássica em pesquisas eleitorais porque, com o enfraquecimento dos partidos e a interdição do debate político por uma mídia organizada na forma de partido único (em que os jornais e tevês discordam entre si, na política ou na economia?), conservador e medíocre, não há dúvida de que as pesquisas acabam sendo o principal balizador de boa parte do eleitorado.

Isso é a chave para entendermos o que está acontecendo com a súbita conversão de Marina Silva em grande “favorita” do processo eleitoral em razão da morte trágica de Eduardo Campos.

A mídia sente-se com todo o poder sobre o processo de formação da consciência popular, um poder que, apesar do imenso canhoneio que realiza sobre corações e mentes dos brasileiros, não tem.

A população tem um sentido quase mudo de sobrevivência, que faz com que boa parte dela resista à essa exploração mórbida.

Citei aqui o recentíssimo exemplo de Pernambuco, onde uma pesquisa Datafolha não registra qualquer efeito da comoção causada pelo acidente sobre o comportamento do eleitorado do Estado, majoritariamente inclinado a despejar seus votos sobre o candidato mais identificado como opositor de Campos.

A última pesquisa de intenção de voto feita pelo Ibope, no final de setembro passado, marcava Dilma com 38% (o mesmo de agora), Marina com 16%, Aécio Neves com 11% e Eduardo Campos com 4%.

Um mês depois, o mesmo Ibope assinalava os seguintes placares: Dilma com 41%, Aécio com 14% e Campos – agora com Marina de vice – com 10%. Se Marina fosse a candidata, em lugar do pernambucano, os números eram Dilma 39%, a ex-senadora com 21% –  teve uma imensa exposição de mídia por sua aliança com o PSB – e apenas 13% para Aécio.

Os números de Dilma, até agora, continuam na mesma faixa, segundo todas as pesquisas.

Não há nenhuma outra razão para que os demais se modifiquem tão substancialmente ao ponto de que este padrão governo x oposição se modifique abruptamente.

Exceto, claro, uma comoção que nem o mais otimista dos marinistas pode pensar que vá ser a mesma quando se passarem dez ou vinte dias.

E que pode, cuidado lá, passar dos limites e criar uma percepção negativa quanto ao uso da tragédia como “programa eleitoral”.

Uma pequena nota, no Painel da Folha, para a qual um leitor me chama a atenção diz muito sobre a pesquisa Datafolha sob cuja sombra os integrantes do PSB irão decidir sua atitude.

“Um banco de investimentos encomendou pesquisa telefônica para medir a intenção de voto em Marina na quarta-feira, dia do acidente. A enquete foi cancelada porque muitos eleitores se recusaram a responder.”

As pessoas têm uma noção de decência que vai além da ideia de nossas elites de que pode “fazer sua cabeça” do jeito que quiser.

O que Marina pode e certamente vai causar é uma modificação na distribuição dos votos de oposição.

Apresentá-la como “fenômeno” post mortem de Campos não é factível sem demolir Aécio Neves.

Uma Marina Silva como candidata da direita é coisa completamente diferente daquela “outsider” que se apresentou em 2010, quando Serra estava firme à sua frente, o que não existe com Aécio.

Até porque as intenções de voto de Dilma são mais sólidas, porque refletiam uma decisão formada e tomada independente de apresentação de nomes.

Dois terços delas aparecem na pesquisa espontânea (25 sobre 38%), enquanto as de Aécio (11 sobre 23) e as que eram dirigidas a Campos (4 sobre 9) não chegavam seque à metade.

A direita brasileira segue – e mais profundamente – fazendo o jogo dos desesperados.

Abraço de afogado é algo que exige prudência e cuidado. É perigosíssimo.

Quem se deixar levar pelo canto da mídia está a um passo de aceitar como real o quadro que tentarão mostrar, dentro de dias, com pesquisas.

Que, mesmo empurrados para cima,  ficarão abaixo muito abaixo do que figuram no noticiário ao apresentá-la como quem cavalga a crista da desgraça.

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15 respostas

  1. Aécio deve estar se sentindo muito, muito desprestigiado.
    O dicionário vai mudar: sai o verbo cristianizar; entra o verbo aecizar.

  2. Aquela colunista da folha chegou a desenterrar aquele candidato da Bahia que morreu em um acidente de avião há alguns anos atrás. Ou seja está valendo tudo p/ não deixar a Dilma descolar de vez nas “pesquisas”. O mais triste de tudo isto é saber que o corpo do Eduardo sequer foi identificado ainda. Eita respeito que a mídia tem pelo sofrimento da família.

  3. Um dirigente qualquer do PSB declarou à Agência Brasil, de forma arrogante e ignorante, que o partido escolheria seu novo candidato a presidente “quando julgasse oportuno”.
    Não é bem assim. Há uma legislação eleitoral a ser acatada por todos os partidos que determina que no caso de renúncia ou morte do candidato o partido TEM DEZ DIAS para fazer nova convenção partidária e decidir o que fazer. Portanto não é a hora que quiser que o partido decide. Há um prazo legal a ser cumprido e ponto final. Aliás arrogância e ignorância andam frequentemente de braços dados.

  4. Marina nunca teve 20 milhões de votos

    A eleição de 2010 foi atípica, o presidente Lula não podia ser mais candidato e os outros nomes históricos do PT com expressão para serem candidatos tinham ficado pelo caminho: um com o escândalo do mensalão (José Dirceu) e o outro pelo caso Francenildo (Antônio Palocci). Com isso, o presidente se viu diante da necessidade de construir um candidato para dar continuidade ao governo do PT, é aí que entra a Dilma. Se já era difícil eleger um político experiente, tarimbado, imagina eleger alguém que nunca disputou uma eleição e que não era conhecida pela maior parte da população brasileira (o brasileiro comum não sabe quem é o ministro de minas e energia ou a ministra da casa civil). Então o desafio era imenso, principalmente se consideramos que do outro lado tínhamos o Serra (no vale tudo) e pior, com dinheiro e o PIG. Então a população ficou perdida, queria votar no Lula mas não podia. No Serra só votava as viúvas de FHC e a Dilma não era o Lula. Além disso, foi trazido para dentro da campanha pelo Serra temas como aborto, religião e homossexualismo que nada contribuíam para o debate dos verdadeiros problemas do Brasil, mas o PIG dava espaço para esse tipo de discurso na esperança de conseguir destruir o legado do presidente Lula. A campanha então tinha como objetivo disseminar todo tipo de informação que pudesse fazer o eleitor duvidar da capacidade da Dilma de continuar com esse legado (o que ficava muito fácil diante do desconhecimento da população), ou seja, para votar na Dilma era preciso acreditar no que o Lula falava sobre ela, mesmo assistindo todo dia o PIG plantando a dúvida. Os ambientalistas utópicos e a população mais pobre e menos politizada que atualmente lotam os templos evangélicos, viam então na Marina uma alternativa, já que ela era evangélica e de quebra defendia o meio ambiente (o que garantia aos fundamentalistas e conservadores um discurso progressista). Resumindo, entre um passado de privatizações, arrocho salarial, crise e desemprego representado pelo Serra e apostar em uma desconhecida apoiada pelo presidente, 20 milhões resolveram votar numa terceira via. Logo, a Marina nunca teve esses votos, eles foram frutos de uma conjuntura que não está mais presente. Isso explica porque a Marina teve tanta dificuldade para conseguir 492 mil assinaturas para viabilizar seu partido e no final não conseguiu simplesmente porque ela não tem essa expressão que deram a ela. A verdade é que ela continua sendo o que ela sempre foi, uma pessoa que tudo mundo gosta e respeita, mas que ninguém vota (há não ser em seu reduto, como é o caso do Eduardo Suplicy).

    1. Marcos!!! concordo um milhão de vezes com você, marina e uma farsa,marina nunca teve vinte milhões de votos neste pais,marina iludiu os evangélicos o que nunca mais conseguira, ela e mesmo uma loba na pele de um cordeiro que sera um desastre se por ventura visse a conseguir alguma coisa neste pais.

    2. Marina não vai mudar em nada o panorama geral da disputa, mesmo porque quem já disse que vota em Dilma não votará jamais em Marina, ainda mais porque aquela charmosa idealista selvática deixou de existir desde 2010. Há muito que ela se encontra perto do centro da meta direitista. Toda mudança se dará dentro do conjunto de votos que já estão com a oposição e pouca coisa dos votos em branco e nulos, não sendo surpresa para ninguém que da ebulição deste conjunto saltem fora alguns votos para Dilma. Por outro lado, a campanha na televisão está chegando e a mídia de direita vai ter quase tempo zero para tentar catapultar Marina para trás, de volta à perdida condição de heroína de esquerda e chicomendista. Contudo, a presença de Marina será sim, uma ótima desculpa para os institutos de pesquisas antipetistas fazerem das suas. A direita vai apostar tudo o que puder nestes institutos.

  5. As vezes dá vontade de hibernar até outubro, acordar votar e vê que bicho vai dar. O mais engraçado é que quem não vota na Dilma, ainda não sabe em quem vai votar, no Aécio pelas minhas sondagens ninguém vai, enfim é o samba do crioulo doido.

  6. A direita quer fabricar mais um Collor, se ganhar e topar ser joguete, está tudo bem, se não topar, será somente mais uma pedra a ser removida do caminho.

  7. Marketing é um conjunto de ações e estratégias voltadas para um determinado produto/serviço ou marca, com o objetivo se satisfazer um desejo ou desperta-lo na mente das pessoas.
    Pois bem, o produto político Marina está exposto novamente na gôndola da política brasileira. O PIG faz esse papel, de graça e com prazer – mórbido. Despertar novamente a vontade de votar em Marina. O PIG fará enquanto ela for a não-candidata, e aparentemente sem as limitações legais de dar o mesmo espaço de tempo para os outros candidatos, pois ela é uma não-candidata. Terá uma superexposição até o nome dela ser definido no décimo dia depois da morte de Eduardo Campos, ou seja, até o dia 22/08. Testarão possibilidades.
    O motivo: levar Dilma para o segundo turno contra qualquer dos dois.
    Parece que a morte de Eduardo Campos deu vida – desculpem a crueldade, mas isso foi manifestado no estado anímico do porta-voz-mor do PIG, o Ver-mal – ao Ver-mal na GroboNews. Sabíamos que Ver-mal, no dia anterior à morte de Eduardo Campos, já estava se convencendo que Dilma venceria no primeiro turno, situação também manifestada pelo No-blat.
    O PIG está como um naufrago, que se agarra a tábua de salvação Marina.
    Mas isso depende ainda do PSB – de Roberto Amaral e dos velhos correligionários – que estão temerários de perder poder e, mais, perder representatividade nacional – que Lula pode ajudar a minorar os danos, em especial no Nordeste.
    Ainda acho que Marina não será jogada ao mar pelo PSB para o PIG se salvar. E se for jogada ao mar para salvar o PIG, será cristianizada por “aliados” no Nordeste – aonde Lula é o cara – e em Estados onde o agronegócio manda – como no Sul e no Centro-Oeste. Poderá ser forte no Sudeste, mas perde muito noutras praças.
    Pra Marina será se correr o PIG pega, se ficar é cristianizada.
    Se for, com duas eleições perdidas por partidos diferentes, a Rede rasga de vez. Se ficar, o PIG não a perdoará.
    Assim, a escolha de Luiza Erundina marca a posição do PSB e alivia a barra de Marina – foi impedida de disputar pela cúpula do PSB – junto ao PIG.
    Aí, o PIG chora…

  8. … O Mercado está certo: no Poder Central, nada melhor do que uma ambientalista militante, para conter o desenvolvimentismo predador e iníquo – e os banqueiros, refestelados, a regozijar-se no ócio produtivo!…

    Palmas para o MERDAL, “o imortal”! Plin plin!

  9. Marina [SILVA?!] se pintou?! E/ou pintaram a Marina [SILVA?!]? ENTENDA A LAMBANÇA

    ##############

    Agronegócio não teme Marina como temia ex-ministra, mas ainda há cautela

    Roberto Samora e Gustavo Bonato
    Em São Paulo

    Aquela Marina Silva que deixou o Ministério do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contrariada pela expansão de grãos e da pecuária na Amazônia Legal já não preocupa tanto representantes do agronegócio, embora parte do setor ainda tenha algumas ressalvas.
    (…)
    “Nisso, nós ficamos muito animados com o discurso (de Campos). Quando ele falava nisso (sobre sustentabilidade ambiental do agronegócio), entendíamos que ela (Marina) estava por trás apoiando o discurso dele”, acrescentou Carvalho.
    O dirigente da *Abag acredita que o posicionamento de Campos foi construído juntamente com Marina. Por isso, avalia ser improvável que haja grandes guinadas, na hipótese de ela ser a candidata à presidência da República pelo PSB.
    *Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho.

    CACHOEIRA – perdão, ato falho -, FONTE: http://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/reuters/2014/08/15/agronegocio-nao-teme-marina-como-temia-ex-ministra-mas-ainda-ha-cautela.htm

  10. …e depois da eleição,de uma olhada na ante-sala dos eleitos. Mais da metade da espera na agenda do eleito, é composta de jornalistas. Os pedidos mais diversos; passagens para ele e familia,combustivel,e gorgetas. A prostituição é tamanha que cora qualquer garôta de programa.
    Os patrões tem acesso especial;jantares e encontros reservados.

  11. Às vezes eu penso que as análises feitas em relação aos números desta eleição se esquecem que o número de eleitores é fixo. A questão fica então, assim: de onde a Marina vai tirar votos para esse arranque espetacular que certamente as primeiras pesquisas vão mostrar, mentirosas como sempre. Não é certo que os votos do Campos se transferirão integralmente a ela. Pode tirar votos da Dilma, mas também do Aécio, aqueles votos do pessoal que não vota no PT de jeito nenhum. Mas estas variações são pequenas porque a mais de dois meses existe uma estabilidade no quadro eleitoral. Restam os 20% de indecisos, brancos e nulos. Brancos e nulos são mais ou menos constantes comparados com as últimas eleições; a mudança não virá daí. Os indecisos, ora bolas, são indecisos. Uma parte substancial deles serão os que não vão votar, número crescente nas últimas eleições; o que também não muda nada. Convencer os indecisos é tarefa do horário eleitoral, porque a pressão da mídia até agora não mudou a cabeça deles, porque iria mudar agora? Dilma tem o que mostrar com o mesmo tempo da soma dos demais competidores. Marina terá menos de 1/3 deste tempo. É dar tempo ao tempo para que o pó desça e a realidade aparecerá.

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