As fotos e manchetes aí de cima são do acidente em que um Caravelle da Varig que, no dia 27 de setembro de 1961, pegou fogo no aeroporto de Brasilia.
A bordo, Leonel Brizola e alguns ministros de João Goulart.
A data, apenas 20 dias depois do fim do episódio da “Legalidade”, em que Brizola confrontou o comando militar golpista que recusava a posse de Jango.
Nunca, por isso, ouvi Brizola falar de conspiração.
Reproduzo, abaixo, o texto de reportagem de O Globo sobre “vôos de campanha”, em que contribuo com declarações, assim como meu amigo Ricardo Kotscho, ex-assessor de Lula, e outros, sobre as peripécias aéreas que vivemos.
E conto para vocês uma, que não foi em campanha, onde tive de tirar da tremedeira talento para fazer o velho Briza desistir de um vôo sob mau tempo.
Foi no seu segundo governo, numa manhã de muita chuva. Tinha um compromisso no Centro Miécimo da Silva, em Campo Grande, distante do centro. No heliporto da Lagoa, debaixo de neblina, o comandante Antonio Hermsdorf Maia, experientíssimo piloto de helicóptero, torcia o nariz para a insistencia de Brizola para que decolássemos assim mesmo.
Finalmente, Maia concordou em ir pelo litoral, por onde se podia voar mais baixo, e depois entrar pela Zona Oeste da cidade.
Mas a coisa era feia e, no costão do Vidigal, voávamos a 50 metros da água, com aquela coisa terrível da desorientação, pois céu e mar se igualam no cinza.
Sugerir que voltássemos eu e Maia já havíamos feito, sem sucesso. Morto de medo, achei uma saída para a teimosia do Brizola.
– Governador, estão perguntando se o senhor não vai mesmo à reunião.
– Que reunião, Brito?
– Com o Doutor Ulysses, lá embaixo...
O helicóptero deu meia-volta, afinal…
A matéria de O Globo, dos repórteres Nélson Lima e Mateus Campos:
Brizola, Lula e outros presidenciáveis que viveram o perigo de voar atrás dos votos
Para conquistar os votos de um país com a quinta maior extensão territorial do planeta, um presidenciável precisa de bons aliados, tempo de TV, cabos eleitorais e… aviões à disposição. A cada quatro anos, políticos passam meses em trânsito, junto a um pelotão de assessores, para comparecer a compromissos de campanha em diferentes pontos dos 8,5 milhões de km² do Brasil. Entre decolagens e aterrissagens, pessoas que viveram as corridas eleitorais desde 1989 são taxativas: quem quer presidir a nação tem que se submeter aos riscos de voar.
A viagem de Eduardo Campos (PSB) para Santos teve o trágico desfecho que voos semelhantes de candidatos brasileiros por pouco não tiveram. O ímpeto dos políticos, a intensa e apertada agenda, o excesso de voos, a precariedade de aeronaves e aeroportos contribuem para dezenas de sustos aéreos terem se acumulado na memória de quem integrou equipes de campanha.
Assessor de imprensa de Anthony Garotinho em 2002, Carlos Henrique Vasconcellos diz que, de tanto voar, aprendeu muitos jargões da Aeronáutica. Ele não esquece de um episódio em Maringá (PR), em que uma intensa turbulência quase provocou um grave acidente. Além do ex-governador fluminense, estavam na aeronave o político Roberto Amaral, hoje no comando do PSB, e Pastor Everaldo, que atualmente disputa as eleições pelo PSC.
— Estávamos saindo de Telêmaco Borba (PR) e entramos em um cumulonimbus, uma formação de nuvens muito pesada. De tanto voar, a gente vira conhecedor da aviação e entende seus termos. O piloto tentou escapar dele, mas foi impossível. Parecia uma pista de motocross, de tanto que a cabine balançava. Nossa sensação era clara: o avião ia cair a qualquer momento. Por fim, graças a Deus, a gente conseguiu aterrissar em Maringá. Quando o piloto disse que nunca tinha passado por uma coisa daquelas na vida, tive certeza que a gente havia corrido um risco seríssimo — conta.
A infinidade de histórias de medo a bordo de jatos de presidenciáveis contempla todas as correntes ideológicas da política nacional. Assessor de comunicação de Lula até a vitória de 2002, o jornalista Ricardo Kotscho lembra que, em 1989, o avião da campanha era precário.
— Eu costumava dizer que, se dependesse dos aviões, nós perderíamos a eleição. O jato do Collor tinha até aeromoça. No nosso, não dava nem para ficar em pé. Éramos obrigados a caminhar agachados — explica ele.
Foi com a aeronave que, junto a Lula, Kotscho precisou pousar em um remoto assentamento dos Sem Terra.
— Fomos visitar uma ocupação histórica do MST chamada Encruzilhada Natalino, na cidade de Ronda Alta (RS). Estava chovendo muito e não havia visão nenhuma. Era impossível achar a pista e o combustível foi acabando. Em um certo momento, identificamos as bandeiras vermelhas do PT lá embaixo e tivemos que arriscar. Não havia pista de pouso, precisamos descer em um pasto, com o piloto praticamente segurando o avião. Foi muito difícil.
Veterano em corridas presidenciais — participou das últimas cinco campanhas do PSDB —, o fotógrafo Orlando Brito também viveu momentos de sufoco integrando os voos das comitivas tucanas. Ele conta ter escapado por pouco em 2006, quando o governador paulista Geraldo Alckmin tentava impedir a reeleição de Lula.
— Dois dias antes do desastre com o avião da Gol e o jato da Legacy, deixamos o aeroporto de Manaus rumo a São Paulo. Era de noite e todos da comitiva estavam dormindo. Mas eu tenho uma insônia crônica e decidi conversar com os pilotos. Chegando na cabine, um deles perguntou: “Você sabe o que é aquele ponto vermelho à frente?” O piloto logo explicou que era um avião comercial e que ele passaria abaixo de nós em poucos segundos. Foi assustador. Percebi que o piloto também havia ficado assustado. O acidente aconteceu na mesma região que passávamos, uma espécie de ponto cego para os radares — relata Orlando.
Foi em 1989 que Fernando Brito, jornalista que acompanhou Leonel Brizola (PDT) durante grande parte da trajetória do político gaúcho, teve de controlar as emoções no Rio de Janeiro. O líder, no entanto, não perdeu a tradicional fleuma.
— Infelizmente, voei muito e posso dizer que não é incomum ou desesperador ter problemas. Faz parte. Nesse dia, a equipe voltava de compromissos no Paraná. Na chegada ao Santos Dumont, o avião apresentou problemas no trem de pouso, que não baixou, e precisou arremeter. Depois de mais algumas tentativas, fomos avisados que iriamos para o Galeão, aeroporto com melhores condições para pousos de emergência. O Brizola virou para a gente e disse: “Bah, vamos todos tirar os sapatinhos porque hoje nadaremos na Baía de Guanabara”. Mas na última tentativa o trem de pouso baixou, travou e descemos em segurança — recorda.
A personalidade forte dos políticos é mais um fator que os pilotos de avião precisam controlar. Kotscho diz que candidatos costumam pensar ter o dom da onipotência e, por isso, querem decidir trajetos, pousos e decolagens mesmo quando não existem condições climáticas para isso. Para ele, não é coincidência que a vida política brasileira seja pontuada por tragédias com aviões.
— Todo acidente aéreo tem sempre vários fatores. Nunca é só um. E, em voos de campanha, tem um ingrediente importante: o fator candidato. Ele está sempre atrasado e tem vários compromissos. E todos que conheço acham que são onipotentes, que nada de ruim acontecerá com eles — diz. — Em 1994, a gente ia do aeroporto de Congonhas para Brasília. E o pessoal que ia embarcar começou a discutir qual deveria ser a primeira parada do voo. Cada um queria passar em uma cidade diferente. Quando ouviu a conversa, o piloto se irritou: “Isso aqui não é táxi, gente!”.
Por outro lado, eles explicam que a intensa rotina, no entanto, é gratificante. Quem viveu, durante meses, a experiência incessante de afivelar e desafivelar os cintos de segurança da política nacional, diz que o risco é recompensado pela sensação de escrever a história.
— Além de ser um trabalho muito legal do ponto de vista profissional, de poder viver um pedaço da História, era uma coisa em que a gente acreditava. Assim como acho que era para o Kotscho também. Quando a gente acredita no que está fazendo, nada pesa nas costas — celebra Fernando Brito.
20 respostas
Realmente o transporte áereo não é dos mais seguros com propagam.
Jogadores de futebol correm muito risco. Estes voos São Paulo – Rio realizados por empresários também tem grande risco.
eu particularmente só viajo de carro, em terra. Nada de avião e de navio.
Infelizmente deixo de conhecer lugares maravilhosos, por que não ando de avião.
Mas estou vivo até hoje.
Só tem um mas:a chance de morrer num acidente automobilístico é maior que num aerotransporte civil
Que ótimo!! Você vai poder chegar aos 90 anos de idade lembrando das vezes que não voou. Você vai poder morrer lembrando que do que não viveu.
http://www.youtube.com/watch?v=vO8vPa_H71g
Confissões de um assassino econômico
A leitura desse livro é obrigatória. Explica, indiretamente, o porquê da existência do FMI, o porquê das privatizações e quando não conseguem o objetivo, vem os chacais. Lógico, é preciso esperar as investigações a respeito desse triste evento, o acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos, mas não duvido de nada.
Fernando, quem deve explicações ao povo brasileiro sobre o voo da morte é a BLABLABAGRE, o ITAÚ CU, a SONEGADORA e o PSDBOSTA. O resto não tem pressa.
para arremeter normalmente se usa potencia máxima e em seguida tiveram que arremeter para o lado esquerdo pela norma da pista, provavelmente com as condições do tempo no local o vento tinha turbulências e isso tirou o avião do controle dos pilotos posicionando as asas no sentido vertical e isso deixou o avião com muito pouca sustentação, levando este de encontro ao solo.
como ele vinha com potencia máxima e não estava num angulo de subida não muito grande, provavelmente já tinha retomado mais da metade da sua velocidade de cruzeiro, que segundo o fabricante é de 976 Km/h, supondo que estivesse a 600 Km/h, estaria percorrendo 167 metros por segundo, muito pouco tempo para os pilotos tomarem qualquer decisão e também para as testemunhas localizarem de onde vinha esse avião.
aí fica as perguntas, essas testemunhas realmente viram o que disseram? foram orientadas a dizer o que disseram em troca de minutos de fama?
Eu não duvido que isso possa ter acontecido,haja visto o entrevistado que a globo colocou no ar ao vivo,dizendo que tinha visto o corpo do EC e o reconheceu pela cor verde de seus olhos.
A “sensibilidade” e justificativa de Jarbas Vasconcelos às vaias dadas à presidenta Dilma no velório de Eduardo Campos. Esse, certamente, não representa o educado povo pernambucano.
‘Ela não tinha nada que vir aqui’, diz Jarbas Vasconcelos sobre vaia a Dilma
DANIEL CARVALHO
DO RECIFE
17/08/2014 11h06
Crítico do governo do PT, o senador Jarbas Vasconcelos disse que as vaias que a presidente Dilma Rousseff recebeu neste domingo (17) ao chegar ao velório do ex-governador Eduardo Campos acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Recife são “justificáveis” porque o comparecimento dela é “falso”.
“Ela não tinha nada que vir aqui”, afirmou. “É falso. Ela não gostava mais de Eduardo, queria manter distância de Eduardo”, afirmou. “[Eu] não viria aqui para fazer uma falsidade dessas”, disse o senador.
Apesar de ter sido um duro crítico de Lula em seus dois mandatos, Vasconcelos afirmou que as vaias a ele não são justificadas por causa do carinho que o ex-presidente tinha por Campos. “Lula gostava dele”.
Benjamin Eurico Malucelli, eu vi um vídeo da Globo News, vi mais aplausos do q vaia, só uns gritinhos. A oposição é que fica aumentando as coisas, como sempre inventando factoides contra Lula e Dilma.
http://g1.globo.com/globo-news/jornal-globo-news/videos/t/todos-os-videos/v/lula-e-dilma-rousseff-chegam-para-velorio-de-eduardo-campos-no-recife/3569723/
Pessoal, coisa mais simples do mundo e corriqueira, são pagarem meia dúzia de biscateiros para que vaiem um candidato que se quer atingir, perante a opinião pública, ainda mais partindo da tucanalha, é só lembrar o “artefato atômico”…na careca do Serra. Nunca que o Povo Pernanbucano, principalmente os mais humildes,vaiariam a Dilma ou o Lula, principalmente num momento de tristeza. ARMAÇÃO CIRCENSE PURA!
Também vi. Mas, o que me deixou mais indignado foi a declaração de Jarbas Vasconcelos. Dizer que a presidenta da República é falsa porque foi ao enterro do adversário político é de uma maldade que não tem limites. Se Dilma não tivesse ido, também seria criticada por esse elemento. Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.
Que DEUS proteja todas as pessoas que voam, principalmente aquelas que agora correm para demonstrar suas POLITICAS…
Não é fácil familias perderem entes queridos..
Olá Fernando, gosto muito quando você conta recordações da sua convivência com o Engenheiro.
DE UM ELEITOR A CAMPOS: “NÃO DESISTI DO BRASIL”
Numa carta aberta a Eduardo Campos, o eleitor pernambucano Carlos Francisco da Silva, nascido em Bezerros (PE), questiona a frase “Não vamos desistir do Brasil”, que vem sendo citada como o “testamento político” do ex-governador pernambucano; “Depois da tua entrevista no Jornal Nacional, eu fiquei com muita vontade de te encontrar, de apertar a tua mão, olhar no teu olho e te perguntar: Quem disse que eu desisti do Brasil, Eduardo?”, questiona; “Quem desistiu do Brasil foram setores da política e da mídia brasileira, quando promoveram o golpe militar de 1964 (…) quem desistiu foi a classe média alta que vaiou uma chefe de Estado num evento de dimensões como a abertura de uma copa do mundo porque não se conforma com o Brasil que distribui renda e possibilita a ricos e pobres, negros e brancos as mesmas oportunidades”; leia a íntegra em
http://www.brasil247.com/pt/247/poder/150418/De-um-eleitor-a-Campos-N%C3%A3o-desisti-do-Brasil.htm
17 DE AGOSTO DE 2014 ÀS 19:28
Aos teóricos da conspiração:
“Caxa Preta”, que não é preta e sim laranja, é um instrumento eletrônico e como tal, sujeito às falhas e invariavelmente, deixa de registrar imagens, sons e e dados.
Não é um equipamento perfeito e infalível.
Ainda mais um que só registra sons.
As falhas são mais comuns do que se possa imaginar.
Caro Fernando…
o que será que tá havendo? voce decidiu me tornar pior, fernando? juntar o nome de Lenonel Brizola a esse lixo? Ah! Fernando, voce leva a sério… nunca mais vou le voce, a menos que voce peça desculpa… Um herói do nosso povo… do lado de lixo
Leo, não juntei coisa alguma. E a história é verdadeira, prova de que todos se sujeitam aos azares da aviação, independente do que pensem. Não há nenhum juízo de valor sobre as pessoas. Quanto a falar a O Globo, não tenho problemas em falar a ninguém, quando o objetivo é fazer jornalismo e há boa-fé. Como também não me seduz aparecer no jornal à custa de dar trela a coisas de mau-caratismo, como foi a “reportagem” de O Globo sobre a entrevista de Lula aos blogueiros. Da dignidade, quando está grudada na gente, não é preciso cuidar: ela se impregna em nosso comportamento. Não preciso me patrulhar. Muito menos em relação a Brizola, com o qual tive a honra de partilhar 22 anos de convívio diário e de lealdade que nunca foi feita de sabujice.
Eu peço desculpas, mas me deixa muito incomodado mais esta fatalidade que tirou de cena o único candidato da oposição que se eleito presidente, a exemplo de Lula e Dilma, jamais faria o jogo das classes conservadoras. Ao meu ver, Campos era útil para levar o Aécio para o segundo turno, mas este projeto fracassou porque o Aécio não saiu do lugar, aí ele se tornou inútil. Seria melhor ele desistir, mas ele não desistiu. Moral da história, a fatalidade caiu como uma luva dando uma sobrevida à oposição que aquela altura ja tinha jogado a toalha. Estou querendo crer que foi apenas uma fatalidade, mas acho que preciso de um tempo pra me convencer.
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