(Na foto, Lima Barreto, escritor negro carioca que morreu na miséria. Seu primeiro livro publicado, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, trazia duras críticas à imprensa da época. Na história, Caminha vai trabalhar num jornal chamado O Globo. Barreto fazia referência ao Correio da Manhã. É uma deliciosa ironia que tenha escolhido o nome de um jornal que ainda não existia, mas que viria a se tornar o símbolo máximo de tudo que Barreto critica em seu romance.)
Ainda na linha do post anterior, e ainda sob efeito de um forte (e espero que temporário, se quiser continuar fazendo este trabalho) tédio em relação à política, que se tornou um disco arranhado que só fala em escândalo, escândalo, escândalo, com rápidas pausas para nomeações de ministros via mídia, continuemos o debate sobre políticas de cultura.
Quero dar outro pitaco, sobre literatura.
Antes, algumas observações paralelas.
A Globo hoje marcou um ponto contra o governo, ao publicar matéria sobre a redução dos investimentos da Petrobrás em cultura.
Imagino que a matéria venha cheia de distorções, que a Petrobrás, para variar, não vai responder.
Mas digamos que seja verdade.
Então eu quero saber quanto a Petrobrás investiu na mídia.
A Petrobrás tem feito investimentos em seus inimigos, o que não tem sentido.
A cultura sempre foi amiga da Petrobrás.
Não tem sentido economizar em cultura e aumentar a publicidade na mídia anti-Petrobrás.
Voltando à literatura, o governo está com um déficit gigante de notícias positivas junto aos formadores de opinião.
Uma bela iniciativa política seria criar um novo prêmio de literatura.
Ou melhor, vários prêmios.
Primeiro, um prêmio nacional. O mais caro do país, permitindo que o ganhador tenha autonomia financeira por muitos anos.
Um prêmio para iniciantes. Um para inéditos, mesmo sem editoras. Outro para com editoras.
Prêmios por faixas etárias, por regiões do país.
Prêmios para ficção, não-ficção, infantil, adolescente, adulto.
Prêmio por gênero literário.
Prêmios para textos publicados em blogs, em facebook, em zines.
Agora, seria fundamental que os curadores do prêmio não sejam parte da mesma panelinha do jabá das editoras.
E que haja uma grande estrutura, profissional, para avaliação de originais, com garantia que todos sejam analisados com isenção.
E, sobretudo, um sistema de avaliação com credibilidade.
E que a grande mídia, pelo amor de Deus, seja deixada de fora.
Que os canais de divulgação do prêmio sejam a internet, as redes sociais, os sites independentes de cultura, os blogs.
Deus, seria tão barato, em termos de governo!
Poderia ser quase custo zero para o governo, se fosse amarrado a parcerias público-privadas, e integrado à publicidade institucional.
Seria uma iniciativa que, de imediato, contaria com a simpatia e o entusiasmo de milhares e milhares de escritores em todo país.
E os libertariam da ditadura da mídia.
Hoje em dia, o sucesso literário, e mesmo os prêmios, sofre influência desproporcional de uma imprensa decadente.
As ideias acima podem ser facilmente transplantadas para a música, artes plásticas, teatro, etc.
Tudo isso também é democratização da mídia.
11 respostas
Beleza! Coisa simples e estimuladora da cultura. Vê-se que não precisa muito para fazer política de boa qualidade. Ter a internet como canal principal, até para ocupar o espaço dessa mídia e ir ao encontro dos jovens que nela são maioria.
Parecem medidas simples e eficazes.
Confesso, porém, que, como você falou, também ando meio desestimulado, um pouco entediado, condição que também espero passageira.
É só escândalo, denúncia,armação, judiciário, PF, MP, mídia (oposição não, isso não existe).
Cansa.
Ideias excelentes. O Brasil mestiço é exuberante em diversidade cultural , pouco conhecida e reconhec ida como espaço relevante de cidadania. Entendo cultura como as formas de um povo pensar, sentir, agir e se expressar através de várias linguagens. E assim, evoluindo sempre, para a melhoria de estar e fazer um mundo melhor , possível para todos. Haveremos ganhar outros espaços para além da escola e bem longe da predominância preconceituosa do PIG, que nos escraviza a um pensamento único e destrói o que temos de melhor, o nosso pluralismo cultural. Reforma Política e Regulação da mídia, também é afirmar o surgimento de novas formas culturais. Com certeza.
Sem dúvida Fernando, mas não esqueçamos do orçamento pífio para a Cultura.
Incrível mesmo é que Portugal e Espanha , apesar da crise monstruosa que se abate sobre eles, possam cada um ter seu instituto de língua pátria e divulgação literária, refiro-me obviamente ao Camões e ao Cervantes.
Aqui, nunca ! Não há interesse , não há dinheiro , não há público ! Uma desgraça absoluta, indigência total.
Tenho certeza que até mesmo o pobre Lima Barreto reste esquecido pelos nossos alunos da rede pública e seguramente da privada também.
Terra arrasada que o PT pouco fez para mudar, apesar e programas de acesso ao ensino.
Bela idéia esta sua, mas continuo a dizer , com 42% comprometidos em financiar a ganância do rentismo não há muita folga para grandes mudanças !
É triste ver a globo comandar a TV, a música, os atores e o teatro, o cinema, a imprensa junto com as criticas literárias e teatrais e até na acadêmia de letras que breve deve se mudar para o Jardim Botânico. Todos tão sensíveis a censura estatal, sempre uma probabilidade, e tão complacentes com os monopólios privados efetivos.
Belíssima idéia. Mas… Será que vinga?…
Os “investimentos” em cultura são fundados nas isenções da lei Rouanet.
Se o faturamento da empresa cai, e daí o volume de impostos a pagar, sobra menos para investir em cultura.
Então, não é questão de opção cultural, mas de caixa.
Ou não?
Seria excelente e é uma ótima surpresa encontrar tal sugestão neste blog. Os escritores novos não têm nenhum canal afora uma luta renhida em ambiente saturado de pirataria, ou confusa em blogs destacados que herdam das editoras a arrogância colocada muito longe da crítica. Os escritores estão extremamente ressentidos com o governo, e com os governos estaduais, que esqueceram completamente que cultura não é apenas um meio de evitar que rapazes e moças se percam no mundo das drogas. A literatura de criação, um dos maiores patrimônios que um país pode possuir, está às moscas no nosso país.
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* . . . . **** . . . . Lei de Mídias Já!!!! **** … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. **** … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …
Muito interessante essa abordagem sobre realidade brasileira e incentivos culturais. Concordo com quase tudo exposto e acho ótimo tratar o assunto como também democratização da mídia. O Tijolaço é um exemplo, por isso o apoio integralmente. Tem que constar na pauta dos outros blogs progressistas o incentivo a cultura.
?????????????
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* . . . . **** . . . . Lei de Mídias Já!!!! **** … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. **** … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …
Ouvindo A Voz do Brasil e postando:
Li recentemente (neste ano de 2014) o livro de Lima Barreto intitulado “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” e achei incrível a coincidência (pode se dizer “premonição” do grande autor carioca). Diz muito da atualidade do que se supõe seja o ambiente de trabalho(?) na imprensa/mídia contemporânea. Imperdível. Leitura altamente recomendável, dentre outros grandes clássicos da literatura brasileira.
Muito bom o Tijolaço publicando este artigo continuar o debate sobre políticas de cultura, algo extremamente necessário e pouco evidenciado pela maioria dos blogs, mesmo os mais progressistas.
Excelente o seu “pitaco”. Precisamos mesmo de mais e maiores incentivos culturais em todas as áreas das artes, principalmente (aqui vou puxar a brasa para a minha sardinha, eu que sou poeta) na literatura.
Concordo que uma bela iniciativa política seria criar um novo prêmio de literatura ou, ainda melhor, vários prêmios, com um grande prêmio nacional, que seja o mais importante (e o mais caro) do país, para permitir ao ganhador a sempre desejável autonomia financeira por muito tempo. As ideias propostas são muito boas: também poderia haver outros prêmios, como um prêmio exclusivamente para iniciantes, outro para obras e/ou autores inéditos, mesmo sem editoras, além de algum prêmio para os trabalhos/autores com editoras.
A sugestão de prêmios por faixas etárias e também por regiões do país é igualmente interessante, bem como prêmios para ficção, não-ficção, infantil, adolescente, adulto, prêmio por gênero literário e prêmios para textos publicados em blogs, em facebook, em zines etc.
Também sou professor e trabalho com um jornalzinho de escola de uma sala de Leitura e sei da importância da arte para a formação das pessoas como seres humanos mais proativos, conscientes e críticos para a transformação da realidade. Assim, compartilho o pensamento de que seria fundamental que os curadores do prêmio não sejam parte da mesma panelinha do jabá das editoras e que haja uma grande estrutura, profissional, para avaliação de originais, com garantia que todos sejam analisados com isenção, num sistema de avaliação com credibilidade, sem a interferência INDESEJÁVEL da grande mídia mas que os canais de divulgação do prêmio sejam, principalmente, a internet, as redes sociais, os sites independentes de cultura, os blogs e, somente como linha auxiliar, sem maior participação, a imprensa e mídia tradicionais.
Poderia ser integrado à publicidade institucional e seria, como bem dito no artigo, uma iniciativa que, de imediato, contaria com a simpatia e o entusiasmo de milhares e milhares de escritores em todo país, libertando-os da ditadura da mídia.
Tão importante quanto isso para a área da literatura seria transplantar essas ideias para a música, artes plásticas, teatro, etc.
“Tudo isso também é democratização da mídia”.
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* . . . . **** . . . . Lei de Mídias Já!!!! **** … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. **** … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …