A realidade exige da gente, tanto quanto firmeza, lucidez para não confundirmos o circunstancial e o essencial.
E o essencial é que, dentro das regras democráticas, o Brasil garantiu mais quatro anos de um governo de coalizão progressista.
Mesmo com todo o cansaço, frustração, sofrimento, angústia e, até, desânimo, que nos possam causar certas indicações – de nomes e de políticas – do segundo governo Dilma, é preciso ter bem claro que o caminho do progresso e da justiça social, no Brasil, sempre foi o da composição, não o da confrontação.
Não é uma afirmação fácil para quem, há 40 anos, é um socialista e não mergulhou num relativismo e em concessões que levaram tantos ao conforto da direita.
Mas é o dever de honestidade de observar que, aqui, a radicalização do processo político é alimento da direita, do conservadorismo e da mediocridade.
E que a composição nos deu Vargas, JK, Jango, e Lula.
A direita brasileira – que não é o Lobão, o Bolsonaro, o Feliciano, Sheherazade ou Reinaldo Azevedo – serve-se deles ( e do nosso justificado asco ao que dizem) para produzir uma onda de mediocridade que, há décadas, não se observava na classe média brasileira.
Talvez desde o lacerdismo, hoje visto como caricato, mas dono de uma expressão real no Brasil dos anos 50/60.
Recomendo a leitura do circo de horrores narrado no blog de Leonardo Sakamoto, onde ele descreve as mensagen recebidas de leitores sobre o encontro com as famílias na noite de Natal, quando “parentes e amigos que aproveitaram a ceia para defender a volta da ditadura, a esterilização forçada dos mais pobres, o machismo institucionalizado, o racismo desvairado, o assassinato de usuários de drogas”.
E este, infelizmente, é um fenômeno que atinge especialmente a juventude, embora, convenhamos, também atinja gente que devia estar bem grandinha para saber onde isso leva.
É claro que a mídia – nunca é demais lembrar que é ela quem representa a direita “de verdade” – que dá espaço farto a esta gente, parece ser, no seu noticiário, “politicamente correta”, às vezes até ao extremo, sobretudo em questões sexuais e raciais.
Não tem o menor pudor em estimular o confronto, despertando – mesmo por via transversas – dando, sobretudo, o palanque que dá aos sociopatas notórios.
Contem no dedos os dias, por exemplo, até que digam que a lei – recém sancionada por Dilma Rousseff – que torna ilegítimo o uso de arma de fogo letal contra pessoas desarmadas, mesmo em fuga, para dizer que a polícia está impedida de atirar em bandido.
Claro que temos de polemizar, debater, esclarecer, mesmo na escandalosa desproporção de meios que tem a esquerda nas comunicações.
E muito menos que o Governo se mantenha no silêncio, deixando que só se ouça a voz da direita no Brasil.
Ao contrário, o governo -e a Presidenta, pessoalmente – não podem abrir mão de seu dever de enfrentar as polêmicas, porque a verdadeira batalha é por corações e mentes.
Mas, até por tudo o que disse, é essencial que conservemos a serenidade, a capacidade de argumentar, convencer, refletir, em lugar dos impulsos – tantas vezes justos – de responder na mesma moeda de ódio e intolerância.
É preciso lembrar que, lentamente, a civilização vai vencendo o jogo contra a barbárie.
Quem vai na canela é quem está perdendo – e perdeu, por mais quatro anos – o jogo.
Não quem tem, ainda, um craque para entrar em campo na próxima decisão.
16 respostas
se náo quisermos uma nova noite dos cristais novamente…
A verdade deve ser temperada com amor e gentileza para que seja ouvida.
Não sei se Lula é craque, mas com certeza, ele é odiado e isso para mim já basta. Tenho a mesma repulsa de Brizola, destinada as nossa elites. Se pudesse, enfiaria em cada eleição um sapo barbudo em suas goelas.
O povo brasileiro elegeu um congresso conservador para os próximos 4 anos. E é nesse cenário que precisamos adentrar para poder aprovar os projetos que buscam soluções para a maioria pobre da população brasileira. Não será fácil! O Aloysio já protocolou um projeto de lei que acaba com o sistema de partilha do pré-sal. Logo, deve tirar muitos recursos da Educação e da Saúde. Como barrar este tipo de ataque senão compondo com parte do conservadorismo disposto a avançar? Com os votos do PT somente? Jamais… Aliás, a bancada do PT é bem parecida com a do PMDB, com a do PSDB, com a do PSB…É difícil! O que temos que fazer é fortalecer a estratégia de Dilma: fazer um governo “bom” e trazer ao palco o ator principal que está cansado de ficar no camarim. Conseguimos chegar a um novo mandato contra trocentos Golias: toda a grande imprensa, o Judiciário…Vamos nos qualificar nesses 4 anos! Quem a oposição terá daqui a 16 anos (4 de Dilma e 8 do ator)? Fernando Henrique estará com 95 anos, Serra com 84…O Aécio? O Alckmin? O ACM Neto? O Bolsonaro? O Bruno Covas? Quem eles estão preparando? E nós? Quem estamos preparando? O Haddad? A Gleisi? O Rui? O Lindeberg? Rachar agora é temeroso. Temos que olhar pra frente. Nosso maior obstáculo é a mídia. Esse sim é um problema que devemos nos preocupar. E o trabalho não pode passar – somente – pela regulação oficial. Precisamos descobrir e empreender alternativas de comunicação de boa qualidade e em massa. Abraço a todos e vamu-qui-vamu.
Então o covardao do Aluysio 300 mil e entreguista? Desgraçado!Vamos fazer um protesto em frente a casa dele.
Fernando Brito, sempre o meu melhor professor de política. O que me mostra o ponto certo e me fortalece.
Brito Boas Festas. Q o próximo seu blog consiga a independência financeira, muitos e muitos anunciantes.
Vou lembrar de te lembrar sobre a serenidade ao longo de 2015. rss
A radicalização paraguaia deve ser combatida, a direita tomou posse de movimentos progressistas,apenas para atingir a presidente.Eu não sou da trupe A,B ou C eu penso que independente disso, a paz e o direito de se governar e avançar, política e economicamente devem ser a principal bandeira contra a TV e a direita[ que está afastando as neves de seu próprio radicalismo]
De acordo, Fernando. Serenidade, paciencia, discernimento, e fe’ em nossa causa – mais democracia, mais justica social e mais evolucao para o povo brasileiro – e’ o melhor caminho.
Caro Fernando Brito apesar da Dilma ter vencido as eleições o congresso eleito tem perfil conservador e isto tem dois culpados a Mídia que sódá voz e torna conhecidos da massa eleitoral dos cidadãos aqueles que expressam a ideologia conservadora que alimentam por outro lado, o outro culpado da falta de lideranças políticas dos trabalhadores, são os governos executivos das três esferas, a justiça do trabalho e o aparato policial quando convocado pelos anteriores que desde que o direito de greve foi constitucionalizado “O SISTEMA” fez de tudo para que o “direito constitucional” não possa ser mais exercido ou o seja sob tantas condicionantes irracionais e sob ameaças de multas trabalhistas que visam exterminar economicamente qualquer luta sindical.
O mais GRAVE é que o PT seja a nível Federal (ou qualquer outro) não só não permite a livre expressão de seus servidores e é absolutamente OMISSO em regulamentar ou legislar regras mais flexíveis para os Trabalhadores em geral.
Aliás como governo é um excelente patrão em doze anos de governo os servidores federais sequer tem sua data-base legalmente estabelecida como raramente tiveram reajustes anuais lineares ou regra de reajuste anual estabelecida. Como bom patrão os ex-trabalhadores do PT (Lula incluído) sofreram de TOTAL AMNÉSIA neste assunto e suspeita-se que para os líderes petistas consideram os servidores públicos mais para SERVOS que como Trabalhadores como qualquer outro.
De qualquer modo fizeram uma opção POLÍTICA por não atender aos pleitos mínimos de seus servidores federais. Deste modo não podem reclamar da IMENSA oposição que enfrentam de seus próprios servidores, a vazar tudo que não lhes interessa, e a grande votação contrária de servidores federais contra a releição.
AINDA BEM que conseguiram não perder para o Aecioporto mas no ano da eleição usar lei de segurança nacional contra greve de servidores ficará como nódoa indelével da “lider trabalhista” Dilma Roussef.
Por fim esta atitude do governo petista além de apartá-lo de suas origens sindicais e de uma classe PRIMORDIAL para a sobrevivência econômica do partido nos seus primeiros anos com suas contribuições descontadas nos salários de servidores públicos é suicida e burra uma vez que sem o regular exercício do direito de greve por trabalhadores públicos e privados não se formam e não se tornam conhecidos novos líderes trabalhistas. O PT está se tornando um partido de velhos e só se renovará imitando os partidos de direita através do nepotismo dos filhos de político ou abrir seus olhos embaciados e liberar DE VERDADE o direito POLÍTICO dos trabalhadores de questionar e fazer greve de verdade quebrando os ovos para fazer omelete…
Obrigada,Fernando. Suas reflexões sempre me fazem perceber que o caminho não é aquele indicado pelo meu pavio curtíssimo, mas é que às vezes dá um desânimo …..
Um texto tao bom, que pena o último parágrafo!
Fernando, Lula tem 69 anos. Nas próximas eleiçoes terá 73, e 77 se fosse para ser reeleito. O Brasil nao pode depender para sempre de um homem só! Temos que criar novas lideranças. Lula já deu uma valiosíssima contribuiçao, agora tem que vir gente nova.
Fernando: A história registra que as transformações ocorrem por etapas. É um processo que exige paciência revolucionária.
acho também que é hora de todos se juntarem para um Brasil melhor e ainda tenho esperança da Dilma nomear Azeredo para um bom ministério e o Tio Rei para Secom
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http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1567376-governador-petista-quer-reu-do-mensalao-tucano-na-fazenda.shtml
[ E que a composição nos deu Vargas, JK, Jango, e Lula]
Precisava dizer que essa engenharia política que permitiu pular de Jango para Lula sem passar por Brizola, ou outra asquerosidade politicamente demente, foi um presente dado por puro amor ao Brasil pelos que fizeram a Gloriosa