Prepare-se, caro leitor.
Você vai ler o retrato do que eu disse antes: a hipocrisia fantasiada de “pureza médica”.
O protagonista vem a ser o Dr. Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica que diz, no UOL : “Se alguma instância de poder oferecer hoje um salário de R$ 100 mil para um médico trabalhar, por exemplo, em uma área remota da Amazônia, quase que certamente ele não irá. Talvez, um entre 100 aceite. Mas este não representa o espírito de uma classe que visa, acima de tudo, o apoio ao próximo, a assistência humanística e olha a profissão sob as vistas do amor ao próximo”.
Onde é fica o próximo que o senhor ama, Dr. Lopes, que nem por R$ 100 mil o senhor vai cuidar dos índios e caboclos da Amazônia?
O senhor tem ideia do que são 100 mil reais, o mesmo que uma legião de quase 2oo trabalhadores de salário mínimo ganham por mês? Os filhos deles podem comer 100 vezes menos que os seus?
E o pior é a explicação que este cidadão dá para justificar que não se traga médicos que, por um décimo do valor que ele rebarba, estão dispostos a assistir aquela “gentalha”:
-Para aprovar a entrada de um profissional de medicina graduado fora, seja ele estrangeiro ou brasileiro, não se pode apenas auferir a técnica. É necessário avaliar o perfil psicológico, a formação ética e moral. Uma série de parâmetros tem de ser analisada porque é alguém de fora do Brasil, não é da terra, não possui nossa cultura, o jeitinho brasileiro em seu lado bom”.
Dr. Lopes, os seus conceitos de formação ética e moral não me servem. Espero que também não sirvam a um médico que se recuse a atendê-lo, numa emergência, porque o senhor não foi atropelado dentro da UTI do HCor, em São Paulo, mas numa viela de periferia onde o senhor pudesse, distraidamente, estar praticando o seu amor ao próximo.
Quando eu falei aqui de um elitismo médico desumano, não esperava que aparecesse um “médico” feito este insensível tão rapidamente para confirmá-lo.
Insensível, porque até por formação profissional que deveria ter, que a essência da clínica médica é a anamnese, que consiste em ouvir e observar o paciente e seus sintomas.
Ou, se quiser mais preciso, a compaixão, que é sentir em si o sofrimento alheio,
O doutor que vá praticar o seu “amor ao próximo” donde lhe convier, claro desde que paguem a consulta.
O pior é que essa gente vai entrar na Justiça para proibir que os formandos de medicina atendam ao nosso povão miserável. E não duvide que ganhem.
A elite deste país, médica inclusive, acha o povo uma coisa desprezível.
Amam o próximo, desde que ele fique bem longe dele.
Pobre mora longe, não é, doutor, não é “o próximo”?
O “próximo” é só o da senha, este incômodo detalhe da medicina.
10 respostas
Brito, tive um choque de realidade em 2009, quando eu suspeitava que esse cenário de hoje se apresentaria.
Vivi 2009 na ignorancia, achava que eu estava errada, mesmo suspeitando que poderia está certa.
Em 2011 a ilusão acabou, ela foi tão dura que levarei décadas para me refazer o que aconteceu aqui em Brasilia em 2011 me fez mudar totalmente. Estou cansada desse corporativos bestial que assola nosso pais. Cada um cuidado do seu quadrado mas de olho em tirar vantagem do quadrado alheia.
Isso não é evolução humana
Estamos no séc 21 com mentalidade medieval. Isso tem que mudar
Ademar Ernesto Huppes
mam o próximo desde que ele fique bem longe dele ou que tenha bastante dinheiro.
Texto com uma “saúde” danada. “Pobre mora longe, não é o próximo”, foi diagnóstico perfeito.
Se há uma métrica para se medir a evolução humana é deixar de ver o mundo através do próprio umbigo e reconhecer no outro alguém diferente de si. Alguém ou algo que pode surgir dentro de nós próprios e/ou do nosso meio com qual temos , tivemos ou teremos de conviver em busca de uma harmonia na diversidade. Existência saudável, convivência construtiva, respeito mútuo, confiança e pertencimento ao social, ao ambiental, a cultura , a economia. A isto eu chamo Saúde Coletiva de Qualidade. Ser Diferente é ser Normal. Será que a industria dos medicamentos, dos laboratórios, os conselhos e associações médicas, as universidades de ensino e o próprio capitalismo possui estes ideais em suas ações?
“(…) porque até por formação profissional que deveria ter, que a essência da clínica médica é a anamnese, que consiste em ouvir e observar o paciente e seus sintomas.” ?? Ah não, pera lá… isso é querer criticar com o argumento errado… se é para fazer medicina com anamnese – e somente com a anamnese, pelo que pude entender do texto – a medicina poderia ser substituída pela psicologia, ou então pela veterinária… afinal, psicólogos escutam, e veterinários também fazem anamnese! (Agora a turma desinformada que acha que veterinária é banho e tosa teve siricotico agora, rs). Pois se nem a veterinária se faz apenas com anamnese… já tentei, juro, ser Jesus Cristo qdo recém-formada… aliás, os piores profissionais que conheço são metidos a JC… medicina não é só anamnese, embora a anamnese seja imprescindível. É preciso equipamentos, é preciso infraestrutura, e não é nada agradável ter a responsabilidade de ‘curar’ alguém sob seus ombros quando não se tem o mínimo recurso disponível ao seu alcance. Não concordo; quer criticar os médicos, ok, mas arrume um bom argumento; esse não colou.
Eu gostaria de oferecer outro argumento. Conheci um médico que atende no alto Amazonas. Esteve lá por um tempo, pensou que não estava preparado, foi para o Rio de janeiro, fez especialização por um ano ( se não me falha a memória em epidemiologia, não sou da area) e voltou. Diz que tem 6 vagas abertas para trabalharem ao lado dele. Ninguém quer ir. Têm todo direito. Só não podem tirar o direito dos indígenas serem atendidos por outros profissionais, quem sabe, mais motivados.
O que as pessoas não atentam é para as condições que esses médicos trabalharão.
Não adianta você fazer um juramento e não ter condições de cumpri-lo.
Não basta um salário maravilhoso se não há infraestrutura. De que adianta o médico se deslocar para os extremos do país e ter que receitar ervas porque os remédios não chegam e os equipamentos médico/cirúrgico não existem? Isso já fazem os curandeiros!
Parabéns Dr. Antonio Carlos Lopes.
To contigo Antonio Carlos da Silva, acho que há um equivoco nessa história. Está havendo uma interpretação selvagem por parte do Fernando. Quando o Lopes faz tal afirmação, não ficou claro os verdadeiros motivos porque os médicos não estão dispostos a encarar essa jornada. Tem muita coisa por traz disso tudo, e uma delas é a instabilidade e incerteza de receber pelo serviço contratado, que é de competência Municipal. Quando Lopes fala do jeitinho e do lado bom do profissional brasileiro, ele quer dizer que somos criativos e capazes de ministrar as adversidades, que por culpa e irresponsabilidade dos Órgãos competentes desviam os recursos, equipamentos e materiais hospitalares de forma criminosa, e outras coisas mais. Enfim é bom agente ficar esperto e se informar melhor…
Além do revalida vai te que ter avaliação psicológica…rrarrarrarrarra, bom, pelo ato médico vão ter que procurar psicólogos para a tal avaliação e olha que pelo plano de saúde nem encontra, vai ter que ser particular mesmo….rrarrarrarrarra!!!!!!!!
Ah, tá certo, então vamos deixar assim mesmo, né, gente???
Quanta hipocrisia. Querem mudar o Brasil, mas não mudem os médicos de lugar.
Se os médicos que vão ganhar R$100.000,00 (é mesmo???) não tiverem condições de trabalhar, que as comunidades carente e distantes continuem sem médicos. Que vergonha.
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