Um dia, quando pesquisadores estudarem a nossa época, poderão tratá-la como “a era da mídia”, ou seja, um tempo em que uma mídia já decadente, do ponto-de-vista econômico, social e político, ainda exercia grande influência sobre a agenda política.
Então os mesmos pesquisadores atentarão para o fenômeno do “infográfico”. Ele é uma ferramenta essencial para transformar teorias e boatos em verdades psicológicas.
É fácil entender a importância do infográfico.
Basta fazer a pergunta: qual a importância de um escândalo político?
Detonar o adversário.
Nos últimos dias, fez sucesso nas redes um vídeo-aula, em que se ensina a estagiários da grande imprensa a trabalharem sem risco de serem sumariamente demitidos.
Pois bem, a questão dos infográficos entra num nível ligeiramente mais avançado.
É preciso sempre fazer um infográfico, sobretudo quando as acusações que se deseja lançar sobre o adversário ainda são vagas, inconsistentes.
Por exemplo, as delações de Ricardo Pessoa, que parecem ser a última bala no cartucho dos procuradores da operação Lava Jato para detonar o PT.
Chega a ser engraçado. A UTC, como toda empreiteira, doou para todos os partidos.
A Folha, porém, faz um infográfico com as doações apenas para petistas ou figuras que podem ser, de alguma maneira, ligadas ao petismo.
As explicações abaixo do infográfico não precisam fazer muito sentido: é um jornalismo de baixa densidade.
Recentemente, um dos cérebros, dentro do Ministério Público, dessa era da conspirações midiático-judiciais, o procurador Vladimir Aras, publicou um artigo em seu blog falando que a delação “valia muito pouco”.
É uma balela, claro. As delações têm sido usadas como fundamento principal para a elaboração de acusações por parte da própria procuradoria. As teses de acusação são montadas a partir da delação, e não das provas. As provas físicas são consideradas a parte “flexível” da acusação. Extratos bancários, transferências de valores, documentos sobre doação de campanha, são classificados de acordo com a delação.
Por exemplo, uma doação oficial de campanha pode ser legal ou ilegal, segundo a delação.
Doações para o PSDB, por exemplo, são sempre legais. Tanto que jamais entrarão num infográfico.
Imagine fazer um infográfico sobre o trensalão, a compra de votos, a privataria tucana, ou mesmo levar a sério a delações de Youssef sobre Aécio?
Nunca!
Já as doações para o PT, são sempre ilegais. Com prova ou não. Se tiver prova de crime, ótimo, senão, dá-lhe infográfico.
O PT comete crime quando faz caixa 2, quando ocorreu no mensalão, e comete crime quando faz caixa 1.
Na verdade, o PT deveria desistir de fazer política e se enveredar por outra atividade, como cinema, produção de teses acadêmicas, coisas assim, deixando o caminho livre para o PSDB.
Com o infográfico, as inconsistências de uma delação ganham densidade visual. O que lhes falta em substância, será suprido em aparência.
Parece até uma tese sobre Espinoza.
Aliás, está aí um bom futuro para o PT: ao invés de fazer política, onde é criminalizado faça o que fizer, deveria se tornar um curso de pós-graduação em filosofia, com especialização em Espinoza.