O professor Wanderley faz alguns comentários sobre os problemas da esquerda no mundo hoje.
A esquerda não está onde pomos nem pomos onde estamos
15 de maio de 2015
Por Wanderley Guilherme, em seu blog Segunda Opinião
É sempre melhor que a esquerda sobreviva, ainda que à falta de opção. Não é cômodo, mas o oposto, a direita sobrevivendo com folga na ausência de alternativa, incomoda muito mais. Há reconhecida parcela de impotência socialista na varredura que os conservadores vêm fazendo nos últimos sete anos. Em praticamente todos os continentes. Circunstância que é particularmente desagradável depois do desastre a que políticas calorosas ao mundo financeiro conduziram os países, na rabeira dos Estados Unidos. Mas o volume da insatisfação universal com o estado do mundo não se converte em ações estruturadas, capazes de impor rumos aos governos eleitos. Em parte porque inexiste um conjunto de ideias motivadoras e convincentes com carimbo da esquerda, justiça social pela transformação e transformação pela justiça social. Ao que se soma o negativismo irracionalista dos movimentos contra tudo e contra todos, infecção ideológica que aleija a esquerda sem arranhar a direita, pois a proposta é de indiferença ou espasmos inconsequentes. Não há objetivo de transformação institucional, mas de salvação epistemológica individual. Salvam-se os que sabem que nada vale a pena. Daí que vitórias eleitorais aqui e ali sejam subvertidas pela pressão da direita sobre governos oriundos da esquerda. A direita se nutre menos dos méritos de suas fantasias sobre eficiência dos mercados do que pela incapacidade da esquerda de instrumentalizar alternativas civilizadamente aceitáveis.
E como se isso não bastasse, no Brasil estamos indecisos sem saber se há uma esquerda que sobrevive por incompetência da direita ou se é a direita que se apossa aos bocados da sociedade por anemia à esquerda. Nem mesmo se vislumbra qual o vetor hegemônico no governo, visto que as vozes que de lá se ouvem são dissonantes. Para os amantes da contemporaneidade musical, dir-se-ia que o primeiro-ministro é discípulo de Stravinsky. Durma-se com um barulho desses.
5 respostas
Isso é um chamado a radicalização das esquerdas? vocês querem um estado comunista?
HA-HA-HA.
Isso NUNCA vai acontecer no Brasil.
Vocês petistas estão sonhando com um “golpe de estado comunista” e uma “ditadura do proletariado” para salvar Lula e cia?
Ridículo
Alex, geralmente não respondo esse tipo de comentário mal educado e desinformado. Você jura que o PT quer dar um golpe comunista mesmo? Acorde pra realidade. Será que se quisesse isso, já não teria dado nos últimos 12 anos?
O governo do PT é desenvolvimentista, capitalista, e por isso toma críticas pesadas da própria esquerda. Por favor, acorde pra realidade, nunca se consumiu tanto nesse país como hoje.
Agora, o PT tem um lado socializante que apavora a direita. Essa mesma direita que ama viajar pra Europa e adota medidas sozializantes ainda mais radicais que o PT tem adotado. Vamos esperar os próximos índices de IDH para ver os avanços que essa política socializante trará ao Brasil. Espero que ajude pessoas como você, enganadas por colunistas maldosos e trollers contratados, a enxergar o quanto temos evoluído nesse país. Enfim, um abraço.
Cara, para de viajar! Olha a política econômica do PT… Olha o monte de “concessões” que o Governo faz, entregando muitas coisas para a iniciativa privada! Atualmente o PT é muito mais neoliberal que qualquer coisa. Longe, muito longe de qualquer coisa remotamente parecida com comunismo…
Alias esse gráfico não tem nada a ver com a política mundial, mas com a radicalização que acontece entre os democratas e republicanos nos EUA. Só que isso já aconteceu em outros tempos…
e depois o “left” ali está longe do que o PT chama de “esquerda”. O ponto mais a esquerda da esquerda deste gráfico fica a direita do PSDB!
“Salvam-se os que sabem que nada vale a pena. Daí que vitórias eleitorais aqui e ali sejam subvertidas pela pressão da direita sobre governos oriundos da esquerda.” Foi o pensamento mais direto e correto que ouvi nestes últimos tempos. Ideologia pra intelectual ver e babar em cima. É o que temos como justificativa ao pragmatismo lulista. O PT adorou ficar tanto tempo no poder, pairando sobre tudo que pregou antes de chegar ao topo. Um deslumbramento que expressa o total despreparo – ou desinteresse – para concretizar projetos e estruturar a nação politicamente a fim de zelar pela manutenção de conquistas e promover um avanço constante em direção ao rompimento com as antigas estruturas. Enquanto isto, a cabecinha do militante fica escutando o anjinho e o diabinho se digladiando por sua alma:
– Corrupção? Deixa pra depois.
– Reformas? Não, não é o momento.
– Justiça e igualdade de direitos? Peraí, companheiro, devagar com o andor que o Joaquim Barbosa não é de barro.
– Combate ao autoritarismo contra os periféricos? Oh, não! O Alckmin é peça importante no jogo político e a polícia é uma categoria de trabalhadores como qualquer outra. além do que, estes trabalhadores têm armas e controlam as estruturas de intimidação e achincalhamento do cidadão comum.
– Mas o cidadão comum votou no Lula e na Dilma, certo? Veja bem, o Governo é para todos. Militante é teimoso, viu! Dá pra esperar um pouco? Vocês reclamam demais, movimentos reclamam demais e não dão tanto voto assim, nem tanto dinheiro pra campanha, certo companheiro?
– Sei… mas pra defender a Dilma serviu, né? Mas, se não fosse a gente que tá aqui se matando pra governar o país, vocês não teriam nada. Vem governar no nosso lugar, vem, pra ver o que é bom!
O militante cala a boca e pensa. É o momento de contemporizar. Bota um ovo e sai cacarejando:”é pela causa, é pela causa!” Vence o capirotinho, que ainda garante que vai lhe sobrar farinha pro próprio pirão, se for colaborativo.
Petistas…