Nepomuceno se pergunta: o que fazer?

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A esta altura, fazer o quê?

10 de Julho de 2015, na Carta Maior.

Pois é: tanto Dilma como seu partido, o PT, cometeram erros, e muitos. Isso é inegável. Desde que chegou ao poder, no já um tanto distante 2003, o PT – talvez por concluir que não havia outra opção – fez alianças esdrúxulas, deixou a impressão de que estava certo de conseguir chafurdar na velha e conhecida lama política brasileira sem se manchar, ou, na melhor das hipóteses, sem se manchar tanto. Deu no que deu.

E enquanto isso, o que fez a oposição? De concreto, apresentou-se a cada eleição, e perdeu todas. Em nenhum momento conseguiu propor um programa alternativo, viável, que indicasse rumos outros para o país.

Isso, até agora. Ou, mais exatamente, até novembro do ano passado. É verdade que os partidos de oposição continuam sem nada de concreto e viável a oferecer. Mas agora a opção de suas principais figuras, a começar por Aécio Cunha (aquele que usa como pseudônimo político o sobrenome do avô materno, Neves), foi banhar-se em ressentimento e passar se guiar, dia sim e o outro também, pela certeza de que o resultado das urnas de outubro passado não merece respeito algum.

Assim, na falta de algo melhor para fazer, decidiram que o segundo mandato de Dilma Rousseff tem de acabar já. E como bater na porta dos quartéis está um tanto fora de moda nessas nossas províncias, buscam aliados mais potáveis e maleáveis, não apenas no Congresso de traidores e chantagistas comandados por dois celerados, mas nos estreitos e muitas vezes obscuros corredores da justiça.

Qualquer ferramenta pode ser útil. Por exemplo: uma instituição chamada Tribunal de Contas da União, que não tem poderes punitivos mas funciona legalmente como órgão auxiliar desse mesmo Congresso.

Espécie de depósito para onde são enviadas figuras bem apadrinhadas, para desfrutarem de uma polpuda aposentadoria, apenas uma vez, em toda sua história, o TCU reprovou as contas públicas de um presidente. Aconteceu com Getúlio Vargas, em 1936. Em tempos mais recentes, Fernando Collor de Melo, Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva tiveram suas contas aprovadas, mas com ressalvas. Nada que impedisse o Congresso de aprová-las.

A pressão agora é redobrada. Aprovar as contas de Dilma com ressalvas é pouco. É preciso que o TCU rejeite as contas relacionadas a 2014 – ou seja, em seu mandato anterior –, o que configuraria crime de responsabilidade fiscal. Nesse caso, caberá ao Congresso acatar ou desacatar essa decisão, e decidir pelo impeachment da presidente.

Aí está, esbraveja a tremenda campanha espalhada pelos grandes conglomerados de comunicação e aplaudem os ressentidos de sempre, a saída para afastar Dilma. Tudo cairá nas mãos de dois mestres da chantagem e do jogo fétido, Eduardo Cunha e Renan Calheiros.

Outra possibilidade reside no Tribunal Superior Eleitoral. Aqui, a questão é outra: um empresário preso diz que doou, para a campanha eleitoral do PT no ano passado, dinheiro ilegal. No mesmo dia, doou praticamente a mesma – e milionária – quantia para Aécio Neves.

Até agora, não conseguiu explicar porque uma doação era ilegal e a outra, legal. E parece que ninguém perguntou a ele se sua empreiteira não tinha nenhum contrato polpudo com alguns governos – o de São Paulo e o de Minas Gerais, por exemplo – do PSDB.

Esse quadro de plena conspiração coincide com uma crise econômica séria e uma crise política grave, muito grave.

Como se chegou a isso? Bem, da parte do governo, a inação e a soberba contribuíram muito. A inação se traduz na falta olímpica de uma articulação política minimamente hábil. Não fossem os préstimos de Michel Temer, e o desastre já estaria consumado há um bom tempo. A soberba se traduz no desprezo pelo diálogo, na truculência de figuras menores em tudo, menos na prepotência.

Da parte da oposição, a obtusa insistência em ignorar as urnas, a derrota, somada à incapacidade de propor alternativas e à opção preferencial pelo jogo traiçoeiro.

Mas não é só isso: outra fonte de assombros é o Congresso. Sua atual composição é, de longe, a menos qualificada desde a retomada da democracia. O que se vê no cotidiano parlamentar é a assustadora explosão de uma onda extremamente reacionária – muito mais do que apenas conservadora –, alimentada por uma manada de sacripantas.

E quando se pensa que à frente da Câmara de Deputados e do Senado estão duas figuras que de impolutas não têm nada – aliás, é exatamente o contrário – tem-se, quase completo, o quadro mais desalentador possível.

E o que falta para completar o quadro? Bem, temos uma campanha alimentada pela imprensa, pelas redes sociais comandadas à distância, capaz de alterar – para pior – um clima de insatisfação generalizada que corrói a sociedade. O resultado é o crescimento da agressividade, da intolerância, de uma ignorância atávica que permite que qualquer rumor ganhe ares de verdade, qualquer acusação se transforme em culpa, qualquer insinuação em condenação prévia. E o quadro desalentador fica completo.

Sim, sim: Dilma e o PT erraram muito. Houve uma lambança geral, e o pior pecado do partido foi achar que podia entrar na lama sem se manchar. Em todo caso, o que foi feito, feito está. A mácula não se desfará tão fácil.

Quanto à presidente, finalmente decidiu reagir às molecagens irresponsáveis de um playboy temporão, o garoto mimado que não admite ser contrariado.

Oxalá ela não retome a apatia paralisante. Oxalá não seja demasiado tarde. Oxalá ela entenda de uma boa vez que não há hipótese de que se manter alheia ao que se arma fora da redoma em que se refugiou até agora seja o melhor caminho para impedir um golpe que está nas bocas dos ressentidos, no dia-a-dia dos irresponsáveis.

Enfrentar uma das mais sórdidas e perversas campanhas lançadas contra um governante nos últimos muitíssimos anos é, sim, seu dever. Faz parte da responsabilidade do seu cargo.

O que ela fizer agora, neste momento especialmente grave, ficará para sempre na sua biografia.

Da Carta Maior

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15 respostas

  1. É bom que vários do PT façam a leitura desta excelente matéria, que de modo simples e certeiro, diz tudo.
    É bom que seja mandadas cópias para o Mercadante, Zé da jus e adjacências. A Dilma deveria ler a matéria com lupa.

    1. NÃO CONCORDO.
      SE NÃO SABE O QUE FAZER RECOLHA-SE AO SILÊNCIO.
      ATACAR LULA, O PT E DILMA NESTE MOMENTO É SÓ COVARDIA, PIOR QUE O ATAQUE DOS GOLPISTAS ENRUSTIDOS OU DECLARADOS.

      1. Sr. José de Arimathea,
        A não concordância com a minha opinão é de inteiro direito seu. Não vou me recolher ao silêncio enganoso que você quer, pois estarei sendo covarde diante desta situação em que a direita bandida acua um governo legitimamente eleito. Não deixarei de fazer críticas construtivas ao atual governo, o qual lutei para ser eleito. Só estou tentando fazer com que este governo reaja ao Golpe que está sendo tramado. Acho que você não entendeu a minha posição, que é a mesma de pessoas da esquerda democratica, que mostram o autismo e da falta de comunicação do governo diante da situação. São incríveis as falhas na área de comunicação, dá a impressão que o Governo gosta de levar borrachadas. Se a Dilma se dedicar a 3 minutos por dia para levar uma mensagem a população, esvaziaria o pneuzinho da oposição. Porque não faz isto ?

  2. Às vezes me pergunto: será que se Dilma caísse, a direita iria agüentar o incessante fogo cruzado das novas mídias, redes sociais, etc…sem censura? Lembremos que quando o PT elegeu Lula em 2002, não existia nem twitter, nem Face, internet era discada…quer saber? Duvido!

  3. E o projeto do DEM ontem a noite que tentavam aprovar na calada da noite?
    Praticamente invalidava qualquer prova e testemunho em processos no TSE.

  4. Esse discurso de que “A câmara ou o senador tem imposto sucessivas DERROTAS ao governo”, está ficando repetitivo e mentiroso, além de seguir a teoria do discurso golpista que é enfraquecer o governo Dilma. Ora, se eles aprovam medidas e leis que prejudicarão, agora ou num futuro próximo o Brasil, então os derrotados estão sendo nós, os brasileiros, e não apenas o Governo que é passageiro. Afinal de contas quem pagará a contas? Portanto, povo e senhores jornalistas que não seguem a cartilha dos golpistas, é bom abominarmos esse discurso, porque na verdade a câmara e o senado estão impondo sucessivas derrotas ao povo brasileiro. Vamos ficar atentos e combater o golpe.

  5. Miguel do Rosario, tudo bem, tudo bem, mas cuidado para nao entrar no jogo da oposicao ha de ser inteligente, diplomatico, percebam e uma conspiracao, e um ataque de todos os lados, eles nao querem que a Dilma complete o mandato, pois ai sim, ficara visivel, (que a midia esconde ) ate para os partidarios da oposicao entenderao que Dilma e uma excelente governante , essa conspiracao e orquestrada, politica midia e judiciario por alguns ministros ( tucanos ) o maluco do Aecio. O Brasil nao esta como a oposicao e midia quer passar, pois e subliminar, desancam o paiz diariamente. Leiam o que esta muito bem explanado por Santayana aqui no Tijolaco : Obama nao fez favor a Dilma, vejam vale a pena

  6. Complementando com artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos: http://www.conversaafiada.com.br/politica/2015/07/11/wanderley-sem-o-pmdb-nao-tem-golpe/

    Wanderley: sem o PMDB não tem Golpe
    O STF engolirá outra vitória do PT em 2018 ?ALERTA

    Golpes parlamentares ou do judiciário são possíveis, sim. Nem sempre promovidos pelos que deles fazem propaganda. Em 64 foi preciso uma “vaca fardada” se mover sem saber direito aonde ia e os oportunistas lhe deram o sentido que desejavam: contra a Constituição e a ordem legal. A começar pela declaração do Senado de vacância da Presidência com o presidente João Goulart ainda em território nacional, senha de que o Partido Social Democrata, centro-conservador, aderira ao esbulho. O resto foi um jogo de dominó.

    Hoje, como então, os ressentidos crônicos, sob a liderança do PSDB, não dispõem do apoio firme de organizações responsáveis nem de mobilização voluntária de grandes segmentos sociais. Mais importante de tudo: é patente que o PSDB deixou de ser uma sigla respeitável, adquirindo a reputação de aventureira ao se submeter ao radicalismo institucional do senador Aécio Neves em busca de hegemonia interna contra o governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, e o senador José Serra. O descalabro verbal e o desequilíbrio de julgamento do senador reduz a confiança na capacidade tucana de manter a serenidade exigida no comando da República. O PSDB é impotente para violar as regras atuais da política.

    Até bem pouco, o PMDB nada lucraria com manobras instalando o PSDB no poder, sobretudo se em decorrência de movimentos ideologicamente moralizantes, autorizado a arbitrariedades e vinganças. Do cálculo de custos e benefícios do PMDB serão ou não alimentadas a direção e a força das arremetidas tucanas. Partido singular, do qual todos os governantes dependem e de que todos buscam aparentar distância. Os puristas resistem a aceitar a dinâmica política brasileira em sua carne viva e agem como se não existissem alguns dos principais agentes desse processo. Poucos se dão conta do especial papel que o acaso institucional lhe reservou: sem o PMDB o PSDB golpista não é nada. Por isso a tentativa de se aproximar dele está sendo o lance mais inteligente do golpismo tucano, à margem da histeria dos líderes de panelaços. Há um PMDB, ainda minoritário, que o aguarda de braços abertos, eis o potencial explosivo de curto prazo.

    Dizem que o mandato de Dilma Rousseff pode sucumbir por petardos do Tribunal de Contas, da Policia Federal ou do Tribunal Superior Eleitoral. Muito duvidoso, sem a adesão, outra vez, do PMDB. Mas a democracia brasileira não estará segura ainda que Dilma Rousseff supere as pesquisas altamente desfavoráveis do momento. Para mim, a esfinge é uma dúvida: o Supremo Tribunal Federal engolirá outra vitória petista em 2018?

    1. Grandes e varias tacadas do professor:
      Aecio prejudicado com a derrota em 2014 no ultimo minuto do segundo tempo age movido por ressentimento. Um menino mimado de quem foi retirado o brinquedo preferido. Por outro lado para ter alguma chance em 2018 como candidato do PSDB terá que superar seus concorrentes na disputa ao candidatura para o cargo, Alckmin e Serra e aforma de ficar em evidência é liderar o golpe. Lembrando que aécio não tem mais o Estado de Minas Gerais onde foi humilhantemente derrotado, ao contrário de Alckmin que tem São Paulo.
      O PMDB é essencial ao golpe.
      A direita, o PiG, o STF, Judiciário como um todo, PF e TCU não estão dispostos a engolir outra vitoria do PT em 2018 e não interessa o veredito das urnas a vontade o povo, eles farão tudo para impedir.

      1. Pois é, a coisa realmente ficou insustentável e chegou longe demais. Nao acredito que a reaçao tardia da Dilma contra o golpe será eficaz. Nem vou falar do partido do PT porque esse aí perdeu o rumo faz tempo, além do que está infiltrado de gente do nível do Delcídio, o zé, Mercadante etc.

        A estratégia do silencio adotada pelo governo foi decisiva para permitir que as coisas chegassem ao ponto crítico que estao aí. Nao é só Dilma que perdeu. O maior prejudicado foi Lula, o melhor presidente que o Brasil conheceu, e isso dá um gosto muito amargo na boca de todos nós.

        É óbvio que toda a oposiçao [o PiG, o Judiciário como um todo, PF e TCU] vai pro tudo ou nada, prá arrebentar tudo.. e que o PMDB vai salvar a sua pele porque eles sempre foram oportunistas e nao largam o Poder jamais.

        O GMendes. está de plantao…
        Ele nao vai perder a chance de ver a Dilma e o PT derrotados.

        E voce vai ver, a sociedade nao vai dar um pio e a vida vai seguir como se nada tivesse acontecido.

        Pena..

  7. Palavras são tijolos na construção do edifício do golpe. E os golpistas guiam-se pela expressão de medo da esquerda para avaliar a correção de suas estratégias. Assim, nós da esquerda, temos sido parte importante na estruturação do golpe.

  8. A aceitação do golpe está patente nas manifestações deste e outros blogs. A covardia leva a transferir a culpa para o próprio Partido.

  9. ESPALHEM, AD NAUSEAM

    sábado, 11 de julho de 2015
    “Mensaleiro” premia jornalistas no DF
    Por Leandro Fortes, no blog Diário do Centro do Mundo:

    Em maio de 2013, a Procuradoria Geral da República apontou o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda e o ex-vice-governador Paulo Octavio como chefes da quadrilha no escândalo que ficou conhecido como “mensalão” do DEM.

    A dupla e outros 37 acusados de envolvimento no esquema de corrupção e pagamentos de propinas foram pegos na Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.

    A subprocuradora-geral da República Raquel Elias Ferreira Dodge disse que a quadrilha agia a mando de Arruda e Paulo Octavio.

    Os dois, segundo ela, “definiram a estratégia de dominação da máquina administrativa e seu uso para fins criminosos”.

    Arruda foi cassado e Paulo Octavio, pressionado por quatro pedidos de impeachment, renunciou.

    PO, como é conhecido em Brasília, voltou às atividades de investidor imobiliário, mas acabou preso, em 2014, suspeito de participação num esquema de corrupção de agentes públicos para a concessão de alvarás para empreendimentos imobiliários no Distrito Federal.

    Foi solto, cinco dias depois, mas continua réu em sete processos, segundo o Tribunal de Justiça do DF.

    Responde por organização criminosa, falsidade ideológica, corrupção ativa e corrupção passiva.

    Pois bem, pelo segundo ano consecutivo, realizou-se, na capital federal, o Prêmio Paulo Octavio de Jornalismo.

    Não vou entrar no mérito dos premiados, não li nenhuma das reportagens inscritas, nem quero fazer juízo de valor sobre a intenção de quem se inscreveu.

    Mas vale uma reflexão de todos: não há nada de errado nisso?

    Digamos que, de repente, surgisse o Prêmio Carlinhos Cachoeira de Jornalismo.

    Não haveria nenhum constrangimento ético para jornalistas participarem de uma coisa dessas?

    Agora, imaginem se José Dirceu decidisse criar um prêmio de jornalismo.

    O que iria acontecer?

    Eu respondo: jornais, revistas, tevês, rádios, sites e blogs que, alegremente, participaram do convescote de Paulo Octavio, não iriam permitir que seus profissionais se inscrevessem.

    Iriam, no entanto, colocá-los no rastro de Dirceu para forçá-lo a responder a uma pergunta que ninguém fez a Paulo Octavio: como um acusado de comandar uma quadrilha pode pagar prêmios para jornalistas?

    Qual a vantagem disso?

    Entre os laureados do Prêmio Paulo Octavio de Jornalismo deste ano estão profissionais do portal UOL (do Grupo Folha), da BandNews, do Correio Braziliense e, acreditem, da Rádio Justiça, do Supremo Tribunal Federal.

    Mas Paulo Octavio, vocês sabem, não é do PT.

    Logo, ele não precisou dizer nada a respeito, até porque nada a respeito lhe foi perguntado

  10. As únicas propostas da oposição são: sangrar o governo, nem que para isso sangre o país, sangre o povo e suas suadas conquistas e sabotar toda e qualquer política governamental, sabotar a economia, sabotar as conquistas civilizatórias.

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