Terra, trabalho e teto: o papa e a saída para a crise política

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A direita brasileira, ou os setores mais retrógrados e egoístas dela, estão em estado de ódio contra o Papa Francisco, pelo fato singelo de que se trata de um papa notoriamente “de esquerda”, que prioriza a luta contra a pobreza e faz críticas à concentração dos meios de comunicação.

O papa está dando uma lição de política ao governo e à presidenta Dilma.

Através da palavra, do discurso, da comunicação, é possível influenciar e promover mudanças.

É isso que se espera de uma liderança política.

Ao invés de vir à TV falar de “ajuste fiscal”, Dilma pode se posicionar, de maneira coerente com sua história e com sua campanha, contra a concentração dos meios de comunicação, explicando, assim como o papa, que eles promovem uma padronização artificial de comportamentos e atitudes.

A própria hostilidade a seu governo, é de certa forma, um efeito dessa padronização a que foi submetido o povo, através de um sistema de comunicação herdado da ditadura, com empresas de mídia que se tornaram verdadeiros aparelhos de doutrinação ideológica capitalista.

Os eixos em torno dos quais se deram os encontros dos movimentos sociais da América Latina com o papa foram “terra”, “trabalho” e “teto”.

Está aí uma ideia pronta para Dilma se posicionar na sociedade, visto que o seu maior problema hoje é ter se tornado mais um vácuo do que uma referência política

Terra, trabalho e teto.

O Brasil ainda tem problemas graves de moradia. O governo tem um bom programa, o Minha Casa Minha Vida, mas o problema persiste.

O momento pede sintaxe nova, soluções novas, símbolos novos. Talvez um novo programa de massa para dar abrigo e segurança aos moradores de rua, cuja quantidade voltou a crescer em várias cidades.

Um programa de distribuição de terra, se bem planejado, também surtiria um grande efeito político.

A mesma coisa vale para programas massivos de emprego, para enxugar as massas que vem sofrendo com a deterioração da economia.

Em momentos de crise aguda, os governos que deram certo, como Roosevelt na década de 30, foram aqueles que investiram na criação de frentes de trabalho.

Terra, trabalho e teto.

De qualquer forma, nenhuma política do governo está destinada a reconquistar o coração da sociedade se não for emoldurada por um discurso coerente e firme, se não for defendida com zelo, criatividade e inteligência contra os ataques inevitáveis da mídia.

O papa argentino está mostrando que o discurso social ainda tem muito apelo, à diferença da tese que a mídia tenta vender à opinião pública brasileira, de que nos tornamos um povo egoísta, rancoroso e conservador.

A mídia mente, e procura apenas insuflar o que existe de pior, de maligno, no espírito do povo. Seu domínio sobre instrumentos de psicologia de massa lhe permitem causar um forte estrago.

Cabe ao governo, fazer o contraponto. Como representante política máxima da vontade popular, caberia à Dilma fomentar o que existe de solidário no coração do povo, e daí construir toda uma simbologia de transformação social.

Terra, trabalho e teto.

***

“Os papas falavam para os pobres. Francisco chama os movimentos para ouvir”, afirma bispo brasileiro

Dom Guilherme Werlang, que participou do Encontro Mundial de Movimentos Populares, considera o encontro com Francisco um “divisor de águas”. Conheça as histórias daqueles que se encontraram com o líder da Igreja Católica na Bolívia.

11/07/2015

Por Joana Tavares, para o Brasil de Fato.

Especial de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia

Moisés Chuiu é pedreiro em La Paz. Ele luta para que as empresas chinesas não se apropriem do trabalho dos operários. Leonilda Zurita é dirigente de um movimento de mulheres que se chama Bartolina Sisa, em homenagem à guerreira indígena torturada e assassinada em 1792 pelos conquistadores espanhóis. Hoje, ela é uma das muitas mulheres que ocupam cargos de poder na Bolívia, um país onde metade dos congressistas são homens e a outra metade mulheres.

Orlando Viveiros veio da Colômbia e defende a paz. Mas uma paz combinada com justiça social, que contemple as comunidades, como a dele, “que levamos nas costas o peso da guerra”. Jaqueline Flores carregou em suas mãos muito lixo até perceber que aquilo não só era um trabalho – que, como todos, deve ser protegido com direitos – mas também cumpria papel social e ambiental. “Por que a mim me tocou existir, trabalhar e parir no subsolo da minha pátria?”, perguntava-se, antes de encontrar na organização de outras pessoas como ela a resposta.

Evo Morales é da Bolívia. Líder sindical de agricultores cocaleros, tornou-se presidente de seu país e inimigo do Capitalismo. Ele presenteia seu “amigo papa” com um crucifixo estilizado, na forma de foice e martelo. Em troca, recebe do pontífice um ícone bizantino do Menino Jesus com sua mãe e uma cópia do documento “Laudato se”, quer dizer “Louvado seja” em latim.

São histórias e alternativas como essas que o Papa Francisco busca conectar quando estende sua prática para o diálogo e quando critica o capitalismo como sistema que oprime os pobres e maltrata o meio ambiente. Ele participou do 3º dia do 2º Encontro Mundial de Movimentos Populares, que aconteceu em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, dos dias 7 a 9 de julho.

“É como um divisor de águas. Porque até então o papa falava para o mundo. Agora o papa quer ouvir o mundo. Os papas falavam para os pobres. O papa Francisco chama os movimentos para ouvir os pobres, para ouvir os excluídos”, avalia o bispo Dom Guilherme Werlang, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O papa saudou os presentes e recebeu uma carta com os compromissos e denúncias elencados pelos participantes, 1500 pessoas de 400 organizações sociais de 40 países do mundo.

Os três dias do encontro se basearam em discussões em torno dos eixos “Terra”, “Trabalho” e “Teto”. Esses eixos foram inspirados na exposição do Papa Francisco no primeiro encontro, em que destacou que é preciso lutar para que não haja mais “nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem trabalho digno e nenhuma família sem moradia digna”.

Diálogo e esperança

A perspectiva de encontrar a figura mais importante da Igreja Católica motivou o eletricitário e diretor sindical Jair Gomes Pereira Filho a sair de ônibus de Belo Horizonte e chegar a Santa Cruz de La Sierra dois dias depois. “O papa tem nos orientado para que pratiquemos as mudanças que o mundo tanto necessita. Ele chama a atenção que todos – inclusive a Igreja – precisamos sair da redoma e fazer o debate das justiças sociais”, diz.

E não só os cristãos foram chamados a participar do Encontro. Macota Celinha, coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afrobrasileira, lembrou que o mundo vive hoje um crescimento de intolerância e de ódio, e que apenas com o diálogo e o respeito entre diversas religiões será possível mudar esse estado de coisas.

Participação brasileira

Mais de 250 brasileiros, de várias regiões do país, participaram do 2º encontro. Entre eles, Beatriz Cerqueira, presidenta da CUT Minas e João Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), participaram do primeiro encontro e ajudaram a articular sua continuidade.

Beatriz conta que o fato de outra reunião acontecer em tão curto espaço de tempo demonstra que a aproximação sugerida entre o Vaticano e os movimentos populares é real. “É muito significativo quando a história nos presenteia com líderes como papa Francisco. Especialmente neste momento de grande acirramento da luta política, uma liderança como a dele ser utilizada para o bem comum é muito importante”, destaca.

Primeiro encontro e continuidade

Entre 27 e 29 de outubro de 2014, o papa recebeu no Vaticano dirigentes sociais dos cinco continentes, que representaram organizações de base principalmente de três setores – trabalhadores precarizados, camponeses sem terra e pessoas que vivem em moradias precárias – mas também sindicalistas, ativistas de direitos humanos e de pastorais sociais. Está prevista a realização de um encontro de movimentos populares do Brasil com a Igreja em fevereiro do ano que vem.

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10 respostas

  1. Acabo de rever o vídeo de Dilma triturando Agripino Maia. Onde anda essa mulher, extraordinariamente sapiens e combativa? Que Papa Francisco e o triplo T a ajude a sair desse marasmo!

  2. “Um Outro Mundo é Possível”…é o slogan do Fórum Social Mundial, criado pelo PT Gaúcho (diga-se de passagem) no Gov. Olívio Dutra, com este mesmo discurso do Pata Francisco. O mesmo Olívio que os gaúchos preferiram trocar por Lazier Martins(RBS – Zelotes) para Senador representando os de bombacha! Como também trocaram um gringo tosco, que reajustou o salário de toda a elite do seu Governo…Assembléia, Judiciário e Executivo, para agora congelar os salários da grande massa de “operários” do Estado, como os Professores. Gauchada politizada…mas para a Direita Volver!

  3. Corrigindo…Papa Francisco…aproveitando para concluir, parece que o Papa aprendeu com o PT Antigo…e agora tenta ensinar o PT “moderno…” a fazer política!

  4. A cada dia o papa Francisco,e o que ele pensa,me faz bem….me aproxima do que eu sinto,como cidadão brasileiro (graças a deus)ou como cidadão do mundo,a terra o trabalho e um teto….o amor a vida e ao meu criador.

  5. “O papa está dando uma lição de política ao governo e à presidenta Dilma.”
    “Através da palavra, do discurso, da comunicação, é possível influenciar e promover mudanças.”
    O que você escreveu no texto acima, Brito, é fundamental. A atuação do Papa como líder de centenas de milhões de católicos é, além de teológica, essencialmente politica. E como tal, as nações que estão à testa do mundo tentam influir na eleição do papa.
    COMUNICAÇÃO, COMUNICAÇÃO e COMUNICAÇÃO. A palavra chave que a presidenta de 200 milhões ignorou, a seu tempo, entregando ao inimigo, um oligopólio criminoso de nome Globo, todas as informações de cunho politico de um governo que fez pelo povo o que em mais de 500 anos as elites egoístas e perversas, a Casa Grande que teima em resistir apenas em um único país que integra o importantíssimo grupo dos BRICS, jamais fez. Deixar esta canalha safada dar um golpe sem resistir será imperdoável por todas as épocas. Abandonar às comunicações ao inimigo é crime inafiançável contra as futuras gerações.

  6. Resumo da história “republicana” brasileira: 12 Estados de sítio, 17 atos institucionais, 6 dissoluções do Congresso, 19 rebeliões, 2 renúncias presidenciais, 3 presidentes impedidos de tomar posse, 4 presidentes depostos, 7 Constituições diferentes, 2 longos períodos ditatoriais, 9 governos autoritários… Uma instabilidade política, social, econômica, jamais vista em nosso país. Esses são os 120 anos de república no Brasil.

    Acham mesmo que essa turma, a classe dominante mais canalha e incompetente do mundo a “elite” paulista vai se lixar pra conversas e papos filosóficos? Tem gente que ainda não entendeu que o judiciario brasileiro é um dos esteios da corrupção assim como a policia desde de que obviamente esta corrupção favoreça essa classe medieval e estupida? O judiciario ja deu cabais demonstrações de golpismo e parcialidade. Estão querendo depor a dilma com base num parecer do tse comandado por um canalha da lavra do gilmar mendes e por um congresso que acaba de votar a legalização da corrupção das doações ptivadas de campanha? Até quando os intelectuais bonzinhos do Brasil vão acreditar no “poder das palavras” para a classe dominante? Como diz o francês “regarde moi ma tête”.
    Meus prezados sem a rua não há argumentos.

    1. Apoiado !
      O difícil é fazer a turminha petista acostumada ao “bem-bom” dos carguinhos federais.
      O presidente petista, também ele acomodado, nem pensa em largar o osso.
      Esqueceram que a luta política significa ocupar o espaço político.
      Mas aí tem que ir para a rua, dialogar com os movimentos sociais, sindicatos, etc. Isso dá trabalho.
      Vamos levando devagar até onde der. . .

  7. Depois de um longo e tenebroso inverno, o sol volta a brilhar para a Igreja Católica.
    Não um Papa pop, mas um Papa pobre.
    E um retorno da igreja aos ensinamentos de Jesus Cristo.
    A Opus Dei deve estar ruminando para digerir a volta da igreja a suas origens.

  8. e que bela e simbolica concepçao artistica do “subsenvolvido, cocaleiro bugre terceiro mundista boliviano”!!!!
    alo, alo lideres conservadores, alô bispos da velha guarda CNBB e catolicos opus Dei de todas as plagas:
    escuta essa!
    o Papa Chico vai substituir o crucifixo de seu gabinete no Vaticano por esta cruz estilizada em Foice & Martelo. Rs rs rsrsrsrsrsrsrsrsrs
    E bota-la na cabeceira de sua cama.
    Como é que voces estao dormindo agora? e q explicaçoes darão aos fieis que acham q o comunismo é satanico e seus simbolos mais ainda?

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