Vamos democratizar o debate sobre os juros?

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A importância dos juros altos para baixar a inflação tem sido um dos conceitos macro-econômicos mais defendidos pela teoria hegemônica entre técnicos do Banco Central.

Francamente, o Brasil precisa debater esse ponto em mais profundidade. Trata-se de uma medida que, na prática, promove uma brutal transferência de renda do contribuinte para um pequeno número de detentores de títulos públicos, em especial bancos.

Alguém precisa fazer um estudo, compreensível para um número maior de pessoas, sobre os reais interesses por trás dos juros altos. ganha, quem perde, quem são os principais detentores de títulos no Brasil?

Até que ponto o ajuste fiscal baseado em juros altos é uma chantagem do mercado contra a soberania popular?

Uma vez, eu li uma entrevista com um cientista político do Rio, que acusava as grandes redes de varejo de chantagearem o governo. Eles apenas seguravam a inflação se o governo aumentasse os juros, porque eles também detinham grandes quantidades de títulos públicos. Para compensar a redução dos lucros no varejo com a inflação mais baixa, eles tinham que ganhar mais no mercado financeiro.

É verdade isso? Existem, de fato, tais vampiros?

O Nassif tenta problematizar e questionar o dogma do juro alto.

Quem mais se habilita em fazê-lo, com uma sintaxe simples, que nos permita incluir esse tema no debate político corriqueiro?

Afinal, o dinheiro gasto em juros poderia fazer uma verdadeira revolução em nossa economia. A menos que fôssemos convencidos que não.

Acho que falta democratizar o debate sobre os juros no Brasil.

À nossa grande mídia, já vimos que não interessa fazer esse debate, visto que ela é a representante do mais radical sectarismo neoliberal. E sequer faz qualquer tipo de investigação para suprir o público com mais informações.

A imprensa brasileira só quer saber de golpes, mais nada. Informação não é com ela.

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A capacidade da economia de brigar com os fatos

QUA, 22/07/2015 – 21:17
Luis Nassif, no jornal GGN.

A formação acadêmica, o conhecimento teórico é uma ferramenta que só tem utilidade se empregados para entender os fenômenos analisados.

Em geral, há uma enorme dificuldade do economista ideológico em submeter a teoria ao crivo do senhor fato. Mesmo que os fatos não se comportem conforme previsto na teoria, os economistas de menor visão apegam-se à teoria julgando que em algum ponto qualquer do futuro a verdade aparecerá e a teoria se imporá sobre os fatos rebeldes.

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É o que está por trás da fé cega do Banco Central no uso desmedido da Selic contra a inflação, e do Ministério da Fazenda em insistir em um ajuste recessivo que está promovendo uma queda do nível de atividade e da arrecadação mais que proporcional ao ajuste fiscal pretendido.

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A ideia é que quanto mais rápido o ajuste (isto é, quanto mais agressivas as medidas tomadas), mais rapidamente a inflação convergirá para o centro da meta, mais rapidamente os empresários acreditarão na higidez fiscal e voltarão a investir.

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O Ministro Guido Mantega se perdeu devido à fé cega no poder da fé e da palavra. A cada frustração do PIB armava uma coletiva na qual anunciava mais incentivos fiscais e garantia que dali para frente a economia iria crescer.

Esse mesmo procedimento está sendo adotado pelo Ministro Joaquim Levy. As previsões de queda do PIB já batem em 2%, a receita cai em nível muito mais agudo. Ninguém no mercado espera a manutenção das metas de superávit fiscal. Os formadores de opinião se dariam por satisfeitos em perceber uma trajetória segura – realista e sem fantasias – rumo ao equilíbrio da relação divida/PIB em um ponto qualquer do futuro.

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A maneira como o BC está aplicando o sistema de metas inflacionarias futuramente será um caso a ser estudado nas boas escolas de economia internacionais.

Tem-se hoje em dia uma economia exangue. Desde fins do ano passado, havia sinais nítidos de trajetória descendente. No último trimestre, uma queda brutal da arrecadação já demonstrava a inversão do ciclo.

Os grandes estrategistas econômicos, ao lado do conhecimento teórico, acumulam experiência prática e capacidade de, a partir dos dados e do clima econômico, intuir a trajetória da economia. Não importa o nível em que ela está hoje, mas o nível em que poderá estar daqui a alguns meses, mantidas as mesmas condições de temperatura.

É por isso que cada Banco Central norte-americano, além das séries estatísticas, mantém contato permanente com as principais empresas do setor real da economia, para captar as tendências. Não se trata se ciência exata, mas da capacidade de intuir o todo, somando o conhecimento estatístico e a sensibilidade para o mundo real.

Por aqui, aplica-se uma tecnicalidade de quinta categoria. Só depois que a vítima está estrebuchando na calçada e que se consegue avaliar o tamanho do tombo.

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Daqui a um ano se terá uma economia mais pobre, uma relação dívida/PIB maior (por conta dos juros), nenhum investimento por conta da capacidade ociosa da economia e da taxa de retorno dos títulos públicos.

Daí, quando parar de cair, haverá uma comemoração pela recuperação, sem se avaliar o quanto se deixou de ganhar no período.

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19 respostas

  1. Na Carta capital, há uma entrevista com a Maria Lucia Fattorelli, ex-auditora da Receita federal onde afirma que a “A dívida pública é um mega esquema de corrupção institucionalizado” neste sistema há um desvio de recursos públicos para o mercado financeiro. Evidentemente que a nossa imprensa, porta voz dos rentistas se recusa abordar esse assunto.

  2. Concordo com seu texto, Brito. Vamos democratizar o assunto. Precisamos saber mais sobre isto. Eu preciso saber mais. E gostaria de saber mais.

    1. Perdoe-me, Miguel. Você não costuma vir aqui durante a semana. Espero que tudo esteja bem com Brito. Saudações aos dois.

  3. Gostaria de saber como o Governo Federal pode combater a inflação se alguns governadores não estão nem aí pra isso, como é o caso de Beto Richa no Paraná que aumentou o ICMS de 95 mil produtos, aumentou o IPVA em 40%, aumentou e continua aumentando a tarifa da água, etc.

  4. Aqui do Alto Xingu, os indios consideram que os críticos superficiais do governo, não sei porque, fingem ignorar que o preço das commodities e do petróleo desabaram afetando gravemente as receitas e os projetos de desenvolvimento dos países em desenvolvimento, inclusive o Brasil. Outro impacto relevante foi a queda do ritmo de crescimento da China, de 11% a.a.a no passado, para 7% a.a. em 2014, além da expectativa de que neste ano será menor e, o mais grave, deverá cair a cada ano ainda mais, para nível entre 3-4% a.a., em média, nos próximos dez anos. Isso só não abalaria um governo da oposição.

    Os críticos superficiais fingem ignorar também que, atualmente, não há demanda no mundo: (1) Os Estados Unidos, depois de injetarem US$ 15 trilhões sob a forma de diversas esquemas de resgate a seus bancos, empresas e até a estatização das suas doze bolsas de valores, ainda crescem em ritmo vagaroso e vacilante; (2) a Europa está estagnada; (3) com seus países periféricos devendo progressivamente deixar o Euro com as respectivas crises vindouras, e (4) o Japão está parado há décadas. Isso evidentemente também não abalaria um governo da oposição.

    Evidentemente, sem respaldo político interno e sem o controle do Banco Central — que impõe taxas de juros reais predatórias ao País, beneficiando escancaradamente o rentismo financeiro –, o governo do PT não pode desvalorizar o câmbio com mais antecedência e de forma mais acentuada, não pode instituir mecanismo de reajuste de salário abaixo do crescimento da produtividade e nem sequer pensar em nacionalizar o sistema bancário, a fim de que este pudesse captar recursos do público a taxas de juros reais próxima de zero, ou no máximo 1% a 2% a.a. em termos reais (garantindo ao sistema apenas um spread que lhe permitisse cobrir seus custos fixos e administrativos, os quais deveriam ser estritamente controlados e racionalizados), com a finalidade de aumentar a poupança interna para financiar projetos estratégicos de longo prazo e de infraestrutura, a fim de que a economia pudesse crescer rapidamente com base em recursos próprios. Mas, para isso o PT não conseguiria apoio da sociedade e do congresso, ambos imersos na miopia econômica de curto prazo e na cegueira quanto à gravidade da conjuntura mundial.

    Como não houve condições políticas internas para se fazer isso, o ajuste foi retardado e, agora, em condições agravadas, tem que ser feito doa a quem doer.

    É completamente impossível que os ricos poupem o máximo que vêm tentando poupar e poupem qualquer coisa que valha a pena poupar. Eles podem poupar fábricas ociosas e ferrovias e rodovias inúteis; podem poupar edifícios e instalações vazios e instituições financeiras e bancos emagrecidos ou fechados; podem salvar papéis evidenciando empréstimos internos externos; mas, como classe, não podem poupar nada que valha a pena, acima e além do montante que só é possível tornar rentável unicamente pelo aumento do volume de compras dos consumidores, sejam o interno ou, alternativa ou conjuntamente, o externo, ora escassos.

  5. Vamos,mas tería-mos que começar por aqui:

    https://m.youtube.com/watch?feature=youtu.be&v=aFzke1cCwUg

    Nosso presente e futuro foram sequestrados pelos rentistas canalhas gaz muito tempo, e o Pt no poder sequer tocou a unha do dedinho na questão, nem uma palavra sequer sobre auditar esta dívida sacana e canhestra.

    Já pagamos 300 vezes a dívida e devemos 4 trilhões! Até quando quem trabalha neste país vai sustentar rentistas vagabundos?

    Não adianta discutir juros,é preciso se livrar desta canalha.

  6. O ex-presidente Lula, quando se viu numa situação econômica talvez pior do que a existente atualmente, decidiu baixar os juros e aumentar os salários. O resultado foi o maior crescimento do país em toda a sua história. Estaria ele errado? Por que em outros países quando a crise é iminente, cortam-se os juros, como nos Estados Unidos, e no Brasil o que se faz é exatamente o contrário, com exceção de Lula? Tenho um amigo que, só de ouvir falar que a taxa SELIC subiu, aumenta imediatamente o preço de suas mercadorias. Já é uma cultura no Brasil o governo aumentar os juros e o empresariado aumentar o preço de seus produtos. Sempre uma uma analogia com uma bola de neve. Quando se baixa os juros e se mantém os salários num patamar confortável, a tendência é as pessoas comprarem mais, o comércio vender mais, a fábrica e a indústria produzirem mais. É a bola de neve positiva, que gira para a frente. Aumento de juros e corte de salários faz a bola de neve girar para trás. É o que está acontecendo com o país. Não precisa nem de economista para verificar isso. Só o Governo não vê.

    1. Acho que estás no caminho certo, caro Fernando. O Governo não vê…ou não deixam ele ver??? O que é difícil para nós -simples mortais da senzala social- é sabermos quanto poder tem as forças opostas, tal que possam aprisionar um Governo dito e eleito como progressista. Porque o que nos espanta -a mim em particular- é a certeza da impunidade que a Mídia Golpista tem no Brasil, para deitar e rolar nos ataques ao Gov. Federal, em todos os veículos, TV, Rádios, Jornais, Revistas, Sites. É incrível, eles agem absolutamente como se fossem os “Proprietários” de fato e de direito do Brasil. É como se os “podreres…assim mesmo…podreres de podres”, e o povo fossem -e acho que o são- meros SUBSTRATOS dos quais “eles”, os iluminados pelo sol e realizadores da fotossíntese da vida se alimentam. Só que tem um detalhe nesta lavoura…se o SUBSTRATO não for reposto e corrigido…a planta morre…mas o solo fica vivo!

  7. Não sou economista, mas conheço um pouco de matemática financeira.
    E entendo absurdo a tese de sair do atoleiro pelos próprios cabelos.
    E se não é isto o que Levy e o deus mercado propõe eu não entendo. Eu com dinheiro não vou aplicar na produção por que a taxa de retorno está muito próxima da Selic, e tb por que corro risco de ter a minha produção encalhada, afinal desemprego, e custo do credito para todos e para quem consome está pela hora da morte.
    Ou seja mais de capital menos de PIB, e a inflação aumenta por falta de produção e não de demanda.

  8. Tudo bem que o capital precisa ser remunerado, ele é capaz de alavancar os negócios, fazer prosperar uma empresa com o aumento dos investimentos. Mas, a remuneração precisa ser civilizada, não pode ser próxima do retorno do investimento em produção. Quem vai querer investir em produção se, sem esforço, dor de cabeça para vencer a burocracia, administrar pessoas, consegue viver melhor com os rendimentos do capital? Se o rendimento do capital desestimula o investimento produtivo , ela é inflacionária também, na medida que com menor produção, a lei da oferta e procura fica desfavorável ao comprador. Se tomo empréstimos a juros mais altos , meus precisarão custar mais caro para fazer frente ao endividamento e ao custo do dinheiro.
    Pelo que parece , o mundo inteiro se ajoelhou ao rentismo. Este excesso compromete o futuro do próprio capitalismo. Tenho para mim que o capitalismo morrerá gordo.

  9. O corte dos juros da taxa Selic só não beneficiaria os banqueiros e agiotas. O comércio, a indústria, os trabalhadores e consumidores seriam os mais beneficiados.

    Ou seja, a economia brasileira levaria vantagem e os banqueiros e agiotas seriam prejudicados.

  10. Se juros altos contivesse a inflação, em1999 à inflação não teria chegado a 8,9%, já que os juros chegaram a maior taxa da história no Brasil 45%. Tudo falácia e bandidagem dos assassinos econômicos.

    Souto Neto

  11. Quando no primeiro mandato a presidenta Dilma baixou a Selic para níveis mais civilizados, os oligopólios que dominam a economia brasileira nos diversos setores, ao perderem renda em suas aplicações financeira, subiram os preços de seus produtos para recuperarem margem. E colocaram os “deformadores” de opinião para escreverem em todos os jornais, dizendo da volta da inflação, com direito àquelas manjadas charges do dragão. Resultado: a inflação subiu um pouco e o governo não suportou a chantagem do empresariado, retomando a alta da Selic.
    No presente momento, a alta da inflação deve-se mais à correção de preços administrados. Não se trata de inflação de demanda, mesmo porque a demanda está em baixa. Portanto, no cenário atual, subir juros para combater inflação é a maior cretinice que pode existir. Ou pior, é safadeza mesmo. Pura transferência de renda.

    1. Bem lembrado pelos comentaristas; quando Dilma tentou melhorar o perfil dos juros (baixando Selic, forçando os bancos públicos a competir com os privados, diminuindo spread e aumentando crédito, tudo com a condução do Mantega), a reação foi terrível. Para não sacrificar lucros os grandes empresários subiram ou ameaçaram subir seus preços até que o governo se dobrasse. Inflação é o Dragão, e por conta da que virá todo revendedor já vai aumentando preço. Claro que todo mundo com bom senso ou com alguma dívida vai se retrair e a demanda vai pro ralo. O atual problema é que a arrecadação não cobre o gasto dos governos. Não tem giro no lado material da economia, só de papel. Teria de tomar coragem para arrecadar nos extratos de renda mais alta e também reexaminar as vergonhosas isenções para capital financeiro (dividendo para pessoa física não paga imposto, lucros em bolsa, etc) Alguém está acreditando que a dinheirama que escapou do país sem passar pelo Banco Central e que mais do que cobriria todo o deficit (só com o pagamento do imposto devido e das multas para reinternar esses capitais) vai passar pelas etapas do congresso, onde estão 70% dos representantes das grandes corporações, as mesmas que fazem manobras para exportar o lucro aqui obtido? Cunha, o imperador, já disse ser contra. E a imprensa alinhada com eles trata de fazer campanha contra qualquer ameaça aos privilégios. E a cabeça da pequena burguesia já foi conquistada.TAMOS IGUAL AO PATO QUE NÃO E AQUELE CONJUNTO DE ROCK. Precisamos de uma revolução popular que mostre nossa força e dê forças para Dilma II renegociar a dívida interna, impondo essas perdas ao capital financeiro e usar as sobras, se houver, para tocar o crescimento de seus programas para nosso futuro. Já tem gente se mexendo e dando declarações.

      1. Faltou dizer que aplicações estrangeiras entram e saem com facilidade, sem impostos. Como o dinheiro “exportado” para os fundos em paraísos fiscais não vai encontrar melhor rendimento do que o juro brasileiro, ele retorna novinho sem desconto de imposto. E engrossa nossa dívida interna cujos juros pagamos a esses experts em movimentação financeira. Todos ricos! Todos soltos! lembrando a Dilma do discurso do “pedra sobre pedra”.

  12. Nos EUA a economia é baseada no consumo interno e credito ,nao sei no se mantega tinha razao, a divida interna pode esperar o que nao pode é o povo perder poder aquisitivo e emprego , obrigar sim os bancos particulares a financiar a ciranda economica e consumidorantendo em vista seus lucros gastonomicos(como na europa), necessario modificar Sistema tradicional de aumento do juro ,esse sim e corrosivo e malefico ao trabalhador e a classe media.

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