Salvo fatos novos – e não se sabe o que pode sair das cartolas – já é possível notar os efeitos das mudanças políticas.
A votação, ontem, na Câmara, do destaque que estendia aos auditores da Receita e do Trabalho a já inacreditável vinculação de vencimentos aos ministros do Supremo concedida aos advogados da União e delegados de polícia mostrou que a “pauta-bomba”, apesar de conservar maioria (269 votos, 57% dos deputados presentes), perdeu força e o número “mágico” (308 votos) para a sustentar os atropelos de emendas constitucionais (aquelas do “vota de novo, pessoal”).
Votações unânimes, ou quase, a “bomba” de mais R$ 5 bilhões para o Tesouro, só obteve entre os tucanos, os demos e o PPS, autor da emenda.
E sem os dois terços, Cunha não pode por em votação o “impeachment”, sob pena de sacramentar a derrota desta via do golpismo.
A manchete da Folha – “Aliados de Cunha vão incentivar que protestos incluam Renan como alvo” -, a coluna de Elio Gaspari – “A artilharia de Eduardo Cunha” – e o chororô da cheirosa Eliane Cantanhêde – “Qual é a sua, Renan?” – deixam bem claro que se reduziu sensivelmente a claque dos que aplaudiam – embora com as ressalvas de que havia certa irresponsabilidade – cada detonação produzida pelo presidente da Câmara.
Navegue pelo facebook dos kataguris da vida e você verá que nem foi preciso aos aliados de Cunha pedirem aos meninos, porque Renan Calheiros tornou-se o seu alvo.
Mas existe outro menino que ficou em situação pior: Aécio Neves.
Não faz dez dias fez o PSDB assumir a convocação – inclusive na TV – da marcha coxinha de domingo e, agora, “desembarcou” da aventura, não a tempo de poder apanhar de todos os lados.
E, sobretudo, de ficar – e colocar a bancada do PSDB – a reboque de Eduardo Cunha e, sobretudo, do incerto destino de Eduardo Cunha, que pode ser devorado pelo único fenômeno previsível da política parlamentar brasileira: o instinto de sobrevivência do PMDB.