É preciso muito critério e, certamente, uma boa dose de ceticismo para tentar acompanhar, no jornais, o que seria a movimentação política do ex-presidente Lula diante da crise política e, mais recentemente, do “pacote fiscal” anunciado pelo Governo Dilma.
Ontem mesmo, aqui, analisou-se a matéria publicada no Valor, sobre um impossível “plano Lula” que seria apresentado a ela. Obvio que partiu, como autoproteção, dos integrantes da atual equipe econômica, como forma de “chorar suas pitangas” por não ter produzido senão mais paralisia e recessão.
Hoje, também, há versões para todos os gostos do encontro entre o ex-presidente e Dilma, a noite passada, em Brasília.
De todas elas, a narrativa que parece mais bem apurada e equilibrada é a feita por Vera Rosa, no Estadão, onde Lula parece disposto a contribuir, tanto quanto o deixarem, na articulação da base de apoio parlamentar do Governo, pé do qual capenga mais seriamente esta gestão, pois nem se pode, a rigor, falar de sucesso ou insucesso de medidas que não se tem viabilidade política para implementar.
De mais concreto, até agora, tudo o que se tem são as porções diárias de insegurança que se despeja no caldeirão já frio da economia, por obra conjunta de fatores externos objetivos – os níveis de dificuldades da economia do mundo, que travaram ontem mesmo a elevação dos juros nos EUA – e internos de toda a natureza: desde a paralisia dos investimentos públicos, o discurso recessivo das autoridades e agentes econômicos até a perda de referência cambial.
Lula sabe que é preciso recuperar a credibilidade pública nas medidas econômicas e que isso se dá com a rápida obtenção de sustentação política para o que, com erros e acertos, se pretende fazer. Por isso, parece verossímil a narrativa que Rosa recolheu de um de seus interlocutores:
“Nós precisamos nos unir. Mesmo quem não concorda com um ponto aqui, outro acolá, tem de apoiar nossa companheira”, disse Lula, segundo relato de um dos participantes do encontro. “Mas nós também precisamos dar uma notícia boa para a população. Não dá para só falar em desemprego, recessão, imposto e corte.”
“O” problema são, porém, dois.
Um, o de que o ministro Levy, por suas próprias ações e os resultados que (não) obteve perdeu grande parte da aura de confiabilidade que tinha diante dos agentes econômicos e para própria imprensa. E um dos fatores que levou a isso foi ter permitido que se formasse – mesmo com desmentidos aqui e ali – a ideia de que vive um clima de desconforto interno no Governo, muito distante dos poderes praticamente ilimitados que imaginou-se ter meses atrás.
Outro, o de que a articulação política do Governo é desastrosa. antes por amadorismo de seus condutores e, agora, pelo aferramento de alguns de seus integrantes (a começar por Mercadante) à sua posição de lordes palacianos, a quem faltam traquejo e natureza para mergulhar no ambiente sombrio do parlamento e trazer de lá acordos que sejam honrados.
Não é outra a razão do que se noticiou ontem, de que Dilma chamou a si a articulação política com o Senado – por tudo mais prática. Isso é bom – porque restaura a credibilidade em que o acordado será cumprido – mas tem um aspecto perigoso: a interlocução direta elimina instâncias de “correção de erros” e retira da Presidenta as camadas de proteção que, aliás, há muito lhe faltam.
Que Dilma abra espaços para Lula atuar na reforma ministerial. É que ele não apenas conhece da articulação política, do jogo de traições e lealdades como tem um diferencial importantíssimo para fazê-lo.
Por mais que a oposição se anime e se sinta já sentada no Planalto em 2018, há uma percepção política de que é ele, Lula, quem tem maiores chances de estar lá.
Lula tem futuro e futuro vale ouro na política.
12 respostas
O objetivo dos derrotados na eleição de 2014 é manter o desgaste da presidente.
As iniciativas equivocadas do governo e a conjuntura internacional, com consequências internas, favorecem a manutenção do desgaste.
Entretanto, a população já dá sinais de cansaço em relação a esse jogo de interesses menores, pois é a única prejudicada.
Lula é o favorito, caso seja candidato, em 2018. As tentativas de incriminá-lo, sem fatos, deixam claro o temor de seus adversários. Por isso, a utilização de expressões pejorativas, jocosas, que tentam ser engraçadas, mas apenas demonstram a ausência de qualidade para o debate em torno da realidade da população e as propostas e alternativas.
O Brasil não seria uma ilha de prosperidade em meio à turbulência internacional, qualquer que fosse o governo. Entretanto, a continuidade de políticas públicas que minimizam os efeitos das crises, interna e externa, junto à maioria da população e estimulam sua emancipação, não interessam à minoria que desde sempre é bem aquinhoada. A esta, reuniu-se parcela significativa da nova classe média que, agora, de frente para a realidade de perdas concretas de suas conquistas, começam a repensar e rever suas posições, pois sabe quem, no ambiente político e econômico, buscou promover a melhoria de suas condições de vida.
Lula tem o que mostrar, os adversários, não.
Nenhuma queixa quanto aos R$ 430 bilhões/ano de juros pagos pelo tesouro aos bancos, mas uma grita geral por causa dos R$ 27 bilhões/ano pagos aos beneficiários dos programas de transferência de renda.
PROUNI, PRONATEC, LUZ PARA TODOS, MINHA CASA MINHA VIDA, CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS, MAIS MÉDICOS, BRASIL CARINHOSO, BRASIL SORRIDENTE, ÁGUA PARA TODOS, e tantas outras iniciativas que visam a emancipação do cidadão e a redução da cultura escravagista ainda presente em nosso dia-a-dia são fatos e não teoria.
A carga tributária é baixa para que a sociedade possa cumprir sua obrigação de permitir oportunidades iguais de ascensão para todos.
Muros altos, segurança particular e polícia de extermínio não garantem paz social ou segurança para quem prega o estado mínimo.
No atual governo ou em futuros, teremos evolução, consolidação e amadurecimento das instituições.
Boa a tua análise da situação.
Levy errou demais na condução da economia, olhou apenas os números e esqueceu a realidade. Mais um que chegou com a receita pronta sem examinar o paciente.
`A Dilma falta um conjunto de assessores, Nassif chama de “estado maior”, para dar rumo, coerência e persistência às ações do governo e um noção política de tudo.
Em matéria de atuação política o governo tem sido um fracasso , erros atrás de erros; já na economia a maioria são acertos e os erros havidos poderiam ser resolvidos sem os tropeços que estamos assistindo..
O PT necessita se reinventar e voltar as suas bases populares e só há um líder verdadeiro capaz de fazer isso. Lula, e como escreve Leonardo Boff agora para o PT não resta senão a resiliência, dar a volta por cima e fazer dos erros uma escola de humilde aprendizado. Para os militantes e demais brasileiros que abraçaram a causa do PT, o desafio consiste em transformar a decepção em teimosia. A teimosia reside nisso: apesar das traições, as bandeiras suscitadas pelo PT já há 25 anos, devem ser teimosamente sustentadas, defendidas e proclamadas. Não por serem do PT mas porque valem por si mesmas, pelo caráter humanitário, ético, libertador e universalista que representam.
Veremos se, não só o PT, mas todos os partidos políticos voltados às causas trabalhistas, ou pelo menos oriundos dessas, tem a capacidade de manter um diálogo com suas bases e mostrar que a grande imprensa está errada e que hoje o País é um lugar melhor para se viver e ainda vai melhorar muito. O fim das doações de empresas no STF é o grande divisor de águas e teremos a oportunidade de saber, de fato, qual o tamanho da força que os movimentos populares genuínos, que defendem o trabalhador e os que precisam de quem os mantenha na luta contra a ganância dos “1%”.
Fernando, seu ode à Lula é perfeito…
seu último parágrafo é o que melhor define as tentativas da mídia golpista e dos oposicionistas em desmerecê-lo e de impedir que se candidate.
Parafraseando Cazuza, eu vejo o futuro repetir o passado, apesar de tentativas como a PEC da filha do único réu confesso do mensalão querer apenas a volta dos que nem deveriam ter sido.
A direita não tem lideranças. Falsos líderes que ainda existem são forjados pelo PIG golpista. Passou o tempo em que a mídia elegia Presidente direitista. Hoje esse PIG convalesce da doença mais grave que existe, sem cura, em fase terminal, que é o câncer cerebral. Sem moral, a Groubo logo será incriminada como pessoa jurídica, envolvendo aí, os marinho’ s e outros, pela temível Secretaria de Justiça de New York, cuja Promotoria de Justiça é impiedosa, incorruptível e, tem tentáculos no mundo inteiro. O Brasil não vai encarar a desfeita de negar extradição. Nem deve. A pressão popular será forte
Esses coxinhas são pândegos e ridículos. Estão defasados no tempo e ainda sonham que a eleição não terminou. Além de tudo é burrice. Se gastassem seu tempo em estudar e propor alternativas para o país seriam bem mais produtivos em relação aos seus próprios interesses. Contudo, vivem de costas para Brasil e de olho na costa da Florida; não sabem o que é nosso país e portanto nunca terão condição de propor algo sério. Aliás, se tiverem de viver no país do Grande Irmão do Norte provavelmente passarão fome pois trabalhar é o que eles não sabem fazer.
Lula é uma liderança respeitada internacionalmente pelos programas de inclusão social que mudaram o historia do nosso País. Evidentemente deve estar preocupado com o rumo que a situação econômica e politica está tomando. Atualmente o Brasil sofre os efeitos da crise internacional pela queda do preço das comodities agrícolas, redução do ritmo de crescimento da China, queda do preço do petróleo e, internamente, a operação “lava jato” afetou as obras da Petrobras gerando aumento de desemprego . Por outro lado, para combater o aumento da inflação adotou-se uma politica fortemente recessiva com aumento da taxa de juros e redução dos investimentos públicos, tudo isso, simultaneamente com a correção das tarifas públicas. Recentemente o governo enviou ao Congresso o orçamento com um deficit de 30 bilhões, e solicitou sugestões ou contribuições para a sua correção. O Congresso se negou a fazê-lo. Ato continuo uma agencia classificadora de risco aproveitou-se do momento para reduzir a nota de credito do País. O governo então encaminhou ao Congresso um conjunto de medidas para sanar do deficit.O Congresso passou a criar dificuldades para aprova-las. Quanto teve oportunidade de contribuir o Congresso negou-se a fazê-lo e agora recusa-se a aceitar as medidas propostas.É uma incoerência lamentável. A maior resistência se refere a aprovação da CPMF com alegação de que carga tributaria é alta e o povo paga muito imposto. Não é verdade. O Brasil é a sétima economia do mundo e a carga tributaria brasileira é de 35%, a dos países da OCDE é em media 42% e dos países da Escandinávia próxima de 50%. O imposto de 2 ou 4 milésimos para o povo é irrelevante, todavia ele alcança as grandes movimentações financeiras do caixa 2 que não pagam imposto. Na verdade os congressistas querem proteger os ricos fingindo defender os pobres, ou querem por em prática o lema do quanto pior melhor. O conjunto de medidas proposto é muito bem pensado, não é inflacionário e nem recessivo. O governo trabalhou com transparência, ética e seriedade. A bola está com o Congresso.
Concordo plenamente, e fico triste, quando leio notícia por exemplo a respeito de Senadores petistas como Walter Pinheiro e Paulo Paim, que estão predispostos a reprovarem as medidas em conjunto com boa parte da oposição.
Tudo porque queriam mais diálogo com o governo e discussão de projetos alternativos, antes do envio dos pacotes.
Pois bem, como vc mesmo disse, a resposta mais clara dada pelo Legislativo (e aí, não se ouviu um “ai” desses senadores, aparentemente bem intencionados .. Mas enfim) quando o Executivo solicitou proposições, foi um belo “se vira nos 30” !
Fazer cisão nesse momento dentro do próprio partido é não só inoportuno, mas estúpido, pelo momento curto que temos para conseguir recuperar as receitas.
Temo pela reprovação. E pior do que isso, temo que na terça-feira pautas-bomba presentes em medidas atreladas ao Orçamento, tenham os vetos presidenciais derrubados pelo Congresso.
É extremamente preocupante, pois pode interromper qualquer recuperação econômica.
Lula, quando presidente, acertou na política e no governo. A oposição não tem nome, e, erra por não construí-lo a partir de propostas e programas para o Brasil,
Assim, o “cara” é imbatível!…
A oposição ao Lula está fazendo sua reeleição antes de 2108, realmente é um pessoal incompetente mesmo.
“…retira da Presidenta as camadas de proteção que, aliás, há muito lhe faltam.”
De participação política menor em SC, Lula contava com eficiente anteparo político, na presença de Ideli Salvatti. Negociadora temida preservava a presidência de desgastes desnecessários.