De janeiro para cá, o Governo fez quase tudo o que o mercado queria.
A começar para colocar à frente da economia um ministro afamado pela capacidade e apetite de cortar despesas e sustentado pela confiança do mercado financeiro, onde atuava.
Seguido, claro, por um cambiante “Ministro do Câmbio”, o presidente do Banco Central, que passou a sustentar uma política de ausência da instituição no mercado de dólar tal como esmerou-se, no passado, a fazê-lo exageradamente, mantendo uma cotação inviabilizadora da indústria e cruel com a balança de pagamentos do país, embora deliciosa para quem podia viajar para o exterior.
Ajudado pelo “2014, a eleição que não terminou”, o “mercado” não se fez de rogado. Pediu mais da gorda ração que já lhe davam em juros, pressiona a moeda estrangeira além da conta – que Standard & Poors, que nada… – e nem precisa elevar suas apostas sobre a mesa cambial – quem quiser olhe se houve algum salto no volume de dólares negociados – para fazer o dólar saltar às alturas.
Mesmo que um bom resultado seja alcançado hoje, na votação dos vetos de Dilma às “pautas-bomba”- e olhe lá se isso vai ser conseguido no caso do reajuste do Judiciário – teremos apenas um breve alívio, que durará apenas o suficiente para que surjam os primeiros percalços da nova CPMF, enviada hoje ao Congresso.
Não há, no horizonte, nada senão nuvens negras no rumo em que se apontou a economia brasileira. A elevação dos juros do Federal Reserve, um rebaixamento de outras agências e, agora, o afundamento de 2,5% do PIB, admitido esta noite pelo Governo.
Não há nada porque não se apela ao fundamental no comportamento econômico de um país, o ânimo de crescer e desenvolver-se.
Poderia seguir aqui com argumentos sobre o aprisionamento mental a que nos entregamos com a questão inflacionária, que desde Eurico Gaspar Dutra e passando por Sarney e Fernando Henrique, garrotearam nosso desenvolvimento industrial e expansão de nossas trocas comerciais.
Com uma vitória, hoje, na votação dos vetos, vamos prosseguir nesta corda bamba que se tornou a manutenção da governabilidade formal, mas não real, à medida em que será inevitável seguir no caminho que a falta de comunicação com a população – e comunicação não é propaganda, é política – para apontar o que se deseja para o Brasil e não apenas o que se pede ao Brasil.
Com uma eventual – espero eu, improvável – vamos mergulhar mais fundo na crise de “não-governo”, seja porque ele não consegue se impor, seja porque, antes, ele não consegue estabelecer uma identidade.
Parece improvável que possamos esperar mais do que já será uma tarefa hercúlea deste Governo: a de conseguir evitar ser tragado pela onda golpista e deixar se abrirem caminhos sombrios para o retrocesso político e econômico – ou pelo menos caminhos mais amplos do que os já abertos.
E isso, podem crer, apesar do amargo de minhas palavras, não é pouco. E nem será fácil.
Mas merece o melhor de nós.
12 respostas
É isso mesmo, Brito, FALTA DE IDENTIDADE por parte do 2º governo Dilma. Que não sabe se é social ou neoliberal, não sabe se é pró-povo ou pró-banqueiros, ortodoxo ou heterodoxo, arrochador ou desenvolvimentista. Aliás, a grande traição (ao seu eleitorado) da Dilma foi colocar um banqueiro/neoliberal no comando da economia. A partir daí, é só ladeira abaixo, e NÃO SE PODERIA ESPERAR OUTRA COISA! Ou será apeada do poder, ou então, na MELHOR das hipóteses, entregará o governo para a direita antipatriótica nas primeiras eleições. Lamentável a presidenta seguir a cartilha neoliberal, a agenda dos perdedores, que ao final tudo indica que serão os ganhadores.
A propósito, é SÓ BAIXAR 2 PONTOS PERCENTUAIS NOS JUROS DA SELIC, e está feito o ajuste (de 60 bilhões!). Não precisa cortar mais nada! E ainda por cima o Brasil PRODUTIVO agradeceria! (só o Brasil parasitário não agradeceria…)
Irion,
o problema parece ser a taxa de câmbio dólar/real. Os juros estão altos para tentar segurar o dinheiro de fora aqui. É o que dizem, pelo menos.
As alternativas seria medidas mais heterodoxas para o câmbio, como, por exemplo, fixar um câmbio em patamar menor para exportações e importações. Mas, não vejo muitas condições políticas para isso. Os argentinos fizeram alguma coisa semelhante há pouco tempo.
Dagoberto, não sei se 2 pontos percentuais mudaria muito. O câmbio foi a R$ 4,00 de qualquer jeito, mesmo com juros internos em estratosféricos 14,25%. No limite, algum tipo de controle de capitais talvez fosse necessário. O maior problema, a meu ver, não seria econômico, mas político: a gritaria dos banqueiros que patrocinam a mídia. Enfim, voltamos ao problema da democratização da mídia, “dever de casa” que o PT (infelizmente) não fez!
Tem que tirar toda essa cúpula financeira dos ministérios da Fazenda, Planejamento e do BC, tirar o Cardozo da Justiça e por fim banir de vez o Mercadante da Casa Civil. TUDO TUCANO.
ACORDA DILMA.
Concordo absolutamente.
Nada de jogar o prejuízo do fracasso geral de governo nas costas do povo.
Abaixando os juros não só cobrirá o rombo como fará mais receita para ampliar em quantidade e qualidade e garantir os direitos sociais no sentido efetivo do discurso.
Aconselhar parar de roubar é inócuo.
Então, Dilmanta, abaixa a porra desses juros e para de trair o povo.
Por conta de todas as circunstâncias: erros políticos próprios , cenário internacional muito desfavorável, uma imprensa criminosa, oposição feita por psicopatas e oportunistas de toda ordem, aparentemente, a tragédia passou a ser o destino inevitável para o governo, seja através dum golpe, seja a continuidade da sua incapacidade de comandar.
O que a Dilma tem ainda, e, talvez, muito importante, é o nada a perder. Tem a liberdade dos que fracassaram e podem começar novamente. Pode mudar, mas não mudar somente a política econômica, mudar a lógica da economia. Trazer a economia para perto de quem importa: as pessoas. Mudar a lógica da imposição dos poderosos. Abandonar ditames que têm levado o mundo a crises agudas e inevitáveis.
Há uma realidade que essa economia supostamente moderna, o sacrossanto mercado, não enxerga, não alcança – e só se importa com essa realidade para continuar a explorá-la.
Tempos de crises – e muito já foi dito – são tempos também de oportunidades, de buscar soluções que, aparentemente, são ousadas, mas a história mostra que são apenas óbvias.
O governo ainda tem mecanismos, ainda tem como se aproximar dos que realmente importam. Ainda pode, com os recursos do qual dispõem, criar novas expectativas, novos paradigmas.
Pode imitar o que a história produziu de bom. Pode ser tão ousado a ponto de fazer o óbvio: parar de se endividar para pagar juros e envidar-se para investir, criar frentes de trabalho.
Aproximar-se dos sindicatos, universidades. Criar uma mecânica dinâmica entre boas ideias e financiamento.
Sair dessa armadilha falsamente liberal – pois nada é menos liberal do que o controle do capital por tão poucos, que não traz liberdade alguma, a não ser a liberdade coletiva de obedecer.
O governo tem a oportunidade dada à sua inegável fragilidade de iniciar um novo momento, não experimental, pois tudo de bom já foi feito em termos econômicos no mundo, só precisa copiar experiências exitosas ao longo da história.
E garanto que o governo tem sido até light nas propostas de cortes, verificando o que seria do contrário, nas mãos de gente que disse q as medidas de corte deveriam ser ultra profundas, incluindo super privatizações ..
Como disseram recentemente, Helena Landau e Arminio Fraga.
Pra piorar, querem vir através do Legislativo com a cantilena de que os vetos presidenciais às medidas da pauta-bomba, são contra as “bondades” aos trabalhadores do Judiciário “justamente”.
Com um reajuste que beira à suntuosidade de 78% em apenas um ano para apenas uma categoria (incluindo a equiparação salarial quase aos ministros do STF, dos advogados da União e delegados federais, além é claro, do que já receberam outras categorias).
Comparativamente aos reajustes dos servidores do Executivo, quase que humilhantes por outro lado.
Na loucura pelo enfraquecimento político do governo a qualquer custo, jogam o país ainda mais num mato sem cachorro, ao praticamente impossibilitar o reequilíbrio orçamentário na LOA de 2016.
Imagine-se com mais 10bi de gastos adicionais ao ano (que é o q está prestes a acontecer nessa votação de hoje).
Teria-se que estabelecer uma saída dupla em tributos, com o fim da isenção no IRPF
para dividendos e retomada da CPMF (que sabemos, dificilmente passaria e foi despriorizado do pacote do governo).
Ou a saída arriscada, apesar de necessária, de redução nos juros básicos (indexados à SELIC) e manter durante bom tempo nesse patamar, nesse e no próximo ano, arriscando-se a sofrer drenagem ainda maior de capitais externos e aprofundamento na queda do rating da dívida.
Nesse umbiguismo desenfreado, de picuinhas partidárias, estão aprofundando ainda mais um buraco, que não afeta apenas à Dilma. Mas, toda a continuidade do Brasil como alguma potência que um dia ainda sonhou em ser.
Leio nos jornalões que o governo pediu o apoio dos senadores do PSDB para manter os vetos, na votação de hoje no Congresso e recebeu um sonoro NÃO! para o convite para almoço, mas a sinalização de que os tucanos atuarão pela manutenção dos vetos, pois entendem que assumirão em breve, através de nova eleição ou de seu laranja Michel Temer, e não querem comprometer as contas públicas.
Essa estratégia, se é que assim podemos classificar, demonstra e sinaliza para um ex-governo. Dilma, com sua soberba, seu isolamento e a nomeação de ministros omissos e incompetentes, descredenciou-se junto a seus eleitores e potenciais defensores. Com isso, estimulou a união de seus adversários à caçada sem tréguas, em todos os foros, que visa desestabilizar o governo eleito em 2014. Se possível, derrubá-lo, sob qualquer pretexto.
Restará a Dilma arrastar-se com ações e recursos junto ao STF, tentando manter seu ex-governo à tona, até 2018.
Numa nova eleição-tampão ou em 2018, apenas Ciro representará progressistas, trabalhistas, esquerdistas e demais apoiadores das políticas públicas alavancadas a partir de 2003, pois o ex-governo de Dilma abala Lula, que é, não tenhamos ilusão, cabra marcado para morrer politicamente pela mídia tradicional, através da operação lavajato, no momento em que for mais conveniente para a direita.
E, dificilmente, haverá povo para defender o mandato de Dilma nas ruas, pois dele ela em tempo algum se aproximou e, com a ausência de comunicação, sequer informou seus eleitores das inúmeras realizações por todo o país.
O coitadismo, a autocomiseração, não faz parte da retórica de Dilma, que conseguiu resistir até à tortura, mas, com seu queixo-duro, ela imporá tempos muito amargos aos mais pobres, caso seu segundo mandato efetive seu ex-governo.
Eis uma ótima proposta de ajuste fiscal, atacar o item de maior despesa no orçamento: os juros da dívida.
https://www.youtube.com/watch?v=q5FPPSpOpaY
Na entrevista que deu para o Estadão o ex ministro Delfim Neto disse com todas as letras que no governo Dilma I o verdadeiro ministro da fazenda não era o Mantega, mas sim a própria Dilma. Para quem faliu uma lojinha de R$ 1,99, imagina o que faria como ministra da fazenda? Estamos colhendo o que ela mesma plantou, ou seja, uma política de expansão de gastos públicos sociais (não vou discutir prioridades), juntamente com desonerações tributárias. A questão dos juros altos são a causa ou a consequência dos problemas? Nossa dívida, ao que parece, pode alcançar 70% do PIB; sendo que tem economistas que já a considera impagável. Qual a saída? Os esquerdistas dirão que tem que baixar juros de forma voluntariosa como já foi feito; já os de direita dirão que tem que cortar mais, aumentar receita, até mesmo privatizar. Um governo tem que fazer escolhas, tomar decisões; este governo não faz uma coisa nem outra.
Perguntinhas básicas: Se baixar os juros para 12 % ao ano, os “investidores” fogem, pra onde? 12 ou 10% é pouco? nos USA é quase zero e receberiam esses investidores, é isso?? Não entendo de economia mesmo. Outra coisa: se o país pagou esse ano 360 bilhões de reais de juros em dez anos pagaria 3,60 trilhões, é isso? Nossa dívida não é de 60% do PIB ? Então em dez anos estaria paga?? É quase o prazo de pagamento de um carro, menos que o financiamento de uma casa. Não entendo, me expliquem, please.