Rússia quer dividir com os EUA campanha contra o “Estado Islâmico”

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O representante do Ministério da Defesa russo,  general Igor Konashenkov, disse hoje que seu país está interessado em operar em conjunto com os Estados Unidos no combate aos grupos do Estado Islâmico na Síria, numa atitude que, ao contrário do que a imprensa ocidental vinha afirmando, seu objetivo não é implantar sua hegemonia sobre aquela região.

 

“O ministério russo da Defesa respondeu às demandas do Pentágono e examinou de maneira profunda as propostas americanas sobre a coordenação das operações como parte da luta contra o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) no território sírio”, disse Konashenkov”, segundo publica o Zero Hora, com nota da France Press.

 

É impressionante o “espírito de Guerra Fria” que continua imperando na imprensa mundial, que vem inventando histórias sobre o envio de tropas de terra, ataque da China e até de guerrilheiros da Criméia por detrás da ação russa.

 

Claro que, se chegarem a um acordo, russos e americanos vão atuar com “dois pés atrás” uns com os outros. Mas é muito melhor que a tensão de uma ação unilateral.

 

É bom que, sobre isso, leia-se a coluna de Gustavo Chacra, no Estadão, sobre como a comunidade cristã da Síria – de onde vem, aliás, boa parte dos imigrantes históricos daquele país para o Brasil – está recebendo os ataques russos.

 

Por que a Rússia, e não o
Ocidente, defende os cristãos na Síria?

Gustavo Chacra, no Estadão

Já escrevi no passado, mas volto a escrever hoje. Nos EUA, alguns políticos, como os pré-candidatos republicanos Ted Cruz e Marco Rubio, dizem estar preocupados com os cristãos no Oriente Médio. Não duvido da intenção deles. Acho que é genuína. Mas, talvez por ignorância, eles costumam sempre se posicionar contra os lados que defendem os cristãos.

 

Noto que, muitas vezes, estes lados não são necessariamente os “bonzinhos”. Na Guerra da Síria, por exemplo, todos os lados, sem exceção, são ruins. Mas o fato é que os cristãos sírios, em sua maioria, se sentem protegidos pelo regime de Bashar al Assad, pelo Irã, pelo Hezbollah e, acima de tudo, pela Rússia.

 

Não que eles gostem do líder sírio, do regime de Teerã e do grupo xiita libanês. Alguns gostam, outros, não. Mas se sentem protegidos por eles diante da ameaça de grupos rebeldes opositores ultra radicais islâmicos, seguindo a ideologia wahabbita do islamismo sunita. Sabem também que, entre os grupos armados da oposição, todos são extremistas, não apenas o ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh.

 

Rubio, Cruz e outros políticos dos EUA, e também algumas igrejas evangélicas americanas, se posicionam justamente contra quem defende os cristãos – ou diretamente contra as milícias cristãs pró-regime. Pode até ser legítimo, caso, por exemplo, pensem na segurança de Israel. O Hezbollah e o Irã são inimigos mortais dos israelenses e possuem dezenas de milhares de mísseis no sul do Líbano apontados para Tel Aviv e Haifa. Também vale o argumento caso queiram se posicionar contra um regime que cometeu crimes contra a humanidade, segundo a ONU, como o de Assad. Mas não vale caso eles digam que querem defender os cristãos.

 

A Rússia entende melhor o cenário na Síria. Entrou no conflito por uma série de motivos que eu delineei em outro post. Entre eles, para defender os cristãos. É importante notar que a maior parte dos cristãos sírios são ortodoxos, com minorias melquitas, maronitas e assírias. Estes cristãos não se identificam com os evangélicos do Ocidente. Mas se identificam e muito com a Rússia, maior nação cristã ortodoxa do mundo.

 

Ontem, o Patriarca Russo defendeu a intervenção de Putin na Síria dizendo que isso é fundamental para defender os cristãos. Ao longo do conflito, o maior líder cristão da Rússia também declarou uma série de vezes apoio ao regime de Bashar al Assad por proteger os cristãos. Outros patriarcas cristãos do mundo árabe realizaram reunião ecumênica recentemente em Damasco para apoiar o líder sírio – Damasco é sede de quatro patriarcados cristãos.

 

Ao longo destes meus anos cobrindo o conflito, sempre fiquei surpreso como muitas vezes o Ocidente não entende o cristianismo oriental. A França até entendia os ocidentalizados e francófonos cristãos maronitas de um Líbano que deixou de existir em 1975. Hoje, nem os franceses.

 

Já os russos, por incrível que pareça, são os que melhor leem a situação dos cristãos. Nos EUA e mesmo no Brasil, infelizmente, pessoas que talvez sejam bem intencionadas entendem completamente errado a situação dos cristãos. Por exemplo, Ted Cruz ter sido vaiado por cristãos destes lugares quando defendeu Israel em palestra. O senador pelo Texas achava que os cristãos sírios fossem defensores dos israelenses. Coitado. Nunca havia conversado com um cristão de Damasco antes.

Lembrando, sempre, que o mais importante é defender seres humanos, sejam eles cristãos, muçulmanos, judeus ou ateus.

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5 respostas

  1. O ecumenismo de Vlad ”a marreta”

    Mesquita-catedral de Moscou reabre após reconstrução — 23/9/2015, 12h25. MOSCOU. Vladimir Putin, o presidente do Cazaquistão Noursoultan Nazarbaïev, o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas e o presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan assistiram à reabertura da mesquita-catedral de Moscou, que passou por reconstrução. A mesquita está sendo reaberta depois de grandes trabalhos de reconstrução concebidos para ampliar a capacidade do templo, que agora passou a poder acolher até 10 mil fiéis por cerimônia (matéria de TV-TBU, legendada em francês https://www.youtube.com/watch?v=WfBPzj0LJy8).

  2. A Rússia é a grnde jogadora do xadrez da diplomacia, e neste jogo tem dado surras terríveis nos americanos. Os americanos não entendem um país como a Síria e nem pretendem entender, querem apenas que ele adote um regime que o remeta à idade média para que não incomode mais Israel, que pretende ser o único país desenvolvido na região. A Rússia não está interessada em nenhuma requeza material da Síria, porque a Rússia tem sozinha metade das riquezas de gás e petróleo de todo o mundo. Mas a Rússia sabe que se Estados Unidos destruirem a Síria, estarão bem mais perto de isolar e enfraquecer a própria Rússia. Os americanos fazem propostas para inglês (o inglês médio) ver e se enganar, e a Rússia pega estas propostas e finge levá-las muito a sério. Assim desmascaram contínuamente as pretensões dos Estados Unidos, que obviamente não são combater o Estado Islâmico, mas sim, armá-lo e levá-lo a derrubar o presidente sírio Assad já devidamente demonizado pelo Ocidente como “ditador”, enquanto o mesmo Ocidente hipócrita morre de amores pelas ditaduras sangrentas e ultra-retrógradas da Arábia Saudita, do Bahrein e do Katar. Quem acredita que os Estados Unidos e seus esbirros estavam tentando levar a democracia ao Afeganistão? Queriam lá apenas dominar geopolíticamente o centro da Ásia. A Rússia jamais se unirá aos EUA para combater o EI, simplesmente porque a Rússia quer (tem provado com uma força brutal) realmente livrar a Síria dos terroristas que tantos crimes já cometeram ali (crucificaram e degolaram milhares de cristãos, e os “cristãos” americanos disso nada falam) até contra o patrimônio histórico da Humanidade, enquanto que os EUA são aliados do EI e não vão combater seu aliado. O que se passa alí é mais uma derrota que os russos estão impondo aos EUA. Como falam na imprensa internacional, surgiu outro valentão na rua e este não é de muita conversa, além de dar provas de que tem um soco demolidar. E a tal da “Nova Ordem Mundial” de fato já se acabou.

  3. Fernando, a proposta refere-se ao Iraque, não à Siria, onde a Rússia já tem total contrôle sobre o espaço aéreo. Na realidade a proposta é um “paguei pra ver” no blefe americano, cuja força aérea é , em realidade, força de apoio ao Daesh.

  4. Como de habito, está sempre um passo á frente dos Depto de Estado, Cia, Pentagono.
    Vide Crimeia: quando eles vão lá tirar o leite, o russo ja esta voltando com a manteiga pronta. E o iraque tb ja pediu seus Sukoi para o mesmo fim, mas nao sabe se recebe.
    Diplomacia ate exaustão, preparo de seu poder de dissuasao nos detalhes, apoio de quase 90% de seu povo, propostas de soluçao politica em todas as frentes , aguentar a agressao continuada da midia ocidental por anos, contornar toda a extensa covardia da UE, tudo até que o ocidente passe do limite.Ai nao tem ameaça previa mas açao sem meias palavras.

  5. A diplomacia russa tem mostrado uma paciência de Jó imensa, para lidar com cada manobra expansionista de política ocidental, que aparece no tabuleiro da Eurasia

    Um “contra-movimento” por vez. Óbvio que o pedido pela ajuda em ataques aéreos feito pelo governo sírio, já era algo trabalhado minuciosamente entre os dois países há algum tempo, só esperando o timing certo para sua execução

    Até porque, era a melhor forma de estabelecer um contra-ponto geoestratégico ao pivoteamento que OTAN/EUA têm feito continuamente à Ásia, sem precisar criar beligerancias desnecessárias com as outras potências, uma vez que, os interesses maiores estão justificados pela missão “benevolente” de atacar os pontos controlados pelos grupos terroristas

    Há décadas que a Síria é peça- chave para os fins militares e energéticos da Rússia, com a presença inclusive da única base naval que permite acesso às águas quentes do Mediterrâneo

    Mas há um ano, a coalizão ocidental tem imposto sérios danos à já combalida infra-estrutura civil síria e tropas federais, ainda tentando apear Assad do poder, e sem mostrar resultados convincentes com relação ao EI

    Já era hora da política externa russa, entrar no jogo e “pagar para ver” qual seria a postura dos ocidentais. Que sabe-se, já se recusaram até a operar conjuntamente

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