Trecho da coluna de Janio de Freitas hoje, na Folha:
“Tudo o que se passe na Câmara em torno do possível processo contra Cunha é pouco menos do que ocioso. Os riscos que o deputado corre são maiores do que a perda do posto e do mandato, e não estão na Câmara nem dependem dos seus aliados. Estão em fervura na Procuradoria Geral da República e no Supremo Tribunal Federal.
O interesse da Lava Jato na relação de Cunha com medidas provisórias não é bem como vazou. Em diferentes ocasiões, os procuradores e a Polícia Federal vazaram informações distorcidas, com a pretensão, já declarada, de obter determinados objetivos (que se saiba, o obtido foi apenas sensacionalismo, também de muito agrado). Isso mesmo teria ocorrido outra vez, no que era visto como as vésperas da votação de processo contra Cunha no Conselho de Ética: a indicação de um suborno de R$ 45 milhões deveria influir na votação.
A tal “anotação manuscrita” sobre aquele pagamento proveniente do banco BTG, ligado pelo noticiário a uma emenda na Medida Provisória 608, segundo a versão mais verossímil, é um registro impresso de computador. Como esse papel estava entre os recolhidos de Delcídio do Amaral e do seu assessor Diogo Ferreira, junto com os computadores de ambos, entende-se que a Lava Jato já tenha o esclarecimento a respeito. O qual se liga ao recolhido de André Esteves, do BTG, que proporcionou a farta e inesperada troca de consultas e respostas entre Cunha e o banco, a respeito de medidas provisórias na Câmara e suas emendas.
Cunha por certo vai dar sua resposta a cada suspeita e acusação. Até hoje, e isso vem de longe, ele sempre demonstrou tê-las com antecedência, prontas para eventualidades imediatas, difíceis de destruir mesmo quando inconvincentes. Não é à toa que, depois de tantos alçapões à sua frente, é o presidente da Câmara. Mas as circunstâncias não se sujeitam mais às suas habilidades, apenas. A pressa com que os sócios de André Esteves o expeliram do banco que criou, e comandava, sugere o que eles sabem ou pressentem capaz de embaraçar o companheiro audacioso. E entre esses embaraços aparece Cunha, em uma permuta de ousadias que ele só pode maquiar de um lado.
Seja protelando os trabalhos do plenário da Câmara, como nesta quarta (2), seja gastando o tempo como na terça (1º) no Conselho de Ética, a oposição do PSDB e do DEM trabalhou para Cunha. O PT, zonzo na identidade perdida, facilitou a colaboração dos oposicionistas que sonham com o impeachment. Mas nada disso influi nos amanhãs de Cunha que outros projetam.”
8 respostas
Atenção! Avisem a Ludmila com urgência! (Modo Irônico ON)
https://vimeo.com/147699962
Uma pergunta: Como é que uma coisa dessas, não tem agência, não tem correntista, ninguém vê, se chama banco?
Pois eu acho que o alvo da chantagem de Cunha não era o PT e a abertura do impeachment meio que prova isso. Cunha aceitou o pedido porque já deve ter acertado sua liberdade. O golpe está oficializado; até agora, PSDB, PGR e mídia fizeram sua parte, falta apenas convocar o exército de Kim para as ruas. Só basta mais uma prisão mirabolante…..
O mais triste é que a legião de jovens bovinos que a mídia criou para legitimar este golpe não consegue perceber que também pagarão a conta.
Quando os assentos arderem, a mídia, com os bolsos cheios, lhes dirá serenamente….Culpa do PT, culpa do PT…
Tenho dó dos mais pobres e dos sãos, que não estão compactuados com esta molecagem.
Pior é ver que os cidadãos de bem não podem contar com as instituições ditas “republicanas”, para sua proteção, contra tipos como CUnha.
cunha não é o Chapolin Colorado, mas todos os seus movimentos são friamente calculados. Ele não age por emoções ou impulsos. A história do impeachment não é “vingança” contra Dilma; a aceitação da tentativa de golpe branco é parte de uma estratégia. Se o PT tivesse aliviado para o lado dele, ele não aceitaria o pedido; como o PT votou contra, cunha aceitou o pedido e vai negociar sua sobrevivência com a oposição golpista. A demora da justiça em mandar prendê-lo já está causando perplexidade, principalmente depois de tanta pressa em prender Delcídio. Aliás, li algo interessante, ontem: a prisão de Delcídio seria uma maneira de impedir a lavajato a avançar sobre o governo fhc, uma espécie de cala boca para manter Delcídio sob controle.
Algum jornalista investigativo precisava apurar o que ganha o ministério público defendendo aécim e CUnha? Não há provas contundentes contra os dois? Por quê por muito menos ousaram pedir a prisão de um senador pela primeira vez na história republicana? Não há aí uma assimetria escandalosa de critérios? No mínimo?
Imobilidade/inabilidade de Mercadante (parlamento) e Cardozo (judiciário) teve custo astronômico, para o Governo.