Um chope para o Chico, pelo tempo da delicadeza

chicochope

Peço licença para perder o tom de jornalista e fazer como fez o Chico Buarque, nos anos da ditadura, para ser o Julinho da Adelaide e fazer escapar da censura algumas de suas músicas.

Mas é que a coisa aqui tá preta e a gente estava precisando de algo para que as pessoas – a imensa maioria – de bem e da bondade se tocassem do avanço da selvageria que acontece por toda parte, inclusive em nós mesmos.

Porque, como ao zika, ninguém é imune à microcefalia do clima de guerra de torcidas que toma conta da sociedade quando está em jogo o mais caro valor humano, aquilo que Cecília Meirelles disse que era a “palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”: a liberdade.

Porque liberdade não é apenas não estar preso, não senhor, embora a ideia de prender alguém, nem que o alguém seja um passarinho, seja repugnante.

Liberdade é poder pensar como quiser, agir como quiser – desde que não machuque ou prejudique outros -, ser igual ( o que nunca se é), ser diferente (o que nunca se é, totalmente).

Mas a liberdade não é só isso. Como Tom, maestro e parceiro do Chico, escreveu sobre ser feliz, também é impossível ser livre sozinho. A solidão, tomada em doses acima das necessárias, é um veneno: torna um ser humano a negação da liberdade, pois estende uma cerca em torno dele, que proíbe de sair e, sobretudo, proíbe de entrar.

Liberdade é um caldo coletivo, onde a gente nada conforme os nossos braços, se esbarrando uns nos outros, acertando às vezes o pé e os cotovelos, brigando aqui e ali, com uma única regra: ninguém pode ou deve ser afogado.

Porque liberdade não é conformismo, tanto quanto não é intolerância.

Quando se perde a tolerância, com ela se vai a liberdade  alheia.

Como aconteceu com a do Chico de, simplesmente, andar pela calçada até um táxi.

Parece que o mundo virou um programa policial e o “escracha” a regra de comportamento.

As pessoas não podem ser deixadas em paz, têm de ser classificadas, julgadas, condenadas por darem qualquer opinião diferente daquela “autorizada” pela mídia, o general destes tempos modernos.

Mas, ainda bem, restaram alguns ícones de tempos difíceis, mas bem menos brutos.

De um tempo de delicadeza que, expulso das ruas, sobrevivia dentro de nós.

E que chocou o Brasil ver agredido gratuitamente na provocação ao Chico.

Em moldes terrenos, foi como aquele “chutar a Santa”

Vou fazer um brinde à delicadeza, hoje, neste simpático “rolezinho com o Chico Buarque” que a turma da internet inventou.

Tomo um chope com ele e, como ele não vai estar, tomo o dele também, com a devida licença.

E o levanto, na esperança que o sono da delicadeza não seja tão longo, que não se tenha perdido para toda uma geração.

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31 respostas

  1. Em tempos em que prevalece o discurso e não o diálogo… Em que o fascismo se torna tão evidente… um chopp com o Chico deve ser um prazer, um brinde à tolerância e um gole de inteligência. Tin tin!

    1. Como canta Noel:
      QUANTO A VOCÊ DA ARISTOCRACIA QUE TEM DINHEIRO MAS NÃO COMPRA A ALEGRIA, HÁ DE VIVER ETERNAMENTE SENDO ESCRAVO DESTA GENTE QUE CULTIVA A HIPOCRISIA

  2. Agora transformou-se em uma questão de honra para a extrema-direita a desconstrução cabal da imagem de Chico Buarque. Preparem-se para testemunhar as maiores aberrações em matéria de terrorismo contra-informativo contra o grande compositor brasileiro, nas redes sociais, e também com o auxílio aparentemente discreto da imprensa conservadora. Não se espantem se até a Lava Jato agora encostar seu caminhão bem perto de Chico.

  3. O Brito é um incansável defensor da liberdade !!!!!
    E é isso aí mesmo, vamos respeitar as diferenças, celebrar o direito sagrado de pensar e sentir em diferente de quem quer que seja. É no diálogo civilizado e honesto que a gente tem que apostar as fichas para conquistar uma sociedade mais justa e amadurecida.

    Um brinde à voce Brito, que também é um exemplo da mais pura delicadeza em tudo o que escreve aqui no Tijolaço !!!!!
    Tim….tim….. !
    he..he..he

  4. Agora Chico não será mais convidado na Globonews. Não fará mais parte da academia brasileira de letras não podendo mais se sentar ao lado do Merval. Não será convidado pelo Faustão na dança dos famosos. Não será entrevistado pelo William Waac, nem pelo Alexandre Garcia. Não será mais ouvido pelos Coxinhas. Poderá ser investigado pelo MPF e ser chamado no Tribunal do Moro para esclarecer eventuais conversas com Lula.

  5. Boa tarde,

    sei da história de Chico Buarque de Holanda e desacordo dessa ideia do texto, pois eu não sou influenciado por GLOBO, VEJA, ESTADÃO, FOLHA, EM, ISTO É, ou qualquer instituição que diga algo que esteja excelente. Sei separar as coisa. “Penso logo existo” e não compartilho de ideias de direita, pois sou pobre e luto muito. Quanto a Chico, o Brasil deveria colocar tapete vermelho p ele, e não do socialismo!!

  6. Tim! Tim! Viva a delicadeza e a dignidade de Chico. Viva o Brito que propôs o brinde. E nos brindou com um texto primoroso.

  7. :

    : * * * * 19:13 * * * * Ouvindo A(s) Voz(es) do Bra**S**il e postando: Viva Chico ! ! ! ! Viva o Chico Buarque de BraSil !!!!

    * * * * * * * * * * * * *
    * * * *

    Por uma verdadeira e justa Ley de Medios Já ! ! ! ! Lula 2018 neles ! ! ! !

    * * * *
    * * * * * * * * * * * * *

  8. A tese do ‘único culpado’ pela corrupção que todos vivemos à mais de 100 anos, é para deixar tudo como está. A revolta de minorias, explícita no maior oligopólio de mídia do mundo não mobiliza a maioria que de alguma forma foi beneficiada, teve suas pautas postas em discussão nacional ou simplesmente sabe como se faz política por aqui, independente do rico conteúdo das operações da PF que demonstram que nosso ‘jornalismo investigativo’ quando não preserva a casa grande condena a senzala e é grande beneficiado em que tudo continue como está. Coxinha que acha que a maioria envolvida em corrupção, flagrada somente após 2003, é do PT não sabe nem contar, ou abraçou a opinião de minorias, não luta por um País melhor, tá revoltado com dinheiro público atendendo maiorias e revoltando papai usineiro, papai petroleiro, papai banqueiro, minorias mal acostumadas à papar esse mesmo dinheiro público. O povo não é bobo.

  9. As pessoas não podem ser deixadas em paz, têm de ser classificadas, julgadas, condenadas por darem qualquer opinião diferente daquela “autorizada” pela mídia, o general destes tempos modernos.

    Em relação a este seu parágrafo, assim falou Brizola, no Tijolaço de 20 de junho de 1993, com o título “Os novos exércitos”:
    “Se quiséssemos caracterizar estes últimos decênios da história humana, sem dúvida, deveríamos chamá-los de idade da mídia, dos meios de comunicação – a propaganda, os jornais, as revistas, as agências e os sistemas de rádio e televisão. Nestes tempos, vem sendo a mais poderosa arma de dominação dos povos; isto é: a servidão consentida, através da mente humana. Tão poderosa que foi capaz de vencer e desintegrar um gigante como a União Soviética.
    As máquinas de comunicação, que conquistam e impõem sistemas de dominação e exploração das nações ricas sobre as pobres, são os exércitos e armadas destes tempos. Têm o poder de criar um ambiente no qual o falso parece verdadeiro.
    (…)
    A verdade, entretanto, nunca morre dentro do ser humano, cuja vida, mesmo sob o mais impenetrável dos obscurantismos, é uma busca permanente e até compulsiva deste valor supremo de nossa existência. É uma questão de mais ou menos tempo. A verdade acaba por prevalecer, mesmo quando um avassalador monopólio de comunicação mantém toda uma Nação nas trevas.”

  10. Viva Chico! Certo ou errado (dependendo da opinião de cada um), continuo seu admirador, fá, como queiram. Qualquer tentativa de amesquinhar esses grande ícone da busca brasileira só aumentará o valor. Aos seus agressores, o ostracismo.

  11. Chico Buarque fala com elegância e racionalidade para os coxinhas playboys, mas os coxinhas playboys querem falar grosso para o Chico. Estes mesmos coxinhas playboys falam fino para os seus pais que são da mesma laia que os filhos.

  12. Parabéns Fernando, fiquei muito feliz com a repercussão do rolezinho em solidariedade ao Chico, patrimônio cultural do Brasil que nos orgulha muito. Sou muito grato a ele pela riqueza do seu trabalho, um presente em música , poesia e prosa. A civilidade vencerá a barbárie e a intolerância.

  13. Hip hip, hurra! Hip hip, hurra! Tim, tim, gente! Viva o povo Brasileiro, Viva Chico Buarque de Hollanda, viva a liberdade, neste instante, tão bem retratada pelo Fernando Brito! E, mais uma vez, tim tim!

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