Sem causas não há jornalismo

Nenhum país pode ser uma democracia se não tem uma imprensa livre e plural.

A única liberdade que temos na imprensa é a empresarial e a pluralidade é tanta quanto a de um partido único.

Nem mesmo na ditadura militar tínhamos uma imprensa pervertida como a que temos hoje.

Porque hoje reduziu-se a muito pouco o que ainda sobreviveu nas redações durante as trevas do regime autoritário: o jornalista.

Não que falte a muitos deles a capacidade profissional. Não, e a alguns ela sobra, até.

Mas os mais velhos estão cansados e os mais novos já se formaram numa época em que o jornalismo se desvirtuou pela acomodação, pelo estrelismo fútil e pelo massacre aos indefesos.

Criou-se o mito da imparcialidade – que nós sabemos como é hipócrita – e passou-se a abominar as causas.

E as causas são a raiz do jornalismo, desde que a Revolução Francesa marcou o início da ideia de que o poder não era privilégio das elites e, assim,  saber também não o era.

Marat e Patrocínio, não Gutemberg e Hipólito Costa, são nossos pais profissionais, porque papel impresso é apenas lixo depois de lido, mas pensamentos generosos nos arrastam para o futuro.

Ter causa pública e amor à verdade, para um jornalista, é como ter amor ao ser humano para um médico ou à Justiça para um advogado.

Criticar a imprensa brasileira, para quem ama sua profissão  ?  não pensem o contrário  ? , é um exercício diário de dor.

Não é retórica.

Basta pensar como o escândalo Murdoch tomou conta dos jornais de todo o mundo.

E que, aqui, o caso Globo, quando muito, limitou-se a matérias formais e burocráticas da Folha, publicadas com uma semana de atraso.

Se ao cidadão comum isso já repugna, ao jornalista isso deveria embrulhar o estômago.

Mas os nossos pró-homens da imprensa preferem embrulhar a verdade e tirá-la dos olhos de seus leitores.

Nenhum deles dirá, como aquele caricato personagem do “jornalismo televisivo”, que isso é uma vergonha.

Todavia, ainda estamos vivos e amamos a nossa profissão.

Mais que isso, acreditamos na sua finalidade social, no bem coletivo que ela pode gerar.

Somos jornalistas, não escribas.

Do contrário, seríamos iguais aos energúmenos que, segundo a coluna de Ilimar Franco em O Globo, numa manifestação de “médicos” – as aspas são de respeito à profissão – gritavam: “somos ricos, somos cultos. Fora os imbecis corruptos”.

Uma autocrítica, talvez, porque imbecil é quem não consegue ver nada além de si mesmo e corrupto é quem deixa seu interesse pessoal ou corporativo prejudicar o que é um bem social.  Ou não é isso que os políticos, governantes e empresas corruptas fazem?

De volta ao jornalismo, é cruel ver que a imagem pública da profissão, hoje, está reduzida aos jornalistas perfumados da “massa cheirosa”, tão bem retratados hoje no artigo “O que é jornalismo chapa-branca“, de Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo.

Ali, ele – um veterano e competente profissional de imprensa – percorre com mais brilho os caminhos que este texto, escrito dias atrás, tenta trilhar.

Mas que ninguém pense que nós nos comprazemos de criticar a imprensa que temos.

Sentimos, sim, dor, muita dor em ver a atividade pela qual nos apaixonamos, cedo e eternamente, vaidosamente apodrecida.

Não somos ricos que desprezemos os pobres e nem somos tão pretensiosos que nos achemos cultos.

Mas ainda podemos cantar o velho samba de Noel Rosa para eles, que hão de viver eternamente sendo escravos desta gente que cultiva a hipocrisia.

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4 respostas

  1. BRAVO! BRAVO! Parabéns, Fernando Brito, não é à toa que a preferência pelo Tijolaço cresce a cada dia, pois seus posts e os de Miguel do Rosário são verdadeiras preciosidades. Amei a citação do samba de Noel. A propósito, além de certas leis como essa que Dilma deve sancionar hoje, espero que o faça integralmente, era bom que se pudesse uma lei capaz de punir a HIPOCRISIA, esta, sim, é um mal incurável nessa elite viciada. Cretinos: “somos ricos, somos cultos”! Para que serve tal cultura?

  2. BRAVO! BRAVO! Parabéns, Fernando Brito, não é à toa que a preferência pelo Tijolaço cresce a cada dia, pois seus posts e os de Miguel do Rosário são verdadeiras preciosidades. Amei a citação do samba de Noel. A propósito, além de certas leis como essa que Dilma deve sancionar hoje, espero que o faça integralmente, era bom que se pudesse uma lei capaz de punir a HIPOCRISIA, esta, sim, é um mal incurável nessa elite viciada. Cretinos: “somos ricos, somos cultos”! Para que serve tal cultura?

  3. BRAVO! BRAVO! Parabéns, Fernando Brito, não é à toa que a preferência pelo Tijolaço cresce a cada dia, pois seus posts e os de Miguel do Rosário são verdadeiras preciosidades. Amei a citação do samba de Noel. A propósito, além de certas leis como essa que Dilma deve sancionar hoje, espero que o faça integralmente, era bom que se pudesse uma lei capaz de punir a HIPOCRISIA, esta, sim, é um mal incurável nessa elite viciada. Cretinos: “somos ricos, somos cultos”! Para que serve tal cultura?

  4. Não podemos generalizar mas são tão poucos os verdadeiros jornalistas e os órgãos de imprensa sérios neste país que quase não se percebe que eles existem. O pior é que maus jornalistas aparecem e cunham frases como “ISSO É UMA VERGONHA” e isso é realmente o que ele é.

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