O Dr. Barbosa, o domínio do fato e o condomínio do fausto

Como o Dr. Joaquim Barbosa é um homem público e a revista Veja é seu principal cabo pré-eleitoral, tomo a liberdade de oferecer aos mastins de Policarpo material para uma bela reportagem sobre o condomínio onde o presidente do Supremo adquiriu, usando o artifício legal de montar uma empresa na Flórida sediada no seu apartamento na Asa Norte em Brasília.

O que me move é mostrar, da maneira mais evidente, como este lixo impresso se comporta. E, também, o dever de fidelidade à memória de quem, em 23 anos de convívio diário, pude ser aprendiz de lições de honradez e destemor.

Faço pelo que a imparcial Veja, em 2001, publicou: uma matéria sobre o “escandaloso” enriquecimento de Brizola, um amontoado de infâmias que, na época, como seu assessor de imprensa, cuidei, em respeito ao jornalismo, de promover um contato entre o então governador e a revista, no qual ele pedia que esperassem sua volta da viagem que fazia ao interior do Rio Grande do Sul para esclarecer todas as informações falsas ou distorcidas que recolheram. Num fax, a revista disse que não poderia aguardar e sugeriu que ele falasse por telefone ou comparecesse à delegacia, digo, à sucursal da Veja para explicar-se…

E também porque a Veja não publicou, em 1987, quando mandou seu então repórter Marco Damiani  ao Uruguai para ver como eram os bens que Brizola tinha no exterior, por conta do exílio a que foi mandado pelos militares. Transcrevo o que ele conta, para que se tenha ideia da monstruosidade:

E havia a fazenda de Brizola a descobrir. Foi preciso fazer muitas perguntas para saber onde ela ficava. Naquele 1987, Brizola, então governador do Rio em final de primeiro mandato, costumava passar alguns finais de semana e pequenas temporadas na própria fazenda. A propriedade era quase uma lenda: a misteriosa fazenda de Brizola…

Obtivemos a informação: chamava-se Repetchó (que significa pequena subida) e ficava no departamento de Durazno, no interior do país. Acertamos com um taxista e fomos para a estrada. Talvez duas, três horas de viagem, se me lembro bem. Numa estradinha de terra, depois de muito rodar, veio a pequena elevação e, pouco depois, do nosso lado direito, cercada por arame farpado, vimos as terras de Brizola. Perto das demais à sua volta, todas com grandes extensões, a fazenda mais parecia, na boa, um sítio de final de semana. Tinha uma casa simples e, ao lado dela, uma construção de acabamento humilde com janelão de vidro frontal. Era ali que Brizola gostava de ficar, me disse o caseiro, olhando um pequeno rebanho de ovelhas. Gerchman chegou a fazer a foto, lembro-me do cromo revelado. Para saber isso, tivemos, é claro, de empurrar a porteira de madeira com a mão e entrar. Não havia campainha a tocar. Não me pareceu o caso de berrar para chamar alguém. E eu tinha de entrar! Em fazendas, de resto, muita gente entra assim, abrindo a porteira com as próprias mãos e avançando até encontrar alguém responsável pela propriedade. Foram poucos passos até encontrarmos essa pessoa. Um homem, o caseiro. Ele foi econômico nas palavras e avisou que não poderíamos ficar. Acreditava que o govenador não iria gostar nada daquilo. Agradecemos, voltamos por onde havíamos entrado e retornamos, com a sensação de missão cumprida, para Montevidéo. Escrevi a matéria, que iniciava com um cálculo, em dólares, segundo os valores do mercado imobiliário local, do quanto valiam as propriedades de Brizola no Uruguai (o apartamento e a fazenda). Passei por telex, que não existiam celular, internet para todos, nada disso. Dei o tempo regulamentar para a matéria ser lida e telefonei para o editor de Brasil. “Vocês fizeram um ótimo trabalho”, me disse ele. “Mas não vamos publicar uma linha sequer”. Eu não perguntei nada, e mesmo assim me foi explicado: “O Brizola ligou aqui, disse que Veja invadiu uma propriedade particular dele e que, se sair uma linha, vai processar a revista. Estamos fora!”.

Imaginem o que faria Veja com as fotos abaixo se, em lugar de Joaquim Barbosa, fosse Leonel Brizola o dono do apartamento.

Bem, mas o Dr. Barbosa é “o menino pobre que mudou o Brasil”. E embora a revista conhecesse bem, há mais de um ano,  o fato de vários brasileiros estarem comprando imóveis ali, com certeza se lhes escapou o fato de que Joaquim Barbosa era um deles.

Brizola também foi um menino pobre, mas nunca – ao contrário de Joaquim Barbosa – foi nomeado para cargo algum, exceto o de modesto secretário de Obras no Rio Grande do Sul dos anos 50. O que tinha, todos sabem, originava-se da herança de D. Neuza, herdeira – como seu irmão Jango, do patrimônio dos Goulart.

Mas Brizola, ao contrário de Joaquim, tentou mudar o Brasil e não conseguiu, entre outras razões, porque uma imprensa podre como a Veja não permitiu que mudasse.

Então, com os meus cumprimentos, para a caterva de Veja, os cultores do “domínio do fato” barbosiano, as fotos do site oficial do faustoso condomínio Icon Brickell, onde o Dr. Joaquim Barbosa -ou a sua empresa Assas JB, registrada na Flórida – é o feliz proprietário de um apartamento. As facilidades expostas estão também lá, num arquivo pdf.

condominio

 PS. Depois de publicar, vi que Luis Carlos Azenha já publicou uma foto do condomínio, como bom repórter que é.  Registro, portanto, que não é totalmente inédito por aqui o fausto do lugar. Aqui, o link para seu post

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32 respostas

  1. TIJOLAÇO na vanguarda do jornalismo brasileiro, tô bolado com o AP do Batman do Cerrado em Miami, quanto luxo para um menino que, segundo a revista Zóia, nasceu pobre e mudou o brazil.

  2. Muito, muito boa esta postagem. Ao contrário de Barbosa, Brizola era macho, encarava de frente os desafios. Creio que todos os bllogueiros progressistas e de esquerda devem compartilhar até a exaustão. Vamos acabar com as mentiras da banda podre da imprensa brasileira

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