Carlos Castilho não é “fichinha” em matéria de compreensão do jornalismo e da comunicação. Soma quase 40 anos de experiência e de militância jornalística – diretor do Jornal da Globo e chefe do escritório da emissora em Londres, correspondente do JB – com a atividade acadêmica – professor da Unversidade Federal de Santa Catarina e do Knight Center, da Universidade do Texas – e a análise de mídia, para a ONU e para o Observatório da Imprensa.
Por isso, não se tome o que ele diz como coisa de um garoto animado, cheio de sonhos com seu Facebook.
Coloquei o título nessa linha, como provocação.
Mas nem por isso deixa de ser esse o sentido do que recomenda Castilho para a presidenta, no artigo que publicou ontem no Observatório da Imprensa, e que reproduzo abaixo.
De maneira muito clara e direta ele diz que Dilma estará perdida se continuar a manter um esquema de comunicação convencional, onde a mídia comercial – seu maior inimigo político – determina, como ele diz, o seu “encurralamento comunicacional e informativo.”
E, diz Castilho, “para romper o cerco, a presidente tem as redes sociais na internet como provavelmente a única alternativa para desenvolver uma nova estratégia de comunicação política”.
Leia o ousado e lúcido texto de Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa.
O cerco informativo ao governo Dilma
Carlos Castilho
O governo federal está encurralado no cenário político nacional em matéria de estratégias de comunicação e informação, numa situação que pode ter reflexos diretos na campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 2014.
A imagem pública da presidente Dilma Rousseff foi desconstruída ao longo de um processo em que a imprensa teve um papel relevante, e que começou já há bastante tempo. Trata-se de um processo onde a construção ou desconstrução da forma como o público vê um político tem mais a ver com percepções do que com evidências. É como no famoso dito de que, em política, as versões são mais importantes do que os fatos.
Dilma hoje está sendo julgada mais pela imagem que a imprensa, a oposição partidária e os desafetos presidenciais no Poder Judiciário construíram em torno da presidente do que pelos feitos de seu governo. Entre a imagem e os feitos há uma considerável diferença – e os eventuais benefícios factuais capazes de ser capitalizados por Dilma estão sendo pulverizados pelos efeitos devastadores do encurralamento comunicacional e informativo.
O governo federal está claramente na defensiva porque a estratégia comunicacional dos adversários de Dilma logrou associar sua gestão à incerteza econômica ao supervalorizar processos como a inflação, queda do PIB, declínio da atividade econômica e redução do superávit na balança comercial. São todos fenômenos muito condicionados pela situação econômica internacional, mas foram apresentados como exclusivamente domésticos para associá-los a uma imagem de má gestão.
A onda de protestos de rua, em junho, confundiu o panorama político e ameaçou tirar Dilma do clinch político-partidário. [Clinch é o jargão usado no boxe para definir uma situação em que um lutador se abraça ao adversário para impedi-lo de continuar atacando.] Ela até que tentou retomar a iniciativa com a proposta de plebiscito, da reforma política, aumento das verbas para a educação e o envio de médicos para o interior. Mas faltou ousadiapara romper com o fantasma da governabilidade. Para concretizar a sua estratégia destinada a encampar o clamor das ruas, a presidente tentou ganhar apoio parlamentar – e foi aí que ela se perdeu.
Negociar com políticos e candidatos em véspera de eleições é a forma mais segura de emascular uma proposta política que altere o status quo, especialmente quando se trata de acabar com privilégios e aberrações da atividade parlamentar. Surgiu uma aliança informal entre políticos e magistrados do Supremo Tribunal Federal com o apoio corporativista dos médicos que transformou em fumaça o projeto emergencial do governo.
Para romper o cerco, a presidente tem as redes sociais na internet como provavelmente a única alternativa para desenvolver uma nova estratégia de comunicação política. Mas essa opção exige uma considerável ousadia porque implica meter-se num ambiente informativo com regras e procedimentos bem diferentes dos usados habitualmente pelos altos escalões do governo.
Uma aposta nas redes sociais virtuais permitiria ao governo prescindir da imprensa como mediadora na relação com os cidadãos. Mas para tentar essa estratégia, a presidente teria que abrir mão da busca da tal governabilidade e da barganha de ministérios com partidos políticos. Poderia governar como pediam os participantes dos protestos de rua, em junho. Seria uma jogada de altíssimo risco.
Os desafetos da presidente não têm muita intimidade com o uso dos mecanismos digitais. Deputados federais, senadores, magistrados e até mesmo a imprensa preferem os métodos tradicionais de comunicação, embora eles se distanciem cada vez mais das ferramentas virtuais adotadas pelos jovens que saíram às ruas para exigir um país diferente.
Os riscos da opção estratégica pelas redes sociais são consideráveis. Primeiro, porque o governo teria que conviver com um forte criticismo de um segmento importante da blogosfera. A internet é muito mais transparente que a imprensa convencional e isso faz com que o debate político siga caminhos bem diferentes dos usuais. A convivência com xingamentos e acusações passa a ser uma necessidade porque o objetivo é o conjunto das opiniões e não a de um indivíduo isolado.
Nem pensar em controlar os comentários porque isso seria imediatamente associado à censura, o que anula qualquer eventual efeito positivo da presença online do governo federal. Além disso, uma estratégia online do Planalto exigiria uma profunda reciclagem comunicacional da cúpula do governo, que é tão conservadora em relação à internet quanto a oposição.
A aposta é arriscadíssima, mas a presidente está na posição de se correr o bicho pega, se ficar o bicho come
PS do Tijolaço: só acrescento ao mestre Castilho o uso de redes de TV, frequente e com uso de linguagem simples e direta. Falar com o povo é dever do governante, nem que com isso se vá chamá-lo de “chavista”.
9 respostas
Perfeito!
Não tenho tanta prática, mas Távola não se criou comigo. E nem Margulies. Ainda com Lula sugeri que o “Café com o Presidente tivesse vídeo, ao invés de aúdio, apenas. Lula não respondeu, cansou.
Dilma, aprenda!
By, TV é proibido…. brinde do FHC.
concordo plenamente com este artigo.
Perfeito!
Não tenho tanta prática, mas Távola não se criou comigo. E nem Margulies. Ainda com Lula sugeri que o “Café com o Presidente tivesse vídeo, ao invés de aúdio, apenas. Lula não respondeu, cansou.
Dilma, aprenda!
By, TV é proibido…. brinde do FHC.
se ela fizer isso, vai se dar bem: ela tem que buscar aliança com o POVO!
A presidenta diante do cerco montado pela grande mídia não caberia outra alternativa em comunicar com a população, usando rede nacional de rádio e televisão. A mídia iria espernear, mas seria o desbloqueio do debate como, quando da queda no preço da energia elétrica.
Gostaria muito que a Presidente lesse esse post e o aplicasse às suas comunicações…mas…
Gostaria muito que a Presidente lesse esse post e o aplicasse às suas comunicações…mas…
Gostaria muito que a Presidente lesse esse post e o aplicasse às suas comunicações…mas…
Gostaria muito que a Presidente lesse esse post e o aplicasse às suas comunicações…mas…
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