Com texto bem talhado de sempre, Luís Fernando Veríssimo explica porque não bastou a Dilma colocar Joaquim Levy como penhor ao capital, como andorinha solitária. Uma andorinha só não faz o “serviço”. Era preciso uma matilha.
Andorinha
Luís Fernando Veríssimo
A Dilma descobriu que, como uma andorinha só não faz verão, um Joaquim Levy no Ministério da Fazenda não significou muito. Levy na Fazenda era para ser um sinal de que o governo sucumbira à realidade e adotaria a temível austeridade, mesmo sacrificando princípios do PT. Depois das benesses do Mantega, o rigor do Levy, com liberdade para fazer o que fosse preciso para mostrar que a festa acabara, a banda já fora dormir e reinava a responsabilidade fiscal no salão vazio. Não deu certo. O mercado não acreditou na mudança, Levy foi inútil como uma andorinha solitária, e o único resultado alcançado pela Dilma foi brigar com o PT.
Mas agora tudo vai mudar. Alguém duvida da responsabilidade fiscal daqueles brancos engravatados, todos com impecáveis credenciais liberais, na fotografia do Ministério? Mesmo com a nova austeridade, os programas sociais do PT continuarão, disse o Temer, que também garantiu que a Copa América será nossa e que vai chover menos. De onde virá o dinheiro para os programas sociais do PT continuarem, apesar da nova austeridade? A questão foi debatida na primeira reunião do Ministério e ouvi dizer que alguém sugeriu, timidamente, “Quem sabe a gente dá algumas pedaladas, como a Dilma?” e foi atirado pela janela.
É injusto dizer que o país está mal representado no Ministério do Temer. Há de tudo no Ministério: racistas, machistas, tudo. Richard Nixon certa vez defendeu uma nomeação sua que estava sendo muito criticada com a sábia frase: “A mediocridade também precisa ser representada”. Temer não esqueceu os medíocres. Foi mais longe, na sua preocupação de montar um retrato fiel da população. Lembrando o número de brasileiros sendo investigados pela Operação Lava-Jato, Temer fez questão de incluir quatro investigados no seu Ministério, para manter o principio da proporcionalidade.
Voltando à andorinha, não deixa de ser irônico ninguém ter culpado o Levy pelo descontrole da economia brasileira. Ele teve todo o poder na mão, inclusive contrariando o amor liberal pelo Estado mínimo, e fracassou. Claro, era uma andorinha só, um estranho no ninho do PT, mas fracassou. A Dilma também errou, pensando que o convite ao Levy bastaria como uma mensagem de paz para quem não queria paz, queria sua cabeça de qualquer jeito.
No fim , é uma história de solidões. Do Levy, da Dilma e, claro, da andorinha que não significava nada.
11 respostas
Gugu Mello,
A turma não pode ser chamada de matilha. Ofende os lobos. Faz a república de Alagoas ser coisa clássica.
É gang mesmo.
Nossa, a temperatura e a fase de estudo ja passaram, é só repetição do mesmo. Agora é a guerra que está se organizando na AL. Ação, resistência e luta; já sabemos quem são os bandidos e como funcionam, está na hora de se organizar e trocar informações úteis. Clima de fofoca enquanto a terra Brasilis é incendiada dá pra esperar…
#VoltaDilmaQuerida
Foi um erro.
Porém, teve piores.
Engordar a Globo Golpista com verbas da SECOM, por exemplo.
… Mais uma exceção a desonrar as dignas, honradas e impávidas mulheres!
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“ELA É MULHER MAS NÃO NOS REPRESENTA”
https://www.youtube.com/watch?v=5P41-6SwZ1A
Advogada Janaina Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff apresentado à Câmara, é alvo de ‘escracho’ em Santo André (SP); ela participava de uma banca de doutorado na Faculdade de Medicina do ABC quando foi surpreendida por manifestantes aos gritos de “golpista”; jovens foram retirados à força por seguranças
19 DE MAIO DE 2016 ÀS 09:20
(…)
FONTE [LÍMPIDA!]: http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/233195/%E2%80%9CEla-%C3%A9-mulher-mas-n%C3%A3o-nos-representa%E2%80%9D.htm
Bem feito! Essa Janaína é a “musa” do golpe.
Janaina Pazuzu numa banca de medicina???? Só se for como experimento científico (psiquiátrico, diga-se). Nossos médicos vão de mal a pior, meu Deus!
Eugênio, idiota ou midiota é você que só sabe em falar do corrupção do PT, mas se esquece das roubalheiras PMDB/PSDB/DEM/PSD e aliados.
Somente os sábios enxergam além dos horizontes. O idiota não enxerga nem a ponta do nariz. Veríssimo sempre genial. No capitalismo, o tal do mercado, de uma forma ou de outra, sempre será o carro chefe da economia e da política. Financiam, compram, corrompem e ordenam. Atuam em todas as frentes, tendo como alvos principais o lucro e a exploração ao povo trabalhador. O governante que não lê nas suas cartilhas, está sempre correndo riscos. Vide Getulio, Jango, Brizola, Lula e agora Dilma. Foram raros os momentos neste país que o trabalhador se fez representado. Não por descuido do mercado, mas por força de líderes que ousaram desafia-los. Os trabalhadores so superarão a força dos mercadores quando evoluírem culturalmente e deixarem de embarcar em canoas furadas construídas pela mídia usurpadora e nos tempos modernos por pastores espertalhões. Era o que tinha a declarar, por ora.
O ministro interino da saúde quer reduzir ou até extinguir o SUS. Diante deste cenário, e vendo as centenas de “milagres” televisivos praticados pelos pastores evangélicos, doravante ao precisar de socorro médico, se dirija a um templo pentecostal. Lá, silas malacheia, feliciano e diversos outros cuidarão de sua saúde. Quem sabe você não dá sorte de ser atendido pelo cúnha?
Aprendizado duro, este com o Levy. Veríssimo tá certo. O Brasil necessita de um projeto político grandioso, equivalente ao seu tamanho e ao tamanho de seus problemas. Mais do que grandioso, deveria ser também íntegro. O projeto petista careceu exatamente disto. Quiseram fazer um resort numa praia, considerando que seria o mais lindo de todos. Construíram na areia, sem pensar na fragilidade de sua base. Se a esquerda quiser realmente dar uma contribuição definitiva para o país, deve começar do começo: limpar o terreno, avaliar as condições do solo e, só depois edificar. Os projetos sociais foram um prédio bonito, sonhado por todos. Mas de durabilidade duvidosa, já que tudo que poderia fragilizá-lo permaneceu intocado e entocado. Quem faz casa de madeira não pode ter dó de cupim, ora bolas. Mas, nossas lideranças ainda agem como migrantes eternos, como nômades a aproveitar o que a conjuntura lhe oferecer de mais fácil. Quando acaba a matéria prima, muda-se de lugar e abandona-se o antigo acampamento. Sei que vão me criticar, dizendo que sou reclamão, que o mento não é mais de jogar pedra e sim, de pensar nas mudanças e no que pode ser feito, coisa e tal. Mas, fica o recado: é preciso mudar o objeto de análise. Não é mais a conjuntura que deve ser avaliada prioritariamente. Não se pode viver aproveitando as pintas do mercado, da política, da opinião pública. Ou se pensa em preparar o terreno antes, estando disposto a abraçar a verdade dos fatos e não a realidade impositiva, ou continuaremos nadando conforme a maré, comendo o que a o meio oferece, aceitando o contexto ao invés de questioná-lo e contrapô-lo. Nossa visão de política ainda foca, nada mais que o espaço a ser ocupado e o direito de ocupá-lo. A gente olha os “caranguejos” (menção ao Cunha), e pensa que é bom viver no mangue, que temos direito a ocupar aquele espaço também.
Eu não curto lama, não vivo de detritos nem pilho a toca do outro. Ou temos consciência de nossa verdadeira natureza, ou tendemos a cobiçar o que não nos diz respeito. Se for pra ter a presidência nas condições que foram impostas, teria sido melhor que o Lula dedicasse sua vida a outro objetivo que não fosse chegar ao poder. Pra chegar “lá ” e ter de aceitar o riscado dos outros, sem nenhuma segurança quanto a permanência no cargo ou a durabilidade do que se construiu, senão “as oligarquias vem e tiram da cadeira de presidente” como ele disse pro Ciro, é melhor manter a luta no trabalho de base. Pressionar é muito mais cômodo que ser pressionado. E como ele não deseja responder na porrada, como fizeram seus adversários consigo e com a Dilma, vale mais à pena ficar em casa.