A maldição do atalho

atalho

Mais desculpável nos muito jovens do que nos velhos – pois a escassa idade reúne desejo e  ímpeto enquanto a aventura na maturidade em geral só é regida pela ambição – a tentação do atalho carrega em si uma maldição.

Temer, ao que parece, caiu nela.

Os vapores da ambição e da vaidade já não deixam que perceba que é um instrumento, não o protagonista.

O negado – e por isso, no caso dele, confirmado – desejo de ser candidato à reeleição, em 2018, o transforma em vidraça para seus próprios cúmplices.

Ou será que é possível crer que os tucanos aposentaram suas ambições de retornar às glórias palacianas e hão de contentar-se em ser representados por José Serra em sua condição de macaco na loja de louças diplomáticas?

Acha que que a ingenuidade – real ou fingida – vai persistir eternamente aceitando a estratégia de fazer vazar o mal em quantidades maiores para que ele surja como o mitigador do desastre, sem que isso abra fissuras na base política que o sustenta e que os parlamentares – que ao contrário dele, precisam de voto – vão sacudir bandeirinhas saudando a imposição de mais anos de trabalho aos eleitores?

Temer pegou um atalho – o do golpe, o da perfídia, o da traição – para o poder que ele jamais atingiu senão como caudatário.

Acha que é o mais esperto na turma de espertos que o colocou lá.

Foi fabricado pela mídia e por uma simplificação que faz da corrupção – nojenta, asquerosa – o mal dos males, fonte da pobreza, do atraso, da carência. É produto deles, porque segue a mesma lógica de tudo no Brasil: a apropriação por poucos daquilo que é de todos.

Quem dirá que uma ordem social iníqua e uma ordem econômica – interna e externa – não é a corrupção egoísta das relações humanas?

O presidente interino deixou – quase uma imposição de sua natureza abjeta – de compreender que a pouca legitimidade sem voto que poderia ter seria da assunção de sua transitoriedade. Quer que o que lhe veio pelo crime político se transforme em virtude.

É a encarnação do que negava Ulysses Guimarães: é velho e é velhaco.

E velhacos dependem de que os outros sejam tolos, e tolos por todo o tempo.

 

 

 

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4 respostas

  1. Estamos na república da Lama. No blog do Nassif há uma matéria que informa que Lula foi colocado como réu, na denuncia do Delcídio. sem nem ao menos ouvirem a defesa, como uma forma de vingança contra a ação de Lula e seus advogados de terem recorrido à ONU.
    Por outro Lado a atris Letícia Sabatello foi agredida com palavrões por um bando de fascistas e o sujeito que a chama de “puta” é o filho do presidente do Banestado que deu uns dos maiores golpes financeiros na área econômica. Esse é o Brasil que querem nos enfiar goela abaixo por meio do golpe.

  2. Pois precisamos de mais manifestações, precisamos multiplicar os encontros nas ruas. A manifestação de ontem no Largo da Batata foi uma festa para recarregar as nossas energias na luta contra o golpe. Sem a CUT na organização – a eterna divisão da esquerda às vezes enche a paciência – assim mesmo foram mais ou menos 60 mil pessoas de todos os tipos, faixas etárias, classes sociais, mas principalmente trabalhadores e gente humilde. Todos alegres apesar da preocupação e das decepções. Alegres e entusiasmados na luta, nos gritos de Fora Temer, na maneira tranquila de enfrentar a presença maciça da polícia como se fossemos bandidos. Alegres e convictos na hora de encher os espaços das estações de trem e de metrô com os gritos de Fora Temer. Gritos que vão ecoar por muito tempo nos ouvidos de todos que lá estavam. É o encontro na luta, frequente e insistente, que nos fará cada vez mais fortes.

  3. Além de república das bananas, da lama, essa é a república do pijama, segundo minha irmã. Os golpistas estão velhos ou já na meia idade decadente (como no caso de Aécio). Sem projeto nenhum para o país, com Serra à frente, fizeram das nossas riquezas a xepa da feira global. Os pais de Serra podiam e devem ter sido feirantes dignos, já o filho …É a politicalha a todo vapor.

  4. Brito, meu caro, enquanto não se desvendar a frase de Sarney captada no áudio transcrito pelo Valente na Folha – “Sarney – Nenhuma saída para ela. Eles não aceitam nem parlamentarismo com ela” – ficaremos tergiversando sobre o golpe. Quem são “eles”? Para lembrar, segue o link (veja a terceira frase de Sarney) http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1775028-delacao-da-odebrecht-e-metralhadora-de-ponto-100-diz-sarney-em-audio.shtml

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