Cabral, Garotinho e tudo o que nossa humanidade pode exigir

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A certa altura da vida, a gente já tem tanta clareza sobre o que é decente e o que não é que nem precisa discutir certas questões; não embarca em “ondas ” de histeria, tão frequentes hoje, neste clima de “mata e  esfola” que impuseram ao nosso país.

Por isso, zero de preocupação em defender pessoas das quais discordo quando são submetidas a tratamento dos quais mais ainda discordo sejam submetidas quaisquer pessoas.

Este espetáculo de humilhação que a grande mídia encenou, nas prisões de Anthony Garotinho e Sérgio Cabral, não me acanho em dizer, foi (e ainda está sendo) de enorme indignidade.

Não importa o quanto e com que razões não se goste deles: sentir prazer no sofrimento alheio tem nome, é sadismo.

Investigue-se, julgue-se, puna-se.  Não ao inverso.

Por isso, sinto-me feliz em reproduzir trechos dos textos de dois amigos, parceiros deste blog, sobre o tema. Com eles,  não troquei uma palavra, mas escreveram como eu gostaria de escrever.

Porque nos une, sem diferenças, a ideia de que se não temos capacidade de separar ideologia de humanidade, a ideologia nos tornaria desumanos.

Marceu Vieira: Independência ou golpe!

Como muitos amigos que se posicionaram no Twitter ou no Facebook, ou nas conversas da vida real no botequim, eu também não comemorei nem achei engraçada a cena do Garotinho se debatendo numa maca de hospital público, resistindo a entrar na ambulância rumo ao presídio Bangu 8, enquanto a filha Clarissa, desesperada, gritava: “Meu pai não é bandido! Meu pai não é bandido!”

O que eu senti foi tristeza. Senti também, confesso, um certo temor pela normalidade institucional destes trópicos, que andam tão tristes, com o desemprego deixando sem renda e sem sustento quase 13 milhões de famílias.

Esta terra adorada, pátria amada, idolatrada, salve, salve, onde ainda me sinto responsável pelo futuro de três filhos e de uma “linda Rosa juvenil”, cujo nascimento está previsto pra 2017. O que será 2017?

Garotinho, ao contrario do Cabral Filho, não enriqueceu na política e teve emprego formal antes do seu primeiro mandato como vereador de Campos. Foi preso agora porque distribuiu cheque-cidadão a miseráveis em troca de voto. Mas já poderia ter ido pra cadeia antes.

Porque, desde a primeira eleição pra vereador de Campos, quando era radialista, é assim que ele opera. Dava dentaduras e cadeiras de rodas em troca de voto. Quem não sabe disso? Talvez só a Rosa, que ainda não nasceu.

Se desde Cabral, não o político, mas o navegante, os valores universais de Justiça fossem tomados à risca no Brasil, é possível que não houvesse cadeia suficiente pra prender tanto político desonesto. Aliás, Cabral nem eleito teria sido – agora não o navegante, mas o político mesmo.

Em Brasília, talvez não houvesse tantos camburões pra conduzir do Congresso Nacional até a prisão todos os deputados e senadores com contenciosos na Justiça. Nem vaga de estacionamento bastante haveria no entorno da Câmara e do Senado pra tanta viatura da Polícia Federal.

Por que não se prendeu o Garotinho já na sua primeira campanha, se trocar voto por esmola sempre foi a prática de políticos miúdos como ele?

Por que não se prendeu antes o graúdo Cabral, se até a vendedora da joalheria onde o empreiteiro Cavendish comprou o anel de R$ 800 mil pra primeira-dama e até os operários que demoliram e reconstruíram o Maracanã, o nosso Maracanã, já sabiam das suas “tenebrosas transações” (com a licença do Chico Buarque)?

Por que se demorou tanto pra prender o Eduardo Cunha?

Talvez a Dilma não caísse, e o Brasil só estaria ruim, como já estava, e não insondável como agora. (Continue lendo no Blog do Marceu)

Marcelo Auler: queremos uma sociedade de bárbaros?

(…)É mais do que justificável que a população, em especial a fluminense, aplauda a prisão dos dois ex-governadores, ainda que ambas possam ser discutíveis. O que não se justifica é tripudiarem da situação em que os dois se encontram. Ainda que já estivessem condenados, mereceriam todo o respeito como cidadãos. Mas, mais grave, são apenas suspeitos prestes a responderem no judiciário pelos possíveis crimes que teriam cometido. Que não foram poucos, é verdade, mas ainda não foram julgados, como o próprio juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal criminal, deixa claro na decisão que autorizou a prisão de Cabral.

Em ambos os casos, o desrespeito foi cometido com a participação e/ou conivência do Estado, isto é, de autoridades que ocupando cargos governamentais deveriam ser as primeiras a fazerem valer a Constituição Federal, também chamada de Constituição Cidadã, assim como a Declaração Universal de Direitos Humanos, que o Brasil assinou junto à ONU em 1948.

A foto de Cabral, feita dentro do presídio, só pode ter sido distribuída à imprensa por um órgão público. No caso de Garotinho, mais grave ainda, pois, enfermo, dentro de um hospital público, foi filmado no quarto onde estava internado em uma situação tétrica, vexatória, em que brigava pelo seu direito a ficar internado. Direito este reconhecido pela decisão exemplar da ministra Luciana Lossio.

(…)a defesa do Estado Democrático de Direito e, dentro dele, do respeito a todo e qualquer cidadão, é algo inerente a todos. Não podemos transformar nossa sociedade, em nome da luta contra a corrupção, em uma sociedade de bárbaros. Não se combate o crime desrespeitando leis. Não se busca a moralidade pública tripudiando adversários. (leia na íntegra no Blog do Marcelo Auler)

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3 respostas

  1. FAT. Se a qualidade da faculdade está à altura do seu nome – o grande Anísio Teixeira -, eu só posso afirmar que ela mereceria mentes bem melhores que a da dona Virgínia Pereira em seus quadros.

  2. Que fique bem claro aos que insistem em não reconhecer. Estamos em uma ditadura. E a voracidade de uma ditadura não tem limites, ela nunca se dá por saciada.

    Depois que os ditadores fizerem com que se calem, depois que reprimirem, prenderem, esfolarem ou até mesmo assassinarem todos os sindicalistas, esquerdistas, socialistas, comunistas, ciganos, judeus, muçulmanos, e outros, e não tiverem a quem acusar pelas mazelas, eles se verão obrigados a procurar outros culpados.

    Então, dona Virgínia Pereira, há a possibilidade de que eles resolvam encontrar um culpado entre os que fazem parte da FAT, uma faculdade com nome de um subversivo. Subversivo na visão deles, esclarecendo.

    Aí, é possível que a senhora, que acredita que tudo não passa de “humanismo venal”, acabe se tornando o alvo desses ditadores.

    Então, provavelmente, a senhora terá a resposta a sua própria pergunta: “Quantas pratas valem essas sublimes defesas dos ‘direitos humanos de bandidos’…???”

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