— Mãe, para onde estamos indo?
— Para o Uruguai, João Vicente –respondeu ela.
— Uruguai, mãe? Onde é isso?
— É outro país, meu filho.
Segundo ela, fiquei longos segundos pensativo antes de disparar:
— Mãe, de que cor é o Uruguai?
Foi naquele momento que minha mãe se deu conta da distância a ser percorrida, dos dias na presidência, de seu casamento em São Borja, de sua infância. Pensou profundamente no que diria para aquela criança. Olhou para o céu aberto e profundo de um dia claro. Era possível ouvir o barulho das hélices. As lágrimas caíram no seu rosto, mas sem se perturbar, ela se virou para mim e falou:
— O Uruguai é azul, João Vicente. É azul.”
Cada um de nós, guris quando veio o golpe de 1964, certamente tem uma história para contar sobre o dia em que nossos pais perderam as liberdades e nós, suas crianças, percebemos dor e medo em seus olhos e palavras.
Poucos ou nenhum, porém, quanto João Vicente e Denize, os filhos de João Goulart e Maria Thereza, arrancados, de uma só vez, de um palácio, de um país e, para sempre, de uma infância de despreocupação que toda criança merece ter.
Não vou, em meio ao turbilhão em que estamos e que me fez, inclusive, perder a data de ontem, 40° aniversário da morte de Jango, para publicar este post, buscar as saborosas e importantes histórias de João Vicente no livro, objeto de uma ótima coletânea feita por Evando Éboli, em O Globo.
Nem sequer pude ir comprar o livro, á venda desde ontem.
Mas, por João, por Denize, por todos de minha geração que perdemos a chance de crescer na democracia – e eles, ainda mais, no Brasil – faço o registro do trabalho que, imagino, deve ter somado doces e amargos da saudade de um homem que caiu por suas virtudes, por seus méritos, por sua humanidade e por sua objeção absoluta a fazer com que corresse sangue de seus irmãos brasileiros.
Nestes tempos brutos em que vivemos não é apenas um livro de recordações, mas de advertência contra os regimes ditatoriais.
Como diz o próprio João Vicente, não é possível deixar que togas substituam os quepes.
Maria Thereza disse àquele menino que o Uruguai era azul, como um criança entende o céu.
Mas a ditadura e o exílio são cinzas e frios, lugares para onde queremos que, nunca mais, em qualquer lugar do mundo, criança alguma tenha de ir.
Serviço: O livro será lançado hoje (7) em Brasília (Livraria Cultura do Casa Park), às 19 horas, na sexta-feira (9) no Rio de Janeiro (Livraria da Travessa do Shopping Leblon), dia 13 em Florianópolis (Livraria Livros e Livros), dia 19 em São Paulo (na Livraria da Vila da rua Fradique Coutinho) e em 10 de janeiro em Porto Alegre (Livraria Cultura do Bourbon)
2 respostas
… Ficou bonito para a sua frouxidão, “petista” Jorge Viana!
Foi enquadrado por prática criminosa, ao ser acusado de se negar a receber notificação judicial!
E procedente do STF!
O acriano “se ferrou” ao querer ser solidário ao RÉU ‘RÉUnan Carniceiros’ e os(as) vigaristas [supostos(as)] senadores(as) DEMoTucanos, PMDBostas &$ assemelhados(as)!
Posar de gentleman em meio a fascistas e terroristas inescrupulosos!
Subproduto, ‘o [tíbio] PT da Governança’ ainda mais avacalhado!
(…)
Senador Jorge Viana do ‘PT Atucanado’, agora tome tenência e aprenda a ter coragem – e lado – após esta aula magna proferida pelo ministro supremo ‘cabra macho’ Marco Aurélio Mello!
Dentro do PT só tem baitola e abestalhado.
Se um senadorzinho todo encrencado pôde fazer isso POR QUE ASSIM O QUIS, o que a Comandante Suprema das Forças Armadas não poderia ter feito?
Papel de besta fiz eu.