Não cabe falar do show de horrores do massacre na penitenciária de Manaus. Quem vive da exploração da miséria humana que o faça.
Cabe falar de um país que vive a insânia de meter na cadeia quase 700 mil pessoas, em condições trágicas e perspectivas ainda mais trágicas.
Se considerarmos o número dos que estudam como indicador de ressocialização, só 12,8%deles, 84 mil, trilham esse caminho, segundo publicou hoje O Globo, antes desta tragédia.
Ou, fazendo a conta ao inverso, para evidenciar: 572 mil indivíduos estão na cadeia sem esperança de um vida, o que dirá melhor.
Não deve ser algo tão ruim, porque há muitos empresários privados – como os que administram o presídio de Manaus, algo sonegado à opinião pública, ao menos ao que vi – e os dados estão todos na página dos Jornalistas Livres – e as “otoridades”, esquecidas de que a lei coloca os custodiados sob responsabilidade do Estado, se preocupam em dizer que se mataram uns aos outros.
Com o requinte sádico de chamarem o “empreendimento” de Umanizzare,
Fico pensando se não é uma baita hipocrisia não abrirmos logo campos de concentração, porque estamos em marcha batida para termos um milhão de pessoas presas. O que, convenhamos, é prender em escala hitleriana.
Afinal, não vibramos com a prisão, não consideramos a cadeia o sinônimo de Justiça e o caminho da realização dos desejos coletivos?
E não achamos que prender de menos, e não demais, é a fonte de nossos problemas.
Quem sabe a gente tenha de admitir que os chuveiros que soltavam o gás Zyclon B fossem piedosos em relação aos facões e machado que retalham pessoas ainda vivas e lhes arrancam corações?
Os nossos judeus são negros, pardos, pobres? Os judeus da Alemanha ou da Polônia não eram, mas eram igualmente considerados não-arianos, inferiores, incorrigíveis.