Cumprir a lei virou ser “progressista” diz juiz que ajudou a libertar reféns em Manaus

valoisconjur

Imperdível a entrevista do juiz Luiz Carlos Valois, que negociou a libertação de reféns do primeiro massacre do ano nos presídios – já são tantos que a gente tem de falar no ordinal  –  ao site Conjur, onde ele diz, lamentando, que ser legalista virou sinônimo de ser “esquerdista”:

“O discurso de ódio que tem prevalecido tornou o cumprimento da lei irrelevante. As pessoas não estão mais preocupadas com o cumprimento da lei, desde que a pessoa seja punida, fique presa. As pessoas falam com orgulho que os presos têm que morrer. Esse discurso, um discurso pró-violação da lei, faz com que as pessoas que sejam legalistas aparentem ser progressistas, de esquerda. Cumprir a lei hoje em dia é perigoso”

A entrevista de Valois é uma explicação prática da razão pela qual, sede o dia seguinte ao massacre, tentou-se colocá-lo como “cúmplice” de facções criminosas

ConJur — O senhor acha que há uma certa perseguição a juízes mais garantistas ou defensores dos direitos humanos?
Luís Carlos Valois
— Sim, porque o discurso de ódio que tem prevalecido tornou o cumprimento da lei irrelevante. As pessoas não estão mais preocupadas com o cumprimento da lei, desde que a pessoa seja punida, fique presa. As pessoas falam com orgulho que os presos têm que morrer. Olhe as declarações depois dessa rebelião: gente comemorando mortes de seres humanos, estimulando, inclusive, a morte de mais presos. O secretário nacional de Juventude, Bruno Júlio, disse que “tinha era que matar mais, tinha que fazer uma chacina por semana”. Como pode um negócio desses? Esse discurso, um discurso pró-violação da lei, faz com que as pessoas que sejam legalistas aparentem ser progressistas. Antigamente, o progressista era aquele cara que queria algo a mais que a lei, garantias a mais do que a lei previa, Justiça além da lei. Hoje em dia, quem cumpre a lei é progressista, parece que é de esquerda. E esse discurso de ódio também atinge o Judiciário. Cumprir a lei hoje em dia é perigoso.

Ontem, na Folha, uma ótima reportagem de Leandro Machado conta a história do pedreiro Felipe,  mandado para o presídio numa audiência de 15 minutos, com três minutos para defender-se, sem outras condenações criminais, sem testemunhas do seu crime de tráfico senão a de dois policiais que, diz ele, “plantaram a droga” em seus bolsos, que o prenderam desarmado.

A juíza o mandou tão rapidamente para o regime fechado por um ano e oito meses. A magistrada, certamente, sabe onde está sua cabeça.

A de Felipe depois destes 20 meses, talvez seja preciso procurar.

Leia aqui a entrevista de Valois, no Conjur.

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5 respostas

  1. Essa banalização da VIDA só nos apequena.
    Falam e fazem comentários sem o menor cuidado, e sempre generalizam os criminosos os colocando no mesmo nível de covardia e isso é muito perigoso. Essa mídia, principalmente gROUBO é a grande responsável por nunca mostrar o contraditório.
    “Bandidos qualificados” são a maldita mídia, no entanto não são degolados.
    Isso sim é crime hediondo dignos de punição severa.

  2. É tão fácil prender e condenar que me pergunto: será que o judiciário ganha comissão por cada condenação?

    1. Boa pergunta cara Eva.

      A podridão que veio à tona com o massacre de Manaus evidenciou que no “sistema prisional privatizado” amazonense se compra e se vende de tudo. Quem nos garante que aí não estejam incluídas sentenças penais condenatórias, que geram lucros absurdos para os donos dos presídios e seus sócios?

  3. Infelizmente ouvimos, à todo momento, gente com opiniões simplistas que nos dizem “quem está morrendo é bandido e bandido bom é bandido morto”. Nada pode ser tão estúpido. O problema não é se são bandidos ou não, pois muitos deles são réus primários, condenados e presos, e que são jogados em celas superlotadas, com criminosos de todas as extirpes. Essas pessoas esquecem que, além de cabeças decapitadas, vários assassinos estão fugindo da cadeia nessas rebeliões. Tomaram as ruas, o que significa que a insegurança vai aumentar. Aquele discurso do “tá com peninha dele? Leva pra ti!” é a coisa mais abjeta que se pode ouvir. Não se trata de defender bandido. O que se defende é que o Estado cumpra a lei e mantenha os presos na cadeia, mas que seja assegurado o direito à vida, pois esse é assegurado por lei. Quem vai pagar, em última instância, as indenizações por essas mortes? Nós, que pagamos impostos. Mas o que a imprensa diz? ABSOLUTAMENTE NADA! Se a Dilma estivesse na presidência, certamente a culpa por toda essa carnificina seria do PT. E não falta quem diga que isso é resultado do governo petista. Esquecem que nos últimos 13 anos isso não acontecia. Querer jogar a culpa lá para trás é, no mínimo, desonesto ou má-fé.

  4. Cumprir a lei é ser progressista? Até que enfim os coxinhas reconhecem isso. Somos progressistas. E vocês são o que? Retrógrados? Segundo o dicionário português:

    Retrógrado: Indivíduo que se opõe ao progresso ou é contrário ao que é novo; reacionário, conservador.

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