A cartola de Meirelles está vazia. Por Arnaldo César Ricci

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Cantado em prosa e verso como o bálsamo dos bálsamos da recuperação econômica brasileira, a recente abrupta redução das taxas de juros não entusiasmou o empresariado como se esperava. Até mesmo a mídia adestrada recebeu a medida com o pé atrás.

Benjamin Steinbruch, controlador da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), foi um dos que se mostraram prudentes diante da tal festejada redução dos juros. No último artigo que escreveu no dia 10 passado, na Folha de S.Paulo, ele pediu “socorro à indústria brasileira” – A indústria brasileira precisa de socorro, sem preconceitos.
Com base numa serie de estudos de organismo internacionais, Steinbruch alertou que a prolongada crise econômica está provocando um processo de desindustrialização do País.

O governo golpista através de sua desastrada política de comunicação social inundou os jornais de domingo passado (15/1) com anúncios de página inteira. Trombeteavam um pretenso conjunto de medidas positivas na economia. Uma quimera. Mais um dos inúmeros tiros n’água deste governo.

Os setores produtivos do Brasil sabem que mexer nas taxas de juros é apenas um paliativo. Mesmo porque, isso tem um limite. A poupança interna continua rala. Infelizmente, o País continua dependendo dos investidores externos. Para tanto, terá que oferecer remuneração atraente para que o capital venha de fora.

Além disso, a dívida interna não tem parado de crescer. O governo para se financiar igualmente terá que ir ao mercado oferecendo percentuais vistosos de remuneração caso queira tapar seus rombos.

Isso não é nenhuma novidade. Sempre foi assim. O que Temer e sua camarilha não entenderam, até agora, é que para meter a mão no bolso e investir dinheiro no negócio, o empresário – seja ele local ou estrangeiro – exige o mínimo de estabilidade política e institucional. Neste aspecto, as coisas vão de mal a pior.

Todos – Judiciário, Legislativo e Executivo – disputam o butim do golpe. Engalfinham-se em praça pública. Por pouco Carmen Lúcia, presidente do STF, e Renan Calheiros, presidente do Senado, não foram às vias de fato.

É assustadora a frequência com que os nomes dos homens de confiança de Temer – e o dele próprio – aparecem nas listas de falcatruas levantadas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal.

Mesmo atuando com extrema objetividade (focados sempre no PT e no presidente Lula), essas duas instituições da República já não conseguem empurrar para debaixo do tapete as lambanças praticadas pelos Geddeis, Cunhas, Moreiras, Jucás, Maias e Padilhas. Quando não aparecem fazendo tráficos de influência são acusados de meterem a mão, sem qualquer pudor, no erário público.

Os empresários e os investidores quando, descaradamente, apoiaram o golpe sabiam o que estavam fazendo. Ninguém é inocente neste ramo. Cometeram apenas um erro de cálculo. Os impolutos integrantes deste grupo que assumiu o Planalto é constituído por uma horda de pretensos corruptos que foram com muita sede ao pote e deixaram evidências demais para serem ignoradas pelos homens da lei.

Geddel Vieira Lima, de tão guloso, passou a carregar entre seus pares à alcunha de “boca de jacaré”. De acordo com as investigações da Polícia Federal, no último e igualmente eletrizante escândalo na Caixa Econômica Federal, o ex-ministro Geddel e o ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, agiam em dupla na cobrança de propinas para liberar empréstimos às empresas. Que combinação explosiva Geddel e Cunha agindo em dupla!

A presidente legitimamente eleita, Dilma Rousseff, foi apeada do poder acusada de um crime que não cometeu e por isso não conseguiram prová-lo. Apesar da montanha de dinheiro público que despeja na imprensa amestrada para provar que a crise está sendo superada, Temer tem sido um tropeço atrás do outro.

Não consegue nem indicar um assessor “ficha limpa” para ajudá-lo com os temas da juventude. Isso para não falar do falacioso ministro da Justiça, Alexandre de Moraes que diante das cabeças cortadas, olhos vazados e corações arrancados nos presídios brasileiros lança mão de uma vergonhosa mentirada para justificar a sua omissão diante de tão grave problema nacional.

Vê-se que Brasil desce ladeira abaixo. Como investir em um cenário desses?

Esta é a questão crucial. Falta ao atual governo credibilidade. O que não tem nada a ver com índices de popularidade – que por sinal também são baixíssimos! – ou com maioria nas casas legislativas.

Até mesmo o empresariado, que com os seus bandos de patos infláveis instigaram o golpe, já não acreditam mais que Temer e seu exército de “bocas de jacarés” conseguirão tirar o País do pântano.

A cartola de Henrique Meirelles, o superministro da Fazenda, já está vazia. Não há queda de juros que dê jeito. Aliás, o que os editorais da chamada “imprensa amiga” começam a sugerir como solução é a queda do próprio Temer juntamente com o bando de répteis que o cercam.

*Arnaldo César Ricci Jacob é jornalista. O texto foi publicado originalmente no Blog do Marcelo Auler.

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6 respostas

  1. Benjamim , controlador da CSN,, nunca botou 1 tostão na empresa e a sucateou e hj vive da venda do minério da mina Casa de Pedra. Rico cada vez mais rico e Volta Redonda pobre.

  2. POPULISMO DE TRUMP PODE IMPOR CRESCIMENTO NEGATIVO DO PIB NO BRASIL EM 2017

    É um tremendo blá, blá, blá neoliberal achar que só reduzindo juro a coisa vai funcionar, a economia voltará a crescer etc e tal.
    O papa da economia capitalista, que salvou ela do lassair faire, o sr. Keynes, disse que A ÚNICA VARIÁVEL ECONÔMICA VERDADEIRAMENTE INDEPENDENTE NA ECONOMIA CAPITALISTA é a quantidade da oferta de dinheiro em circulação.
    Ou seja, o governo tem que irrigar, jogando dinheiro na praça, de um lado, e utilizar a dívida pública, de outro, para enxugar excesso de liquidez.
    Se o juro for muito alto, a vaca vai para o brejo.
    Não é à toa que os capitalistas desenvolvidos estão mantendo o juro na casa dos zero ou negativo: evita explosão da dívida pública e a morte das empresas e dos consumidores.
    Se a dívida sobe muito, o jeito é juro negativo, ou seja, calote nos detentores de títulos da dívida.
    Eis o sentido da expansão monetária absurda verificada no pós bancarrota 2008.
    Portanto, como diz Keynes, quando o governo irriga, produz quatro fatores simultâneos, que, combinados, despertam o espírito animal dos empresários:
    1 – eleva os preços;
    2 – reduz os salários;
    3 – diminui os juros e
    4 – perdoa a dívida dos empresários contratada a prazo.
    Diante dessa ação governamental, como diz Lauro Campos, em “A crise da ideologia keynesiana”, o empresário fica valente, resolve investir, simplesmente, porque não precisa enfiar a mão no bolso.
    É a combinação desses quatro fatores, diz o grande economista inglês, que produz o que denominou de “eficiência marginal do capital”, isto é, o lucro.
    Só abaixar juro é o mesmo que nada, diante da capacidade ociosa que está na casa dos 85%, com a economia caindo pelas tabelas. Nesse caso, quem vai comprar máquinas novas, para colocar no lugar das que já estão paradas?
    Benjamim Steinbruck sabe o que está falando.
    Não haverá investimento, apenas, porque Meirelles arreganha a boca cheia de dentes para forçar sorriso, querendo dizer que a volta do crescimento está ali, logo na esquina.
    Esquece.
    Sem o governo gastar para puxar a demanda, o empresariado vai continuar jogando, mas sem bola, fingindo chutá-la, quando, na verdade, está dando pernada em vento.
    Tudo pode piorar ainda mais se Trump puxar a demanda nos Estados Unidos jogando na circulação 1 trilhão de dólares como se cogita, mantendo o juro na casa dos zero ou negativo.
    Nesse patamar o custo do dinheiro não impacta a dívida pública.
    Então, ele poderá continuar gastando, jogando dinheiro em circulação.
    Aqui, na periferia, se o juro não for a zero, também, o que acontecerá, senão pressão cambial, por parte dos especuladores?
    O real vai continuar sobrevalorizado, acelerando endividamento mediante juro alto mantido pelo BC para enxugar excesso de liquidez, bombeada pelos especuladores internacionais que Trump continuará expulsando via juro negativo.
    Trump vai continuar o jogo de Obama: juro zero, para dar calote nos detentores de títulos, para que eles voem para as praças onde o juro é alto, como em terra brazilis.
    Também, com o juro zero, Trump, jogando dinheiro na circulação, ativa o credito barato para as empresas e para os consumidores.
    É o que Willham Waack está chamando de novo populismo.
    Se Trump fosse brasileiro, Waack e a turma entreguista do PSDB, vendilhã da pátria, estaria dizendo, jocosamente, que Vargas teria se ressuscitado.
    O fenômeno populista, como disse Trotski, decorre da desmoralização geral dos partidos, deixando vácuo para surgimento de livre atirados como Trump que fala o que o eleitorado no desemprego quer ouvir.
    Por aqui, Temer e cia ltda, vai na contramão, afundando a economia para os sete palmos de terra.
    O FMI já viu o que vai acontecer com o neoliberalismo furado de Meirelles diante da estratégia de Trump: pode pintar crescimento negativo do PIB.
    O que está no ar é tremenda mentira veiculada pela Globo para enganar trouxa.
    Vem aí não a recuperação, mas o desastre geral.

    1. Cesar.
      Economicamente sua análise, para mim é perfeita.
      Mas, não acredito que a quadrilha se instalou no palácio para tentar resolver algum problema econômico. Você acredita em incompetência pura?
      Já compraram o judiciário com um aumento cavalar em cima do maior salário do mundo. Esperam com isto ter um desafogo no tempo para liquidar com empresas brasileiras. Nós podemos não saber o porque de eles estarem fazendo isto, mas eles sabem.
      Portanto, enquanto a president(A) do STF, faz reuniões discutindo assuntos que não são de sua alçada (sistema prisional) e consequentemente aparece na TV. lançando-se como futura candidata a presidente de república (argh), a quadrilha segue “privatariando” e aumentando o pé de meia, contando com um futuro perdão e pagamento de um impostinho, pois é assim que funciona.
      Do destroçamento do país, só vimos o começo.

  3. Eu fico me perguntando porque tantos economistas, ainda mais num tempo em que TUDO pode ser controlado online, ficam com essa conversinha mole de que o Estado precisa se financiar via tomada de empréstimos / venda de títulos.
    Os sistemas de todos os bancos JÁ são integrados com os do BACEN. Basta estender a integração à Receita Federal (e equipá-la convenientemente, claro). Ninguém movimenta nada sem a RFB saber, fim de papo. Só isso, com um pouco de programação de computador (nem é tão difícil assim), e todo sonegador vai ter que carregar malas de dinheiro pra cá e pra lá, se não quiser ser pego. Fora o fato de que todo mundo foi quase obrigado pelos bancos a pagar por meios eletrônicos, e desfazer isso em favor de transitar pelas ruas com malas de dinheiro e faturas pra pagar não passa pela cabeça de nenhum empresário, mesmo os maiores sonegadores.
    Com a RFB a par do que de fato circula, e de quem tem enormes quantias entesouradas em títulos públicos hoje, bastaria tributar esse capital ocioso. Não quer pagar imposto, aplica o dinheiro em novos negócios – se disser investimentos ele vão entender papelório, porque pra eles isso é sinônimo. Com uma dívida pública bruta de R$ 4 trilhões (se acreditarmos que ela é de 80% do PIB de US$ 2 tri, a um câmbio de R$ 3/US$), o Estado passa a contar com recursos para investimento da ordem de, pelo menos, uns R$ 2 tri. Pra que tomar dinheiro novo então?

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