Certas pessoas, sufocadas pelo egocentrismo e incapazes de perceber que, infelizmente, o Brasil não é uma imensa reprodução do ambiente de classe média em que vivem, esquecem disso ao assumirem posições políticas.
Fiquei espantado de ver gente se diz progressista afirmar que não tem não tem sentido a diferenciação de idade para a aposentadoria das mulheres. Pode não fazer para uma profissional liberal, bem sucedida, urbana, que concorre, por capacidade e por merecimento pelos mesmos empregos e posições funcionais que os homens, algo em que, embora nisso ainda haja diferenças, as últimas décadas vêm assinalando progressos.
Colocar esta questão como se fosse apequenadora da condição feminina, de sua capacidade, inteligência, talento, ousadia e tudo o mais que não se tem de diferencia-las é um grave erro, semelhante ao que é deixar de reconhecer a igualdade humana.
Não é esta, porém, a realidade da maioria das mulheres brasileiras, no campo e nas periferias urbanas.
E, desde Aristóteles, tratar como iguais aos desiguais e aumentar as desigualdades.
A proposta de reforma previdenciária enviada por Temer ao Congresso comete contra elas duas imensas injustiças.
A primeira é considerar que gestações – e ainda são várias – e o cuidado dos filhos, que não é delegado a terceiros e raramente tem muita partilha com o pai – quando ele está presente, o que não é a situação de milhões de mulheres – não são um diferencial que pese na vida de seres humanos. É pesado e ainda há um longo caminho a percorrer até que se tenha uma divisão do trabalho equânime entre homens e mulheres.
E se há um longo caminho a percorrer, não se pode pretender estabelecer a igualdade de exigências de uma só vez.
A segunda, ruim para homens e mulheres, mas especialmente para estas, é a exigência de 25 anos de contribuição para que, mesmo aos 65 anos, se possa ter direito à aposentadoria.
Quem vai pagar a previdência por tanto tempo a uma mulher do campo? Quem contrata uma mulher de 50 anos para algum emprego, a não ser do de trabalhos domésticos? Aliás, quantas empregadas domésticas trabalharam (e ainda trabalham) sem a obrigação do recolhimento previdenciário que só há pouco se tornou obrigatório?
A “pena” imposta por esta PEC da Previdência é dupla: mais cinco anos de idade e mais dez de contribuição.
15 anos, ou mais até, a eternidade, porque aos 60 e sem emprego, como contribuir para o INSS?
Talvez algumas pessoas, mais presas a teorias que à vida real se aborreçam com o que digo.
Há 25 anos atrás, quando uma pré-adolescente, ao comentar, diante da reclamação que a gente faz, sempre, quando chega o IPTU, comentou que a D. Lina, uma mulher de 550 e poucos anos, mas aparência de 70, que sobrevivia de pequenos serviços aos moradores do local isolado em que vivíamos e habitava um casebre de taipa não tinha de pagar IPTU e isso não era justo.
Mandei-a buscar um dicionário.
Revoltada, foi, resmungando muito. Então, mandei que lesse em voz alta o significado de compaixão.
-Eu sei, é pena, é coitada…
-Leia, por favor…
E então ela leu que compaixão é algo como ser capaz de sentir o sofrimento alheio e ter o impulso de, mesmo não sendo o nosso, mitigá-lo.
Não sei se D. Lina, como ela se chamava, ainda vive. Mas há milhões de D. Lina por este Brasil imenso e mitigar seu sofrimento, mesmo não sendo o meu ou de homens e mulheres que vivem outra situação, é o mínimo de atitude que se pode esperar de quem respeita uma mulher.
De quem respeita um semelhante, ainda que vivendo um mundo tão diferente.
11 respostas
Viva a Dilma, Glória dá nação brasileira, a primeira presidenta do Brasil
Alguns andam dizendo que dia da mulher tinha que ser todo dia. Claro que sim. Como respeitar o outro, seja ele homem ou mulher tem que ser todo dia. A importância do 8 de março está na oportunidade de termos o mundo todo olhando para as mulheres, suas dificuldades, seu sofrimento, suas conquistas e o que ainda falta conquistar, a violência a que estão expostas, amplificando o desejo de que tudo seja diferente. Hoje é o dia de recebermos um carinho especial de quem sabe que não é só hoje. E sabe porque sente compaixão, porque respeita um semelhante, ainda que vivendo um mundo tão diferente. E para mim, é com grande alegria que reconheço em tantos amigos esse sentimento e esse respeito. Sua homenagem à mulher não poderia ser outra, Fernando, que a sua defesa.
Dia da mulher sem minha mãe. É triste.
Parabéns a todas as mulheres de todas as raças, de todos os credo, de todos os cantos do mundo.
Só a bem da verdade histórica, o fato da mulher se aposentar 5 anos antes do homem não tem NADA a ver com dupla jornada, criação de filhos ou qualquer coisa remotamente vinculada a assuntos femininos.
À época da votação do texto legal da CLT o congresso brasileiro era 100% masculinos e outrora, como hoje, quase totalmente retrógrado e conservador.
Na minha época de bacharel do direito dei-me ao trabalho de pesquisar os anais do Congresso Brasileiro sobre as discussões sobre a CLT e no que tange a mulher trabalhadora, tanto os 5 anos de aposentadoria a menos como as aposentadorias especiais femininas (para aposentar ainda mais cedo) para professoras, enfermeiras, telefonistas e etc (que então representavam mais uma maioria de trabalhadoras não comerciárias) a PREOCUPAÇÃO dos parlamentares à época se fazia principalmente para evitar o ESPECTRO assustador do marido aposentado e a mulher continuar a ir ao trabalho.
Em português CLARO o temor do CHIFRE, ou seja a traição…
Ontem como hoje os políticos fazem coisas por motivos errados o avanço da CLT para as mulheres esconde um ranço machista que hoje é virtualmente desconhecido…
Quem quiser é só pesquisar lá no congresso…
Chorei ao ler a história da Dona Lina. Compaixão está fora de moda e poucos sabem o significado escrito no dicionário.
Lindo artigo, Fernando!
A partir de hoje os Brasileiros deveriam comemorar junto com o dia da mulher, o dia de Dilma, a mártir injustiçada por homens machistas, babacas, tramposos, tarados e corruptos a lá Congresso Nacional. Alias, alguém viu a homenagem que Temer fez as mulheres no dia de hoje dizendo que as mulheres sabem cuidar da casa muito bem. É pra rir ou pra chorar? É pra lamentar o descaso do Presidente com as mulheres, basta ver o seu ministério. Só tem homem lá. Então que homenagem é essa?
Teria sido a Janaína que inspirou o Temer a pronunciar aquelas brilhantes palavras em homenagem às mulheres deste imenso pais? Quem o inspirou?
Brito, olha que “presente” este juiz brasileiro deu às mulheres do país, saiu hoje no diário oficial.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/inspirado-em-olavo-de-carvalho-juiz-rejeita-denuncia-por-estupro-sofrido-por-presa-politica/
É pra acabar…
Pois eu não acho,que sejam ALGUMAS PESSOAS que pensam,como as mencionadas na matéria.São milhões de pessoas,que acham que deva ser assim.Tanto é assim,que elegem gente desse quilate.São todos,com variações,BOSTONARISTAS CONFESSOS.Somente muitos,não dizem em voz alta.O canalhete Maia,foi eleito por gente como as que menciono..