Jânio: o que está em jogo não é Dirceu, é a justiça

Jânio de Freitas, em sua coluna de hoje na Folha de S. Paulo, analisa o embate entre Luís Roberto Barroso e Marco Aurelio Mello na sessão de quinta-feira do Supremo. E diz que a posição de Mello, de julgar regido pela “opinião púbica” leva a julgamentos vinculados a algo que ” é manipulável e pode ser distorcida pelos meios que aparentemente a refletem quando, de fato, a induzem”.

Reproduzo, abaixo, seu artigo.

Além do julgamento

Jânio de Freitas

Tanto nos ataques mútuos e entremeados de inconfiáveis elogios, como nas entrelinhas das formulações teóricas dos magistrados, as sessões do Supremo Tribunal Federal têm oferecido, ainda que sem tal propósito, temas de interesse mais geral do que o destrói ou não destrói José Dirceu.

Foi pródiga, nesse sentido, a sessão em que o Supremo se inviabilizou no empate de cinco a cinco, que vale o mesmo que o empate de zero a zero, duas partes que se anulam. O que reduziu todo o poder de decisão, no Olimpo do Judiciário, à voz de um só.

A discussão entre os ministros Marco Aurélio Mello e Luís Roberto Barroso, por exemplo, tem a ver com mais do que a influência da opinião externa, ou “do país”, sobre o tribunal. Em resposta a Barroso, que se disse subordinado à sua consciência de juiz e não à multidão, e muito menos ao que dirão os jornais do dia seguinte, Marco Aurélio proclamou-se subordinado, sim, “aos contribuintes” a que “deve contas”.

É um assunto que deveria figurar entre as preocupações permanentes das redações e dos seus jornalistas, dos críticos culturais, dos colunistas de costumes, de procuradores e promotores públicos, e de muitos outros. Deveria. A regra predominante, considerado o conjunto das atividades sensíveis ao tema, é procurar se “dar bem” fazendo “média” com a tendência mais favorecedora.

No caso suscitado pelos dois ministros, a prevalência da opinião mais exposta poderia até dispensar os juízes e os julgamentos, bastando aplicar a presumida vontade dos “contribuintes”. E ainda chamar isso de “democracia direta”, para alegria de certos esquerdoides.

Mas o risco não é de desemprego. A “vontade do povo” foi um argumento utilizado por juízes na Alemanha nazista e depois repetido nos julgamentos em que foram eles os réus, no pós-guerra. E, mesmo sem chegar a extremos políticos, sabe-se que a opinião do povo, da multidão, do contribuinte, ou lá que categoria se use, é manipulável e pode ser distorcida pelos meios que aparentemente a refletem quando, de fato, a induzem. Opinião pública: o que é isso, afinal?

Não foi Marco Aurélio nem foi Barroso quem suscitou o tema. Foi Gilmar Mendes.

A sessão seria cansativa, com votos muito extensos, não fosse Gilmar Mendes oferecer uma representação criativa, e a TV estava ali também para isso, como sempre. Dramático, espacial nos gestos teatrais, a voz ondulante como nos mares bravios, o ministro tonitruou um discurso à maneira dos tribunos das oposições de outrora, bem outrora. Estava preocupado porque “o país está a nos assistir” (o infinitivo dos portugueses, em vez do gerúndio dos brasileiros, é permanente, digamos, no seu estilo). E o STF não pode decepcionar esses espectadores, povo, contribuintes, as ruas. Preocupação muito reiterada, em especial, com referência ao número absurdo de sessões consumidas pela Ação 470: já 53! Um absurdo! E tome exclamações.

Foi bom o ministro recorrer à velha oratória, mas não à velha aritmética. Iria lembrar-se de que a Ação 470 levou 38 réus ao STF. Logo, implicou 38 julgamentos. Em média, portanto, cada um não ocupou nem uma sessão e meia. Incluídas no total e na média as sessões que não foram exatamente de julgamento, mas ocupadas com os recursos chamados embargos declaratórios e já com os combates pelos embargos infringentes. Se a aritmética é lembrada, lá se ia um pedaço fundamental da representação.

Tanta preocupação com o esperado do STF pelos espectadores e contribuintes (não são necessariamente a mesma coisa, sabendo-se que a classe alta acompanha o julgamento com o mesmo interesse que aplica na sonegação –e há quem diga que pelos mesmos motivos) leva a alguma dúvida. Porque, até onde se soube com certeza em nossos dias, o que todo cidadão brasileiro pleiteia do Judiciário é a segurança de que cada um conte com a busca da verdade e da justiça possíveis, para que ninguém seja injustiçado por pressa de juiz nem por interesses políticos ou econômicos.

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23 respostas

  1. Barroso mostrou a altivez do seu espírito. O outro, a mesquinharia de um caráter corrompido ou, talvez, nem isso, mas fraqueza de um ser mal criado, inexperiente, distante da realidade do mundo e do seu país, um teleguiado pelos representantes da mídia e de sua classe social decaída intelectualmente.

  2. Diálogo extraído do livro Código da Vida, do jurista Saulo Ramos (falecido), entre o autor e o ministro Celso de Mello :
    – Você votou contra o Sarney porque a F. de São Paulo noticiou que você votaria a favor?
    – Sim.
    – E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?
    – Exatamente. O senhor me entendeu?
    – Entendi. Entendi que você é um juiz de merda!

  3. Jânio, o que o povo ou os contribuíntes desejam dos juízes, dos políticos em geral é o cumprimento da lei e respeito sim, porque são estes, que lhes pagam o salário. Se a lei fôsse cumprida não haveria Mensaleiros, nem os Malufs da vida. Portanto, os juízes, políticos, servidor público têem que dar satisfações ao povo, SIM.

  4. Vkce falou tudo, p que se deve fazer eh cumprir a lei e a Constituicao e o que estamos vendo por parte do “seu” MAM e GM, e o curimento da pressao da midia. 90% dos brasileiros tomaram conhecimento dos fatos que geraram o mentirao, atraves da midua comprometida com a oposicao. Portanto concluie ue os momistris que

    1. Portanto se conclui que os Ministros sao pagos paea fazer justica e nao para fazer politica. O mal do brasileiro eh falar sem conhecimento de causa, baseado SOMENTE nas informacoes truncadas da Globo, Veja e esta midia caotica que manipula gente desinformada e ingenua.

  5. O Aécio esta bom pra se juntar a Marina.Vão os dois pro botequim e bebem, bebem,e planejam e planejam como urubuza o governo Dilma. Coitados quem não tem projeto e nem expectativas, fica maldizendo o que o outro esta fazendo e morrendo de ódio por não ter feito nada até hoje, Ki dó! kkkkkkkk. Dor de cotovelo. Inveja mata! Se cuida.

  6. Parabéns pela sua decisão. Era o que se podia esperar de um verdadeiro seguidor de Brizola. O texta e a carta estão perfeitos. Um abraço a você e a Brizolinha, que, imagino, pense e sofra igualmente.

  7. Não há dúvida o dinheiro americano está nas mãos de Israel, que têm um país em cada país, e o país Israel dos EEUU, detém a maioria do dinheiro americano e é assim em todo o mundo. Não existe espionagem do EEUU que “entrega a seus colegas israelenses” é tudo uma coisa só.

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