Letalidade da Covid no Rio é quase o triplo da média nacional

A cidade do Rio de Janeiro passou anteontem à “fase 6A” de seu programa de reabertura das atividades.

Até casas de festas infantis foram autorizadas a reabrir, claro que com as “precauções” que você pode imaginar podem ser utilizadas em festas de crianças pequenas.

É mera “me engana que eu gosto”, como foram as praias onde “ninguém pode ficar na areia” e você viu lotarem no final de semana.

Tudo está, parece, “normal” e ninguém liga para os 152 mortos registrados ontem, 121 deles na capital.

Neste texto, publicado ontem pela agência de notícias da Fundação Oswaldo Cruz, o jornalista e velho amigo Paulo Henrique Noronha faz, em números, um retrato do “está tudo maravilhoso” na Cidade Maravilhosa, onde o prefeito se esmera em mobilizar comandos bolsonaristas para dizer que tudo vai bem numa tragédia que, até o final da semana, terá 10 mil corpos a testemunhar o seu cinismo.

Letalidade por Covid-19 no Rio
está acima da média mundial

PH de Noronha, no Boletim Fiocruz

Em 26 de agosto, cinco meses e 22 dias após o registro do primeiro caso de um paciente infectado por Covid-19, o município do Rio de Janeiro apresentava uma das maiores taxas de letalidade não apenas do Brasil, mas do mundo: 10,7 %. Isso significa dizer que, na média, a cada nove pacientes infectados por Covid-19 na cidade, um vai morrer. Para efeito de comparação, a taxa de letalidade do Brasil é de apenas 3,7%, compatível com a taxa mundial, de 3,3%. Ou seja, a cidade do Rio de Janeiro está com um índice de infectados mortos quase três vezes maior do que as médias brasileira e mundial.

A taxa de letalidade representa a proporção de infectados que chega a óbito – ou seja, pacientes que morrem vítima da Covid-19, em relação ao total de infectados. Ela é um instrumento importante para o monitoramento e estudo de epidemias. Segundo o sanitarista Christovam Barcellos, vice-diretor do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), uma taxa muito alta é um forte indicador de duas situações: a subnotificação de casos pode estar muito alta e/ou o atendimento à saúde pode não estar dando conta do total de casos graves.

“Essa taxa carioca está muito acima de um valor aceitável. Ela pode ser fruto da soma dos dois fatores: a subnotificação, junto com a precarização do atendimento à saúde na esfera pública. A subnotificação é grande em vários estados e no Rio de Janeiro não é diferente. Sabemos de vários casos de pessoas que ficaram com medo de ir aos serviços de saúde e não entraram nas estatísticas. E o Rio não vem fazendo testes, a testagem não faz parte da política municipal de saúde. Por outro lado, acompanhamos pelo noticiário uma tentativa de desmonte do sistema de saúde pública do município nos últimos dois anos, e isso certamente afetou a atenção primária e de vigilância em saúde”, explica.

De acordo com dados disponíveis no sistema MonitoraCovid-19, o Rio de Janeiro é a capital brasileira com a maior taxa de letalidade. Comparando os números após 150 dias de epidemia em todas as capitais e no Distrito Federal, vemos que o Rio de Janeiro estava com 11,6%, muito acima da média das taxas de letalidade nas capitais, que é de cerca de 4%. Apenas três capitais estavam com a letalidade acima dos 7% no 150º dia de epidemia: Fortaleza (8,4%), Recife (7,7%) e Belém (7,2%). Em todo o mundo, a taxa de letalidade tendeu a cair ao longo da pandemia, tanto pelo aumento da capacidade de testagem, quanto pelo aperfeiçoamento de métodos de tratamento dos doentes graves.

Letalidade alta não apenas na capital

Na comparação com os estados (também no 150º dia de epidemia), observa-se que a letalidade no município do Rio está bem acima da média nacional. Com exceção dos estados de Rio de Janeiro (7,8%) e Pernambuco (6,6%), a letalidade nas demais unidades da Federação fica abaixo de 5% – ou seja, menos da metade da taxa da capital fluminense. No Estado de São Paulo, por exemplo, a letalidade era de 4,5% no 150º dia da epidemia.

No Estado do Rio de Janeiro, a taxa alta de 7,8% é puxada não apenas pelo município do Rio, mas também por outras cidades fluminenses importantes com letalidade bem alta e até maior do que a da capital – São João de Meriti (13,7%), Mesquita (13,6%), Nilópolis (13,5%), Petrópolis (11,5%), Nova Iguaçu (10,5%), Belford Roxo (9,5%) e Duque de Caxias (9,1%). No caso das cidades fluminenses, a taxa utilizada na comparação é a registrada no 130º dia, porque alguns municípios não chegaram ainda a 150 dias da epidemia. No 130º dia, o Rio de Janeiro tinha taxa de letalidade de 11,4%.

Outra comparação, usando como parâmetro os 20 países com maior incidência de Covid-19, mostra que o município do Rio está com uma taxa bem alta também em nível internacional. Apenas três nações – França (15,4%), Itália (14,5%) e Reino Unido (14,2%) – apresentam letalidade maior do que a do município do Rio no 150º dia da epidemia. A taxa da capital fluminense é pouco maior que a da Espanha (11,4%), que ainda está sob forte pressão da epidemia, e é mais do que o dobro da letalidade de países como Estados Unidos (5,4%), Irã (5,1%), Alemanha (4,6%) e Índia (3,0%).

A taxa de letalidade do município do Rio de Janeiro teve seu pico em 19 de maio, com dois meses e meio de epidemia, quando chegou a 14,7%. De lá para cá, registrou uma queda brusca ainda em 22 de maio, para 12,5%, e somente em 16 de junho ficou abaixo dos 12,0%. De lá para cá, manteve-se estacionada na faixa entre 11% e 12% e em 15 de agosto baixou um pouco, passando a oscilar um pouco abaixo de 11%.

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