Os açougueiros do funcionalismo

Só não é pior porque os próprios autores do “estudo” do Ipea encarregam-se de dizer, na introdução que não tem certeza do que dizem.

“os cenários aqui apresentados devem ser vistos como exploratórios, por vários motivos. Primeiro, há grande incerteza sobre a parametrização adequada dos modelos de simulação utilizados. Segundo, os dados para alguns entes federativos são precários, dificultando a construção e a validação de cenários. Terceiro, a efetivação dos cenários apresentados depende de um conjunto amplo e incerto de condicionantes econômicas, políticas e legais.”

Como bons tecnocratas que são, porém, formulam um plano de “Redução drástica no funcionalismo [que] pode gerar economia de quase R$ 2 trilhões em 20 anos“, que virou destaque na Folha, sempre dentro daquela “onda” neoliberal de que servidor público é uma inutilidade. Nem mesmo o heroísmo de médicos, enfermeiras, auxiliares e do pessoal hospitalar na pandemia fez esta gente ver que, na saúde, na educação e em tantas outras coisas mais o que o povo brasileiro tem, e o tem precariamente, são os serviços públicos.

A “descoberta da pólvora” funciona assim: congela-se os salários linearmente, sem nenhum diferença entre quem ganha 30 mil e quem ganha mil reais. Da mesma forma, reduz-se a 30% o salário inicial das carreiras e estica-se para a vida inteira o prazo necessário para chegar ao topo das promoções. É claro que isso só vai valer para os médicos, para os professores e para os barnabés, Porque “suas excelências”, juízes e promotores, não vão começar seus “data vênia” por R$ 9 mil mensais. Idem as carreiras jurídicas, fiscais, etc e muitos etcéteras mais , inclusive os “com mandato”.

Aliás, para os bagrinhos, a proposta é dobrar a carga do lombo, reduzindo à metade à reposição de pessoal de nível médico, à medida em que forem vagando por demissão, aposentadoria ou morte.

Não me estendo mais sobre a análise dos açougueiros do funcionalismo, mas chamo a atenção para o fato de, no governo Bolsonaro, o Ipea ter se tornado um caldeirão de maldades contra seres humanos, e não só os servidores, mas os que se espicham em filas nos hospitais e na previdência, à espera de que se dignem a reconhecer seu direito à vida.

 

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